Yorranna Oliveira

Achei a imagem aí de cima pesquisando no Google. E ela define perfeitamente um pouco do que eu sou e da proposta do blog: tem de tudo um pouco, e um pouco de quase tudo o que gosto. Aqui você vai encontrar sempre um papo sobre música, cinema, comunicação, literatura, jornalismo, meio ambiente, tecnologia e qualquer outra coisa capaz de me despertar algo e a vontade de compartilhar com vocês. Entrem e divirtam-se!

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Tribos musicais festejam a virada do ano em Belém

Roqueiros, bregueiros, fãs de forró, tecno, pagode, samba, música regional. Não importa o estilo, Belém convida suas tribos para passar a virada do ano em ritmo de alegria e muita festa. A programação da cidade cabe no bolso, com eventos gratuitos e agrada a todos os gostos, nas variadas atrações musicais que se estendem pela capital e interior do anoitecer ao nascer do sol.

No Hangar – Centro de Convenções e Feiras da Amazônia – o romantismo da banda Roupa Nova serve de trilha sonora para os casais apaixonados entrarem em 2009 , trocando por quase duas horas juras de amor, através de canções como “Anjo”, “Seguindo o trem azul”, “Chuva de Prata” . Além das composições autorais, o Roupa traz no repertório homenagens aos grupos de pop-rock de sucesso em todos os tempos. Caso de Sweet Child O’mine (Guns and Roses), Have you ever seen the rain (Creedence Clearwater Revival), Stayin Alive (Bee Gees),Twist and Shout (The Beatles), Another brick in the wall (Pink Floyd),Satisfaction (The Rolling Stones) e outros.

O sexteto composto por Feghali , Kiko, Paulinho, Serginho, Nando e Cleberson Horsth trará ao palco de Belém, o show Roupa Acústico, lançado em 2004 em CD e DVD. O título bateu recordes com 320 mil cópias de CD e 220 mil de DVD vendidos. Com 30 anos de estrada, o Roupa abre o Réveillon do Hangar.

Na seqüência, os mais de 20 músicos e passistas da Escola de Samba da Beija-Flor comandam a festa, ao som de cavacos, pandeiros da bateria da escola campeã do Carnaval Carioca de 2008. O Feliz 2009 do Centro de Convenções começa a partir das 22h. Os ingressos para mesas promocionais custam R$ 250, com direito a buffet, água, refrigerante e cerveja. Informações: 3344-0100.

Mistura
Outra pedida para os românticos de plantão é o show de Elymar Santos, no Salão de Festas, da Assembléia Paraense, cantando melodias arrasadores de corações nos 80 ,90 e 2000. Mas, se a idéia é virar o ano de forma agitada, a AP conta com espaços temáticos variados. Marquinho e banda Violeta, bandas “No Stop”, “Making Off”, e os Djs Paulinho Fidalgo e Alfredo Abtibol dão o tom eclético da programação. Nem a criançada ficou de fora, a Estação da Alegria terá brincadeiras e animações direcionadas aos pequenos.

“Temos vários ambientes a oferecer, como o Salão de Festas refrigerado com buffet completo, a Boate Aquarius, o Restaurante Central, o Deck da piscina, a Arena Toc-Toc e a Dona Pizza, proporcionando, assim, diversas opções ao nosso sócio e sua família. E quem desejar um réveillon mais intimista terá à sua disposição um buffet especial no restaurante Le Panoramique”, destaca o presidente da AP, André Sobrinho.

O Réveillon AP. Inicia a partir das 21h, na sede campestre, localizada na avenida Almirante Barroso. Informações pelo telefone 3181-9908.


“Rockada” e comida

Aos seguidores do bom e velho e novo rock´n´roll e suas vertentes, a Se Rasgum Produciones transforma a recém inaugurada boate Sarajevo num templo aos acordes das guitarras. A banda Mojo fará tributo aos deuses do rock com versões dos clássicos dos anos 70, como Bob Dylan, Rolling Stones, David Bowie e The Doors, ao lado das execuções dos DJs Eddie, Aloísio, Boy e Bina como convidados, além dos residentes Damaso e Marcel.

No entanto, antes das guitarras incendiarem a pista a Sarajevo, as marchinhas de Carnaval dominam o lugar. A alegria carnavalesca recebe os participantes para a queima de fogos na beira do rio, regada a muito champanhe.

E depois de desejar Feliz 2009, agradecer, fazer a lista de pedidos do novo ano, dançar, gritar e se esbaldar nas comemorações, a Se Rasgum ainda oferece caldo de tucupi e café da manhã com os mais variados tipos de tapioquinha. Tudo para os convidados voltarem ao lar com as energias renovadas e recuperadas para mais um ano de trabalho e muita badalação. Os ingressos até às 2h saem a R$ 15,00, depois desse horário sobem para R$ 20,00.

De graça e pago, basta escolher
Outra opção para quem vai ficar em Belém é o tradicional "Réveillon da Estação - A Festa da Nossa Gente".Em seu sexto ano, o réveillon da Estação das Docas espera 50 mil participantes. Organizada para ser uma festa bem familiar, estão no programa a tradicional queima de fogos, canhões de luz a laser e atrações musicais, para animar a passagem para 2009. Serão duas toneladas de fogos, a partir da meia-noite. Quem quiser uma mesa terá de pagar pelo menos R$ 70,00. Mesmo sem gastar será possível curtir os shows e o espetáculo do lado de fora.

A Prefeitura Municipal de Belém e Agência Distrital de Icoaraci promovem, ainda, o réveillon na orla de Icoaraci, uma festa com direto a queima de fogos e atrações locais, inteiramente de graça.

A animação também tem vaga garantida na casa de shows African Bar, com arena para seis mil pessoas, boate e dois palco, o pagode sonoriza a festa da virada. As atrações são Nosso Tom, Cabanagem, Dejavu, Los Curicas, DJ Culatra e DJ Love.

Os forrozeiros e bregueiros de Belém se encontram no “Réveillon das Estrelas”, com a banda Solteirões do Forró e a aparelhagem do Super Pop, na arena do Cidade Folia.

Agora, se a família prefere ficar unida nos festejos,uma opção é o réveillon do Gold Mar Hotel, onde a bateria do “Rancho não posso me amofinar” e Banda Rekinte (Orlando Pereira) garantem um espetáculo produzido à beira do rio. O Gold Mar ainda oferece hospedagem, passeio pela orla, buffet completo, champagne e café da manhã.


Inteiror do estado em clima de Ano Novo
Nem mesmo as chuvas freqüentes que caem no Pará no mês de dezembro desanimam os belenenses que escolhem as praias do interior do Estado para brindar o início do ano novo. Salinas, Algodoal, Marudá, Soure, Santarém e Mosqueiro, estão entre os destinos mais procurados para as festas de final de ano.

Em Salinas, famílias se reúnem na orla do Maçarico para comemorar a chegada do ano novo, com direito a queima de fogos. Na praia do Atalia, muitas pessoas também se reúnem para esperar o ano novo. Muitas boates e bares de Belém alugam barracas na praia e promovem festas com bandas e Djs, que duram até o amanhecer do dia primeiro de janeiro. As boates Deja Vú e Barcelona prometem uma grande festa na virada do ano.

O município se prepara desde o começo de dezembro para receber um grande número de visitantes para o ano novo, que já virou tradição em Salinas. A Companhia Paraense de Turismo (Paratur) organiza até o final do ano, atrações culturais nos fins de semana de dezembro, na praça de alimentação da orla do Maçarico. Entre os principais objetivos estão a integração social do município, fomento e fortalecimento dos movimentos culturais, geração de emprego e renda, além de incentivar e desenvolver os grupos folclóricos locais. Contando com um fluxo intenso de moradores e visitantes no período de dezembro, em busca de lazer, praia e entretenimento, a orla do Maçarico é considerada o local ideal para a promoção de eventos que venham fortalecer os aspectos sócio-culturais na região.

Buscando ofertar qualidade nos serviços turísticos, a Paratur promoveu cursos de capacitação junto aos trabalhadores ligados direta e indiretamente à cadeia produtiva do turismo, tais como Marketing Pessoal, Gestão de Micro e Pequenas Empresas, Manipulação de Alimentos, Capacitação de Empreendedores e Mão-de-Obra, entre outros.

Algodoal, uma ilha localizada na região do salgado e muito procurada no período do ano novo, oferece uma programação mais rústica. Muito reggae, pop rock e carimbó prometem animar a virada do ano novo dos turistas que escolheram a ilha como destino para o réveillon. No bar Lua Cheia a programação inclui a banda Yeman Jah, No Break, o lançamento do CD de Daveson Romero e o DJ Silvinho Pedra do Maranhão.

Em Marapanim, a Prefeitura Municipal e a Secretaria de Turismo e Cultura do Pará promovem o réveillon do atlântico, na orla de Marudá. A festa promete reunir um grande número de famílias para comemorar a vidada do ano e apreciar a queima de fogos na praia.

Já em Soure, município da ilha do Marajó, a Prefeitura Municipal e a Secretaria Municipal de Turismo também prometem uma programação cultural para celebrar a chegada do ano novo. O réveillon de Soure vai acontecer no trapiche municipal da cidade. (Colaboração: Renata Reis)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Música Solidária


Foto: Érika Nunes

Os braços que se movimentam para tocar os ritmos da Amazônia, também servem para celebrar e ajudar a quem precisa. Nesta segunda-feira (29), o Trio Manari realiza o show “Braços que abraçam”, em comemoração aos sete anos do grupo. No evento, os músicos vão arrecadar alimentos, brinquedos e agasalhos (trocados pelo ingresso), destinados às vítimas das enchentes de Santa Catarina, além de instituições beneficentes dos bairros da Terra Firme e Guamá, em Belém. A festa começa às 20h, no Teatro Experimental Waldemar Henrique.

“Há três anos já fazemos shows com esse viés. A vontade de fazer o bem ao próximo se junta com o que nós sabemos fazer, que é a música e dessa forma cantamos, tocamos e ajudamos aos outros”, diz um dos integrantes do trio, Kleber.

Kleber Benigno, Márcio Jardim e Nazaco Gomes, o Trio Manari sempre foram apaixonados pelo mundo musical. No final da década de 90 integravam o grupo Percussão Brasil, do Conservatório Carlos Gomes, e numa viagem ao Canadá tiveram a famosa “luz reveladora”. “Fomos até lá e começamos a tocar samba, maracatu, e os gringos adoraram. Mas, quando começamos com carimbó e outros ritmos amazônicos eles foram à loucura. Voltamos com essa idéia na cabeça: montar um grupo que mostrasse para o mundo a musicalidade da nossa Amazônia”, explica Kleber.

Com a missão de apresentar a sonoridade produzida na Amazônia para o Brasil e todos os cantos do planeta , nascia a trupe, que leva as iniciais dos nomes de seus componentes: o Ma de Márcio, o Na de Nazaco e Ri de Paturi (apelido de Kleber). Cada música retrata a identidade produzida pelo grupo. Ao tocarem os instrumentos de percussão, os músicos inserem elementos próprios nas composições. O curimbó (espécie de tambor) ganha a companhia de latas e todo e qualquer elemento que a criatividade transforme em som. O resultado é uma sonoridade capaz de conduzir o ouvinte a verdadeiras viagens musicais e fazê-lo se sentir em plena floresta.

No show desta segunda-feira, o Trio preparou uma apresentação especial para o público. Segundo o produtor do grupo, no meio do espetáculo a música amazônica se unirá a africana, através dos instrumentos dispostos no palco. “Na música Cabu, vamos homenagear um negro africano que nos presenteou com a percussão de sua terra,como o 'cabaco' e o tambor d'água fizemos uma música pra ele, que tem seus nome. Outra música que remeterá a essa fusão é 'Boto do Marajó', onde nossos instrumentos, vindos de Cachoeira do Arari se juntam a outros da África. Uma marca de nossa influências musicais e culturais”, ressalta Fabrício Lobo.

Andanças
Nesse sete anos de musicalidade correndo na veia, os paraenses, genuínos e de coração ( Márcio nasceu no Maranhão, mas aos três dias de vida fincou raízes na Cidade das Mangueiras), percorreram terras próximas e distantes, sempre no intuito de promover a música feita na região. Portugal, Canadá, Estados Unidos, México, França, África do Sul e Austrália prestigiaram o som característico do Trio, por meio das viagens sem qualquer patrocínio realizadas pelos artistas. “Viajamos com muito esforço e força de vontade. Tudo em nome da música. Esse ano fomos duas vezes à França. O Manari não toca carimbó ou uma coisa e outra, ele se inspira nos vários ritmos da Amazônia para chegar a algo seu. Nas nossas viagens passamos isso. ”, afirma Fabrício Lobo.

No decorrer de sua trajetória musical, o grupo lançou em 2003 o CD “Braços da Amazônia”, com nove composições inéditas e a participação de Fafá de Belém. Em 2007, o Trio Manari gravou seu primeiro DVD, no palco do Teatro da Paz, onde os músicos se encontraram com o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos. Intitulado “Encontro de Tambores”, o DVD ainda não tem data de lançamento.
Responsabilidade
Em agosto de 2009, a trupe embarca para Porto Rico, onde irá participar do Festival Internacional de Percussão. Lá além das apresentações, os músicos ministrarão oficinas aos diversos participantes do festival. Gente do mundo todo aprendendo o jeito amazônico de fazer música.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Homem morre eletrocutado em Belém

Foto: Wagner Santana


Rosivaldo Sena de Melo, 65 anos, consertava o telhado de sua casa, quando sofreu uma descarga elétrica, após encostar a flange de uma telha no fio da rede de alta tensão. O acidente aconteceu na manhã de ontem, na rua Domingos Marreiros, esquina com a 14 de março. Rosivaldo não resistiu aos ferimentos e morreu.

A irmã da vítima, Adeli Sena de Melo, estava em prantos. Ao lado do filho, folheava uma agenda telefônica na tentativa de localizar amigos e parentes para informá-los da tragédia. Inconsolável, Adeli, relembrava das últimas horas com o irmão.

“Eu tomei café com ele. Depois, ele saiu e foi buscar a flange para colocar no telhado. Nem vi quando ele saiu. Foi tudo muito rápido.”, disse.

Fios de energia elétrica dominam o telhado da casa -uma residência humilde, de forro baixo. É preciso, por exemplo, se abaixar para entrar no local. Na fachada, um outdoor cobre a visão do telhado. Na parte superior, o espeço apertado dificultava a remoção do corpo.

Adeli Sena chamava o tempo todo pelo irmão. Clamava a ajuda de Deus para lhe dar conforto diante da situação. “ Ai meu Deus, me dê forças senhor. Meu irmão, como pode ter acontecido uma coisa dessa. Ele saiu para pegar essa telha, veio com um colega. Na hora que o colega passava a telha, ele pegou e a telha pegou no fio. Só vi o barulho e o cara todo ensagüentado aqui, porque a flande da telha caiu na cabeça dele. Acudi ele,e até pensei que o Rosivaldo estava se escondendo, porque procuramos por ele e não achamos. Enquanto socorria um, depois fui ver meu irmão morto lá em cima. Só Jesus ressuscita ele”, relatava a mulher.

Casa Maldiçoada
O 190 foi acionado. Mas, Rosivaldo não resistiu a força da descarga elétrica. O outro ferido, que teve a cabeça atingida, foi levado para o PSM da 14 de março. Ele não corre risco de morte.

Uma equipe do Corpo de Bombeiros Militar de Belém aguardava a chegada de peritos do Instituto Médico Legal (IML) para remover o corpo e já avaliava a situação. “O local é estreito e tem muito fio. Agora vamos esperar o IML para poder retirar o corpo”, disse o tenente Fabrício.

Vários vizinhos vieram prestar solidariedade à família. Maria de Fátima, 49 anos, amiga de Adeli preocupava-se com o futuro dos Sena de Melo. “Só o Rosilvado por eles. Esse sobrinho era tudo pra ele. Não é á toa que o menino está que não se agüenta. Essa casa é amaldiçoada, quase todos da família morreram aqui. A mãe, o pai”.

Rosivaldo fazia bicos e vendia cartão de créditos telefônicos para assegurar o sustento da irmã e sobrinho. O choque da perda, poderá unir os demais membros da família, separados pela distância - um deles mora em Manaus – e por dificuldades da vida.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Um tributo ao mestre dos palcos *

Amante da vida e das artes, que fez do teatro sua grande paixão. Assim era o teatrólogo, poeta e escritor, Ramon Stergmann, falecido na noite do último domingo (23), de falência múltipla dos órgãos, em Belém. Autor de inúmeras obras, fundou, ao lado de Walter Lima, o Grupo Teatral Maromba, e se tornou referência na cena artística paraense, pela maneira característica de encarar e construir seus trabalhos. Por ele, passaram gerações de atores, hoje reconhecidos e sucesso de crítica. Todos forjados pelo lema guia: disciplina, seriedade e profissionalismo.

Nomes como Wlad Lima, Alcir Santos, o aluno e amigo Walter Lima, entre outros. Testemunhas do artista inventivo e dedicado, aprenderam com ele as técnicas da encenação. Ramon dominava como poucos os palcos. Atuava, dirigia, escrevia, roteirizava, concebia cenário e figurino. Pensava em cada detalhe das cenas. E procurava formar atores completos. Para ele, um bom ator não deveria apenas saber o texto na ponta da língua. Stergmann queria emoção, densidade, amor e alma no palco. Sempre dizia: “Não quero ator mercenário, que procura no teatro brilho e dinheiro. Quero uma pessoa humana, na busca de fazer a arte pela arte”.

Desde criança já demonstrava interesse pelo mundo das artes. Adorava desenhar e brincar de teatrinho. Aos 13 anos deu os primeiros passos na dramaturgia, quando começou a escrever poemas e contos sobre os hábitos e costumes amazônicos, temática predominante durante os 50 anos de carreira, dos quais 37 foram vividos como membro do Grupo Maromba.

Ainda na adolescência integrou o Teatro Operário do Sesi, sob direção de Claúdio Barradas, de onde iniciaria sua participação no movimento artístico local, para nunca mais abandoná-lo.


Premiado tanto no teatro como na literatura, também tinha talento nas artes plásticas. Pintava quadros e telas, se utilizando de diversos materiais. “Se pudesse virar arte, lá estava ele. O Ramon era multiuso. Eu costumava chamá-lo de bombril, servia para tudo, fazia tudo”, relembra a filha, Izabel Baia.

Chamado de mestre pelos alunos-discípulos, a dedicação do diretor o levou a transformar a casa num espaço quase, inteiramente, voltado para o teatro. A sala ampla e arejada, com dois grandes sofás, servia de local de ensaio. Um templo sagrado, onde o ator recebia de braços abertos amigos e pupilos.

Na intimidade
Há quadros por todo lugar, cada cantinho da casa parece respirar a paixão de Stergmann. Num dos quartos da residência, quando se entra, logo nos deparamos com uma parede repleta de diplomas, certificados e homenagens. Duas grandes estantes comportam documentos, álbuns de fotos, troféus, premiações, arquivos de contos, poemas, roteiros, projetos, muitos projetos.

Outra estante com as premiações e homenagens ao escritor decora uma das poucas paredes sem imagens. Em uma mesa, mais álbuns e a velha máquina de escrever, da qual saíram todas as criações do dramaturgo. Em outras duas paredes, que formam um pequeno corredor dentro do quarto, dezenas de fotografias de espetáculos, de fases da vida do autor, como a da cerimônia na qual se tornou membro da Academia Paraense Literária Interiorana, ocupando a cadeira nº 07, tendo como patrono Antônio Tavernard.

Nesse ambiente íntimo, vivia com a filha de coração, Isabel - seis anos cuidando do artista. Não teve filhos biológicos. De pai e mãe já mortos, tinha remoto contato com outros parentes. No entanto, adotou como filhos seus discípulos. Eles sempre estavam pela casa, ajudando, pedindo conselhos, ouvindo Ângela Maria - cantora preferida de Ramon -, ou assistindo com ele o programa Mulheres. “Ele não perdia nenhum programa. Porque tem uma parte sobre pintura. Ele adorava. Chegava até a me ligar, pra saber se eu estava vendo a 'aula'”, conta Andreza Pinto, há 10 anos no Maromba.

Outro filho de Stergmann é o também ator Edinelson Monteiro, 32 anos. Edinelson conheceu Ramon há 14 anos, durante as apresentações do diretor no interior do Estado, e desde então participa das montagens. Caso da peça “A Mercadora de Almas”, encenada em 2007, no Teatro Maria Sylvia Nunes, projeto vencedor do Prêmio Maria Muniz de Teatro. Ao definir o mestre, ele pára, baixa a cabeça, engole o início de um choro e fala: Ele era o nosso pai. Um homem de grande autoridade e inteligência”.

Ao lado dele, Isabel e Andreza tentam medir em palavras o valor da experiência de o terem conhecido. Andreza, com lágrimas nos olhos, procura a frase ideal. “Ele sabia cativar as pessoas, era muito alegre e tinha muita vontade de viver. Isso ficará guardado”, afirma. Na visão de Isabel Baia, o poeta representa sua fonte inspiração em qualquer momento. “Ramon é meu exemplo de vida, meu mestre, meu pai, meu amigo. Brincalhão que só ele, sempre vou lembrar dele e da minha filha na mesa fazendo palhaçada. Vou lembrar de uma eterna criança”, completa.


De amar
Walter Lima, músico, ator e escritor, também lembra com carinho e respeito o amigo de longa data. Walter foi um dos últimos amigos a ver em vida o diretor. “Comecei com ele, como contra-regra. Aprendi os rudimentos do teatro e tudo o que sei com ele. É uma pena perdermos alguém assim. Mas, ele conseguiu se despedir. No domingo, me chamou até a casa dele para discutirmos os detalhes de nossa viagem para Bujarú, que seria agora [a partir do dia 29 de novembro]. Almoçamos, ele me colocou para sentar na cabeceira da mesa. Achei esse gesto muito tocante. Me emocionou, ainda mais agora. Tiramos fotos nesse dia, celebramos o momento. Bebemos, rimos, todos juntos. Voltei pra casa e logo depois, a Isabel me ligou dizendo que ele estava morto. Pensei que era brincadeira, mas pra minha tristeza, não”, conta.

Os amigos tinham um laço de amizade tão forte, que mesmo depois de Lima ter se distanciado do Maromba, por envolver-se em outros projetos mais ligados à área musical, ambos continuaram a manter união. Em setembro de 2005, Stergmann escreveu um poema ao colega, intitulado “Viola da Lua Cheia”. Num dos trechos mais comoventes, o poeta demonstra o amor fraternal dos dois.

“Ei mano! Toca mais esta música deste chão que nos marcou:
esse menino que tá na roda é de amar. De amar sem morrer de amor!...”


Memória
Paulo Santana, ator e diretor do Grupo Palha, produziu um vídeo em homenagem a Carlos Alberto Ferreira Bitencourt, o Ramon Stergmann – nome artístico, herdado do avô de quem emprestou o sobrenome, de origem alemã. Paulo tomou a iniciativa após perceber a falta de arquivos sobre o teatrólogo e outros personagens importantes do Pará. O título do documentário leva o nome do homenageado. Segundo Santana, o qual já realizou vários trabalhos em parceria com Stergmann, o documentário tem como proposta preservar a memória curta da cidade sobre personagens importantes. “Ramon escreveu para mim 'Tatu da Terra', um espetáculo com temática regional e muita poesia. Sou apaixonado por teatro com poesia. E isso, ele tinha de sobre”, destaca.

De grande conhecimento e domínio técnico, o artista repassava isso adiante. Quando atuava, mostrava força dramática, conquistando a atenção do público. As perfomances no palco distanciavam a pessoa humana de saúde frágil, afetada pela hanseníase e o diabetes. Com medicação controlada, as doenças não limitaram a capacidade criadora. Lições preservadas por Evanildo Mercês, 28 anos. Ator, Evanildo o teve como professor, na sua iniciação teatral, em meados de 1997. De acordo com Evanildo, o dramaturgo até hoje representa o referencial nos seus trabalhos. “Tínhamos uma relação de troca. A sabedoria e segurança dele me trouxeram muito crescimento. Foi fantástico ter trabalhado com ele. Tomara que agora o reconheçam. Já que, a maioria das pessoas talentosas só consegue isso depois de mortas. Agora, talvez vasculhem os tesouros do Ramon e descubram o talento dele”.

Constantemente na ativa, Ramon Stergmann havia encenado no início de novembro, no Teatro Maria Sylvia Nunes, o monólogo “Um buraco no quintal”, foi a saída de cena. Os integrantes do Maromba pretendem continuar o trabalho do grupo . Nos instantes finais de vida, ele só fez um pedido: “Não deixem minha obra morrer”.

*Texto antigo, publicado dia 30 de novembro no Jornal Público, onde trabalho.

Nascimento: 06/08/1943
Cursos Técnicos
Jornalismo
Literatura
Arte Dramática
Dramaturgia Infantil
Teatro Popular e Teatro de Pobre
Dramaturgia adulta
Artes Plásticas/Arte Pop Decorativa
Arte e Linguagem para Cinema e TV
Curso de Roteiro para Cinema e TV
Dramaturgia da Dança
Colagem/Reciclagem


Trabalhos Premiados:
Meu Berro Boi
Ver de (é escrito assim mesmo)Ver-o-peso (roteiro original foi escrito por ele,chegou a se chamar Meu saudoso Ver-o-peso)
Ao Toque do Berrante
By Byê Mara
Povo de Arribação
Boto de Tucuxi
O Mundo de Ernestino Góes
Esse lixão é Nosso e Urubu Não Leva
Um Buraco no Quintal
Cristos da Terra
Efemérides de Andrógeno
O Santo Espantalho
A Santa Senhora de Almas
Três Baratas Tontas


Formação Profissional:
Poeta
Escritor
Arte-Educador
Artista Plástico
Dramaturgo
Ator e Diretor de Teatro
Autor de Monografias
Arte Decorador Ambiental
Acadêmico de Letras da APLI(Academia Paraense Literária Interiorana)
Autor de obras ainda inéditas (conto e poesia)
Compositor/Letrista (nas horas vagas)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Serviço de saúde infeliz

Esfaqueamentos, traumatismos, infartos, coma alcoólico, baleamentos e outras tragédias fizeram parte do Natal, nada feliz, de muitos paraenses na manhã desta quinta-feira (25). Os pronto socorros da 14 de Março e Guamá tiveram de dar conta da procura por atendimento de pacientes que vinham da capital e do interior.

A mãe de Maria Benedita Tavares, dona Ilma Diniz, de 64 anos, veio de Limoeiro do Ajurú, onde sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), na manhã do dia 24 de dezembro. Dona Ilma foi levada ao hospital do município. Lá, segundo a família, o único enfermeiro de plantão atendeu a aposentada, sem no entanto poder resolver a situação. A vítima, completamente paralisada, ficou sob observação.

O resgate do Corpo de Bombeiros Militar de Belém, recebeu o chamado de emergência no mesmo dia, por volta das 18h30. Como os helicópteros do órgão só voam até às 18h, a aposentada só chegou à capital na manhã seguinte, às 11h, indo direto para o PSM da 14.

A filha e a nora aguardavam por notícias de dona Ilma do lado de fora do pronto socorro. Em prantos a filha Maria Benedita, rezava para a mãe ser atendida o mais rápido possível. “Ela entrou faz pouco tempo. Agora são 11h30 e queremos que ela seja logo atendida. Tomara que dê tudo certo”, pedia Maria.

“Meu marido está lá dentro e ficamos nos comunicando para saber se ela já foi atendida. Até agora nada. O pior é que eles(posto de saúde do Limoeiro) não mandaram nenhum encaminhamento o que dificulta mais as coisas e aumenta a demora no atendimento”, avaliava a nora de dona Ilma, Marisângela Pinheiro, ao falar no telefone com o marido.

Contudo, a notícia recebida era que precisariam voltar no dia seguinte, pois não havia especialista, no caso neurologista, para o problema de Ilma Diniz.

Nesse intervalo mais pacientes chegavam ao PSM da 14 de março. Minutos depois uma mãe desesperada saía de dentro do prédio. Ela gritava pelo filho e implorava passagem. Os parentes da mulher desconhecida tentavam acalmá-la. Logo após, funcionários da 14 vieram tranqüilizar a senhora “Ele estás bem. Só está ensangüentada, devido ao esfaqueamento, mas não corre mais perigo”, disse uma das enfermeiras. Nenhum dos parentes quis falar sobre o assunto ou se identificar à imprensa.

No posto do Guamá, o movimento era mais tranqüilo se comparado ao 14. Contudo, a falta de especialidades também dificultou o atendimento de pacientes como Lea Pinheiro, 33 anos. Lea chegou ao local depois de tentar em vão ser atendida na unidade da 14.

A família insistia no atendimento, sem sucesso, já que no local só havia médicos de clínica-geral e cirurgia. Mesmo tomada pela dor, ela não conseguiu entrar no PSM do Guamá. A enfermeira plantonista sugeriu o encaminhamento para o PSM da 14, no qual poderia haver médico para o caso de Lea. A autônoma se revoltou com a sugestão. Segundo ela, já teria tentado o local, mas foi sumariamente desrespeitada.

Lea andava de moto na manhã do dia 24 de dezembro com o padrasto, quando perdeu o controle do veículo e caiu. Os dois ficaram muito feridos. Ela teve várias fraturas e ferimentos pelo corpo. Ambos foram à unidade da 14 de março, entre 11h e 12h e só conseguiram “atendimento” no início da noite, enquanto o padrasto de Lea morria ao seu lado. Com a voz embargada, a mulher procurava forças para falar. “O médico não quis me atender, mandou a gente ir embora para outro lugar. O enfermeiro só bateu umas chapas e jogou no colo do meu marido, que se ele quisesse resolver alguma coisa que desse o jeito dele. Um residente que estava lá é que se compadeceu de mim e tentou me ajudar”, disse Pinheiro.

Ao sair da entrada do local, ela voltou a ressaltar sua realidade. “Se for pra ir ao da 14 prefiro morrer, porque é isso que vai acontecer, como aconteceu com meu padrasto”, frisou.

A Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) , divulgou nota, na qual admitia os problemas ocorridos no atendimento do Pronto Socorro da 14 de março e a procura acima do esperado. Mas a Sesma irá apurar os eventos, os quais contribuíram no congestionamento da unidade. A Sesma escalou para o feriado, só no PSM da 14 de Março, 166 médicos, 19 médicos por plantão, nas diversas especialidades, mais os profissionais de saúde, como maqueiros e enfermeiros.

Na próxima segunda-feira (29) será divulgado o balanço geral dos atendimentos nas unidades de urgência e emergência e PSM, além do Hospital de Mosqueiro.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Trabalho que se faz em grupo

Dezembro chega e o espírito natalino invade a cidade. Enfeites de Natal, ritmo acelerado de compras, pessoas ansiosas por confraternizar. Soma-se a isso, as programações especialmente montadas para época, como autos de Natal, contos Natalinos e a apresentação de corais. Nesse período, os grupos de coro espalham-se por Belém e encantam gente de todas as idades com as mensagens de paz, amor e alegria transmitidas nas canções.

Ao longo do ano, os Corais praticamente desaparecem da agenda cultural da cidade. Mas, basta o mês do Papai Noel e do nascimento do menino Jesus se aproximar para as vozes, sumidas da cena musical, destoaram pelos quatro cantos. A agenda vazia de uma hora para outra lota. Telefones tocam sem parar com pedidos e agendamentos de apresentação em todos os lugares imagináveis. Os ensaios do ano inteiro preparam o conjunto de vozes para fazer bonito diante do público, que comparece em peso para prestigiar.

Quem assiste aprova. Quem participa aprende, se envolve e se entrega à experiência de cantar em meio a tantas vozes. A cantora Simone Almeida, começou a carreira assim. Em 1983, influenciada pela irmã Graça Almeida, Simone começou a freqüentar os ensaios do coral da Escola Técnica Federal do Pará e não parou mais.

Esse primeiro contato foi o suficiente para a artista se apaixonar pela magia irradiada pelos coros. Tanto que até hoje sua vida se divide entre apresentações solo e coletivas. Há um ano, ela integra o Coro Municipal de Belém (COMBEL), da Secretaria Municipal de Administração (Semad), motivo de prazer e satisfação para a cantora.
“Cantar em coral é maravilhoso! Passamos a ter uma noção de coletividade e educamos nossa voz, além de fazermos muitos amigos. Sem contar as viagens, os encontros de corais pelo Brasil a fora. Quando você canta em coral o maior desafio é igualar as vozes do nipe para que soe como uma única voz. É como estar nas nuvens. Os corais são especiais e me remetem sempre aos anjos celestiais”, afirma Almeida.

Somado ao número de encontros, campeonatos e outros eventos, os Corais também lançam seus CDs e divulgam seus trabalhos. Nesse espaço, onde a união ganha destaque, cantar não tem idade. Como é o caso do Coro Infantil da Universidade da Amazônia. Criado em 1988, as crianças e adolescentes do grupo já lançaram três discos l. O último, “Minha terra, meu quintal", da série"De criança para criança", foi no dia 25 de novembro. O disco tem roteiro, regência e direção artística de Joelma Telles, músicas e trilha sonora de José Maria Bezerra; e os músicos Henrique Cirino, nos teclados e Rafael Barros, na percussão. Nele temas ligados ao meio ambiente são trazidos ao universo infantil, por meio dos seres de nosso folclore, como Curupira e outros.

Desenvolvido para estimular a criatividade e participação dos jovens, o coro procura formar crianças cidadãs, através da linguagens cênica e musical. Além disso, as questões amazônicas, como a preservação da fauna e flora da região sempre entram na didática do projeto. As crianças contribuem na escolha do repertório, e em cada etapa do processo de concepção das músicas cantadas, tanto nos eventos, como no CD.

A regente do coro, Joelma Telles cita os momentos da gravação do “Minha Terra” como exemplo do que é um trabalho coletivo. “Quando encenamos, além da voz e do corpo, temos iluminação, figurino e outras coisas que nos ajudam a levar o público ao universo da história, mas quando se trata de uma gravação, temos, além da trilha sonora, somente a voz para transmitirmos a mensagem e a emoção, uma atividade difícil até pra gente grande. Mas, nossas crianças tem grande sensibilidade em dar características a cada personagem, como por exemplo, o Curupira nervoso, a Iara tristonha, o Jabuti surfista, a sábia Mãe Natureza e muitos outros", conta a coordenadora.

Vitórias
O Coral Carlos Gomes é outro representante da importância musical dos grupos. Nascido no seio do Conservatório Carlos Gomes, o coro desde sua criação, em 1995, é regida pela maestrina cubana María Antonia Jímenez. Composta por professores e alunos do conservatório, a trupe viaja o Brasil e o mundo, mostrando os talentos da terra. O coro conquistou a medalha de ouro na V Olimpíada Mundial de Corais, realizada de 9 a 19 de julho, na Áustria. 93 países, 450 coros, 10 mil coralistas disputavam o primeiro lugar no pódio.

A medalha simboliza um feito inédito para o Pará e o Brasil. Principalmente depois da luta e força de vontade do grupo em seguir adiante, mesmo com os obstáculos. Luta que enche de orgulho o superintende da Fundação Carlos Gomes, Antonio Carlos Braga. Braga apoiou de todas as formas possíveis o coral. “Buscamos via Governo do Estado conseguir levá-los para competir e trazer essa vitória para nosso estado e nossa cidade. Graças a sensibilidade do governo tudo deu certo”, diz Antonio.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

A história escrita na pele


Foto: Divulagação

O corpo transmite as marcas cravadas pela vida. Ele retem em sua memória fragmentos de cada tragédia e alegria vividas. No corpo feminino esses elementos escancaram-se, por meio de uma sensibilidade à flor da pele. Percepção captada nas 18 imagens da exposição fotográfica “Mulheres”, aberta ao público no Instituto de Ciências da Arte (ICA), na Praça da República.

Inaugurada na última quarta-feira (18), “Mulheres” é o primeiro trabalho solo da fotógrafa paraense Tanha Gomes. Tanha mora há mais de 10 anos em Montreal, no Canadá, mas sempre retorna à terra natal. Numa das passagens por Belém participou das oficinas fotográficas da Associação Fotoativa e se encantou pela arte. Formada em Cinema e Comunicação no colégio de Dawson, Monteral, ela atualmente estuda História da Arte e Fotografia, na Faculdade de Belas Artes na Universidade de Concórdia, Canadá. Conhecimentos teóricos que lhe ajudaram a compor uma “fotografia instauradora” como define o poeta, escritor e professor de Estética, História da Arte e Cultura Amazônica da UfPa, João de Jesus Paes Loureiro.

A fotografia praticada por Tanha exibe a experiência da artista de 26 anos. Nas imagens o observador se depara com as visões de mundo, o conhecimento acumulado, os ideais, e principalmente com papel da mulher ao longo do tempo na poética apresentada pela artista.

“Mulheres” foi dividida em dois momentos. Num deles, integrando 10 fotos, Gomes mostra o lado feminino desnudo, transparente, visível e aberto aos olhos do espectador. Tanha permite a pronta leitura dos símbolos presentes nas fotos. Cada corpo revela traços de vidas nos mapas “tatuados” na pele. O primeiro impacto da imagem título da exposição, retrata um ser violentado pela condição histórica de inferioridade. O mapa que se forma no rosto da modelo transmuta-se em machucados, como se descrevessem ao visitante o resultado do eterno espancamento feminino. Nas oito imagens restantes, as mulheres tornam-se “invisíveis”, fechadas e enclausuradas nas prisões socais. Uma sensação de sufocamento e claustrofobia impregna o lugar. As mulheres dos quadros lutam pela fuga e libertação dessa condição. As cores fortes do vermelho, laranja, rosa choque e azul usados no ensaio fotográfico quase saltam à tela. Como se através das imagens gritassem por socorro.

Sob o foco da lente de Tanha perpassam suas reflexões da existência humana, as diferenças culturais entre Canadá e Brasil. Entre o homem e a mulher, entre os seres em si. “Busquei nessa diferença cultural as manifestações de preconceito que é muito forte no Canadá. A forma como a mulher vem sendo tratada desde os primórdios da humanidade. Não importa o lugar, ele sempre existe. Fui na mulher, porque essa é a minha condição, então eu posso falar. Os mapas também representam os locais que passei, minhas viagens, minha experiência acumulada para falar sobre a minha forma de pensar sobre a condição da mulher ontem e hoje”, explica.

Sempre ligada à cidade, Tanha Gomes não pensou duas vezes quando surgiu a oportunidade de voltar a capital paraense. “Tenho uma relação muito forte com Belém. Ela tem participação intensa no meu trabalho, na minha inspiração, em tudo. Toda vez que posso estar aqui, venho. Dessa vez queria trazer algo meu pra cá”, diz.

“Mulheres” fica em exposição até 6 de janeiro. Logo após Gomes retorna ao Canadá, onde pretende continuar seus clics e exibir o atual o trabalho. Iniciado em 2007, depois de muitos instantes captados Tanha pôs fim nessa etapa e resolveu seguir adiante na montagem do trabalho. “Em meados de setembro e outubro desse ano achei que já estava na hora de partir para outra coisa. Por isso precisava terminar. Escolhi só duas modelos, porque achei suficiente para representar o que eu queria. Inclusive uma delas é uma grande amiga minha. Ela entendeu perfeitamente a idéia, a mensagem a ser passada, e isso é fundamental”, ressalta.

Construída por ligações e amizades, a mostra traduz a relação intimista entre Tanha, Belém e seus laços com a região e os moradores daqui. Relação passada, por exemplo, no texto elaborado por João de Jesus Paes Loureiro para a obra da artista. “Sou amiga e fã do Paes Loureiro há muito tempo. Fiquei feliz em saber que ele escreveria o texto para a exposição. A curadoria foi feita pela Margaret Refkalefsky que trabalha no Instituto de Ciências da Arte e pelo Cézar Machado, arquiteto, ambos atores e diretores de teatro. Já a iluminação foi realizada pela professora Iara Souza, da Escola de Teatro da UFPA”, destaca Tanha Gomes.

Desde o começo da mostra 180 pessoas conferiram o trabalho da fotógrafa. Gente do Brasil e do exterior deixaram suas impressões e elogios à exposição. Frases como “é de uma delicadeza comovente” encontram-se no livro de registros do lugar. A Espanha registrou sua opinião. Um turista espanhol resumia Mulheres com a seguinte palavra: “Fantástica!”.

Serviço: Exposição “Mulheres”, de Tanha Gomes. Aberta de terça a domingo. Entrada franca.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Mundé de Icoaraci. Mundé do Mundo

Música autoral e independente, que recombina a riqueza dos ritmos amazônicos, a partir do batuque do curimbó (instrumento que produz sons), com outras referências musicais, como o rock e o reggae. Essa diversidade sonora é o Grupo Mundé Qultural. Nascido, em junho de 2003, da união de ex-integrantes do Grupo Curuperé, durante rodas de carimbó e ensaios no Espaço Cultural “Coisas de Negro”, em Icoaraci. Com a proposta de experimentar uma forma diferente de se fazer música na Amazônia, levando o resultado dessa sonoridade para o mundo.

Mundé vem do tupi e significa lugar; fartura; armadilha; cair no mundé; mundéu. O nome representa a intenção de valorizar a cultura local, e mostrá-la não só na Vila Sorriso, mas em todos os cantos do planeta. É o Mundé de Icoaraci para o Mundo.

Esse “Mundiar” como define Nego Ray, fundador do grupo, chegou à Barcelona e Londres. As rádios dessas cidades tocam as canções inspiradas nos experimentos sonoros do carimbó, lundum, retumbão, guitarradas, batuques, rock, reggae, entre outros estilos. “Mundé é mundiar o nosso som, conquistar as pessoas com ele, fazer com que todos o conheçam, e se encantem”, explica.

As músicas compostas, em sua maioria por Nego Ray, retratam o universo da floresta, através de letras e efeitos sonoros, que remetem o público às histórias cantadas nas mais de 20 canções produzidas ao longo de sua trajetória. Dessas, seis foram reunidas num CD, com mais de 200 cópias, lançado de forma independente, em 2005.

Nos cinco anos de existência, o grupo formado por Jorge Furtado (guitarra/voz), Nego Ray (curimbó/voz), Clever dos Santos (efeitos/voz), Luizinho Albuquerque (banjo/bandolim), Welton Ferreira (percussão), Ney Lima (percussão), e André Zumbi (baixo/voz), acumula participações em importantes eventos. Como o Festival de Algodoal, em 2005; III Mostra Distrital de Cultura, em Icoaraci, 2003, I Encontro dos Artistas, na Fundação Cultural Tancredo Neves - Centur, 2004; Congresso Regional de Ciências da Comunicação- Intercom, na Estação das Docas, 2007. E a apresentação no programa Cena Musical, da TV Cultura, ano passado, e no Teatro Experimental Waldemar Henrique, templo do rock nos anos 80, no Festa na Cidade .

Além da valorização e resistência cultural, acompanha o grupo, a preocupação social. Músicos como Luizinho e Ray, promovem no interior do Estado, oficinas, nas quais ensinam crianças e adolescentes, em situação de risco a confeccionarem e tocarem instrumentos de percussão. Uma forma de garantir a esses jovens o acesso à cultura e à cidadania.

O Mundé se apresenta todos os domingos, no “Coisas de Negro”, sua sede, na qual o público constituído, principalmente por universitários, moradores próximos do espaço, pessoas de todas as idades, num encontro de gerações, se reúnem para dançar e manter vivos os valores culturais da região. “O Coisas é a nossa grande vitrine, muitos convites para tocar nos lugares surgiram de pessoas que nos viram lá. E por ter um público tão variado isso serve para provar, que a nossa música não é só de velho, é de jovem também”, afirma Clever dos Santos.

A sede do Grupo Mundé Qultural fica no Espaço Cultural Coisas de Negro em Icoaraci, localizado na Tv. Cristóvão Colombo,1081.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Jornalista ganha sonhos todo dia....

Eu sou apaixonada pela minha profissão. Tudo bem, muitos podem dizer que sou louca! Escolher jornalismo é burrice. Afinal, ganha-se pouco e trabalha-se muuuuito. Mas, sinceramente, quando saio para fazer uma pauta e me deparo com personagens capazes de mudar algo dentro de mim, lembro da frase do Kotscho “Jornalismo é a arte de informar para se transformar”. Não passo um dia na redação sem novas descobertas e aprendizados. Hoje entrevistei o Diretor de Extensão da Fundação Curro Velho(FCV). O assunto era os 18 anos de atividades culturais da insituição no Estado do Pará.

Inteligente, sensível, ele descrevia a história do lugar, o processo de construção dessa usina criativa, onde a educação e cidadania se fazem com arte. O entrevistado falava de arte com tanto amor e paixão mesmo, sabe?! Me fez gostar ainda mais do tema e do próprio Curro Velho. Senti uma pontinha de inveja dele. Até confessei: “Deve ser maravilhoso trabalhar aqui”. Ele concordou.

Você entra na fundação e já se depara com os trabalhos desenvolvidos pelos alunos das oficinas de iniciação artística do local. Tem exemplar para todos os gostos. As paredes tomadas por gravuras feitas nas oficinas de grafitagem. Nesta quarta-feira (17) havia uma exposição com elementos das linguagens estéticas utilizadas lá. Materiais de papel reciclado, fotografias do cotidiano dos povos da Amazônia, trabalhos em tecelagem, a lista é quase interminável....Eu parecia transportada ao universo mágico da arte.

O Curro faz a gente lembrar como Belém produz cultura, em todos os sentidos. Belém respira cultura. Depois de percorrer quase todos os lugares da FCV, na porta, quando eu já ia embora (feliz por ir almoçar, apesar do horário:16h), vi um senhor vendendo artesanato e instrumentos de percussão. Não resisti e parei para conversar com ele. Perguntei o preço das pulseiras e colares - confeccionados a partir das sementes de açaí-, seu nome e o que era aquele instrumento desconhecido para mim. Ele respondeu caxixi. A conversa foi se desenrolando e quando percebi, o Mestre Bezerra (como descobri depois) tinha virado personagem de minha matéria.

Sua trajetória de vida, quando saiu do Maranhão, nos 70 e chegou à Belém com a família e iniciou uma trajetória de lutas e conquistas. Nos poucos minutos de conversa com aquele senhor de setenta e poucos anos, vi como o jornalismo despertava em mim a vontade de ouvir o que os outros anseiam tanto contar.

O jormalismo é uma experiência única, não!?

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Resposta ao segundo comentário

Convites para participar da Semana foram feitos. Não participei por questões óbvias, falta de tempo. Durante a semana trabalho em dois lugares, um é a Secretaria de Estado de Comunicação, e o outro é a Secretaria Municipal de Esporte, Juventude e Lazer (Sejel) e à noite estudo. Meus finais de semana, também, são atribulados. No sábado, participo do projeto de educomunicação da Revista Viração, um projeto apoiado pela Unesco e pelo Unicef, feito por e para jovens protagonistas em comunicação. Se eu tivesse tempo, com certeza participaria e ajudaria.

Você se equivocou profudamente na interpretação do meu comentário. Para uma estudante da área, isso é péssimo sinal.Não estou dizendo que sou perfeita, maravilhosa, o grande cérebro pensante. Minha postura é de quem vai a um evento e faz a sua análise, e tira suas conclusões. Jornalista, ou estudante de jornalismo é formador de opinião, critica, tira suas conclusões etc. Jamais vou deixar de comentar minhas impressões sobre qualquer assunto. Isso é liberdade de expressão, assegurada por um dos incisos do artigo 5º da Constituição Federal.

Problemas existem sim, só que alguns são imperdoáveis, vide o caso LFP. E se eu fosse criticada pela Semana, eu acataria as críticas, como sempre faço e fiz em tudo na minha vida, e procuraria melhorar.

A Feapa, de fato, tem uma Semana lamentável, e já fiz essa mesma crítica à organização. A faculdade precisa melhorar em muitas coisas, a começar pela cabeça de muitos de seus alunos. Alunos, os quais ainda não saíram da mentalidade provinciana do Ensino Médio, que não lutam por seus direitos, não fazem valer o dinheiro suado dos pais, entre outros infinitos pontos. Entretanto, começa nesse mesmo espaço acadêmico, um movimento de mudanças dessas estruturas, e novos cenários começam a se configurar.

Se as críticas incomodam, nada posso fazer. Dizem que jornalismo é isso, e quem pretende fazê-lo e quem escolheu esse caminho deve continuar em frente. Se incomoda, então a linha está correta. Afinal, verdades costumam, de fato, incomodar.
E mais uma vez, minha intenção foi fazer uma crítica construtiva e mesmo abrir discussão para a premissa de que só os alunos da Federal (como já cansei de ouvir e ver manifestações por aí) sabem organizar eventos, são os melhores alunos etc...Você já foi a uma entrevista de estágio? A primeira perguntar que lhe fazem é se você é aluno da Federal. Mas, claro, você quando consegue o estágio, prova depois sua competência. Porém, isso são outros quinhentos.

Já é válido o simples fato de haver manifestações contrárias ao que foi dito até agora.

Louvável, a iniciativa dos estudantes organizaram por sua conta e risco a Semana. Botar a cara a tapa demonstra atitude, engajamento e coragem (Falta isso a muitos [não todos] discentes da Feapa).Com certeza (assim espero) vão aprender com os erros, e nas próximas edições, corrigi-los e superá-los. Como disse antes, a Semana foi salva, na maior parte dos casos, pela qualidade dos componentes das mesas. Algumas deixaram a desejar, no entanto, 80% foram bastante proveitosas.

E, aliás, sobre os comentários negativos em relação ao Muvuca, eles vierem de ambos os lados. Conversei com vários participantes, que compartilham essa opinião. Durante o evento, ouvi conversas lamentáveis, um tanto exageradas até. A diferença básica reside em tornar isso público!

terça-feira, 11 de novembro de 2008

À procura de alguém especial

Nunca pensei dizer isso um dia. Sim, estou querendo alguém ao meu lado. Mas, não pode ser qualquer pessoa. Quero um homem que me complete, que desperte meu fascínio e admiração. Esse homem precisa ter inteligência e humor elevados, o charme irresistível da meia-idade, o caráter inabalável, a dominação máscula essencial. Ele não pode permitir que eu dite as regras, ao contrário.

Sempre fiz pose de mulher moderna, independente e auto-suficiente, mas chega uma hora que cansa. E aí, começa o vazio no peito, a vontade crescente de compartilhar os prazeres e as dores da vida. Tudo bem, posso estar idealizando o Homem A. Acredito ter esse direito. Não posso me contentar com pouco. Eu não nasci, nem fui criada para satisfazer-me com pouco.

Enfim, sou uma mulher carente de verdadeiros homens. Não quero os fracos(os abomino). Preciso e mereço os fortes, os verdadeiros e raros homens ideais.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Resposta ao comentário

Bem, se você sabe ler, deve ter visto que eu não generalizei...Da próxima vez que postar algum cometário no meu bolg tenha a dignidade de colocar um nome decente, e não apenas um apelido. Não tenho culpa se vc (ou é aluna(o) da Federal ou faz parte da Comissão da Semana) é avessa(o) a críticas construtivas. E além do mais, os erros e acertos da Semana vão servir para outras faculdades não cometerem os mesmos deslizes quando organizarem a sua Semana de Comunicação....
E não há como eu ser arrogante, classista, e pré-conceituosa. Sou bolsista do Prouni, venho das classes baixas, participo de movimentos que discutem o engajamento social da juventude e que buscam alternativas para reduzir as desigualdes sociais(nas suas mais diversas nuances), a partir da comunicação. Impossível ser taxada disso, chega até a ser uma ofensa. Não admito tal comparação! Isso destoa completamente do pessoa que sou!
Quanto a Feapa, só vou poder falar da Semana, quando ela for organizada pelos alunos e não pela direção!!!!
Seja sempre bem-vinda(o) a este espaço. Aqui ele é aberto ao debate, às críticas e aos posicionamentos contrários. Obrigada por deixar seu comentário!

Essa vai direto para o CQC

(mudando pra cá as postagens do blog anterior)
Memorial dos Povos, Belém. É o PRIMEIRO dia do Muvuca na Cumbuca, a Semana de Comunicação da UFPA. Alardeada em todos os cantos, alunos "preparados" durante meses para o que seria o evento do ano. Ledo engano. A desorganização marcou já o primeiro dia. Logo pela manhã, no credenciamento, fila lentíssima, desencontro de informações etc...Pela tarde, atrasos no início das mesas, a apresentação dos componentes das mesmas,sofrível. A mediadora da mesa-redonda sobre Comunicação Popular, Keila Negrão, pediu orientação sobre a metodologia do debate (como ninguém repassa isso pra ela????). O local onde aconteceu a palestra(um cinema dentro do Memorial) era abafado, sujo, dava uma sensação terrível de claustrofobia. O ar- condicionado mal funcionava, a única coisa pra salvar essa tragi-comédia foi mesmo os palestrantes, graças a Deus( MAS NÃO VOU DIZER QUEM TAVA, HEHEHE).
No segundo dia, quando eu me iludia pensando que "tudo vai ser diferente", dou de cara com a parede, mais uma vez. Ou melhor, dei de cara com a mudança de local. A mesa-redonda "Regionalização da Comunicação", composta por ninguém menos do que Lúcio Flávio Pinto, seria debaixo de um calor insurpotável, oferecido pelo Anfiteatro do Memorial. Até aí se supera,afinal Belém é um inferno temporal mesmo. A minha intuição já me alertava "isso não vai prestar". O Lúcio chega ao Memorial, ninguém vai recebê-lo. Ele pára, fica alguns segundos analisando o espaço,depois desce as escadas em direção à mesa de incrição e credencimento. Lá, uma das integrantes da organização, com uma pilha de crachás na mão pergunta: " O senhor é palestrante?". CQC, socooooooooooooooorro. Preciso dizer algo mais?!!!
Esse episódio me lembra uma professora da faculdade (eu não faço federal,e agora mais do que nunca com muito orgulho)vive exaltando seus alunos inteligentes, engajados e informados da t�o sofrida e coitadinha UFPA. Tadinhos, eles lutam tanto contra as adversidades, como se fossem os únicos. Bem, o tempo é o melhor remédio para calar a boca de pré-conceituosos, classistas e arrogantes pseudo-educadores-academicistas desta cidade e deste país.
Mas, óbvio, não vamos generalizar. Há alunos e alunos. A inciativa privada tem alunos inteligentes, esforçados, com potencial, os quais sabem aproveitar a estrutura proporcionada pela faculdade e os profissionais de alto calibre(na Feapa, onde estudo, os professores são de primeiro time e trabalham no mercado, aliando a teoria e prática) do corpo docente. Essa mesma inciativa privada, tem alunos alienados, fora de órbita e sem qualquer discernimento da realidade. Esse caso, no entanto, ultrapassa o campo particular e se estende e se assemelha ao de Universidades Públicas, como o exemplo da Universidade Federal do Pará.
Chega de premissas, abaixo o discurso:O aluno bom é o que faz Federal!!!!!