Yorranna Oliveira

Achei a imagem aí de cima pesquisando no Google. E ela define perfeitamente um pouco do que eu sou e da proposta do blog: tem de tudo um pouco, e um pouco de quase tudo o que gosto. Aqui você vai encontrar sempre um papo sobre música, cinema, comunicação, literatura, jornalismo, meio ambiente, tecnologia e qualquer outra coisa capaz de me despertar algo e a vontade de compartilhar com vocês. Entrem e divirtam-se!

sábado, 30 de outubro de 2010

Cobranças maternas

O tempo vai mudando. E as cobranças das mães vão se adequando a ele também. Quando eu tinha 16 anos, minha mãe me cobrava mais rigor nos estudos (até os 15 eu era aluna exemplar, mas bastou entrar no cursinho pra eu largar temporariamente a vida burocrática dos vestibulandos), porque só assim, Yorranna aqui, passaria no vestibular.

Entrei na faculdade. Novas cobranças pra que eu me dedicasse mais e sempre tirasse boas notas (isso sempre ocorreu, usando minha tática de ler por prazer. NUNCA por obrigação). Pra minha mãe, não combinava eu ir tanto ao cinema, ler tanto todo tipo de livro(menos de autoajuda, claro), ouvir música, ir a shows, querer viajar e conhecer mais pessoas, culturas, vidas e lugares, e falar e discutir essas questões. E eu sempre argumentava que essas atividades eram fundamentais na profissão escolhida por mim. Jornalista que não lê, não tem cultura ampla, e nem busca ter, não é jornalista. E por falar nisso, vale lembrar: ela nunca inplicou com a minha escolha profissional.

Hoje, minha mãe me cobra um emprego decente e burocrático. Me aconselha a largar os freelas e as roubadas, como por exemplo viagens a trabalho, onde eu literalmente naufrago. "Não se meta mais em barca furada, minha filha", ela disse, ao saber que naufraguei na Resex Verde Para Sempre, em Porto de MOz (PA). Parece até piada falar em barca furada com uma náufraga.

Ela já esteve na fase namorados decentes para apresentar. E a mais nova: você devia se casar (aos 21 anos? tá bom, mãe)....aliada ao: você tem que passar um tempo lá no sítio, pra vê se engorda um pouquinho.

As mães, todas iguais.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Copa do Mundo. Publicidade. Coca-cola

Olha essa propraganda da Coca-cola que rolou na teve argentina na época da Copa do Mundo de 2006. Comunicação é comunicação. E quando é bem feita merece aplausos, mesmo que para os hermanos.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Vida na Resex Verde Para Sempre*

Coluna - Diário de Bordo

Fotos: Talmir Neto e Yorranna Oliveira

Na comunidade Carmelino, às margens do rio Jauruçu.

O rádio é a principal forma de comunicação dentro da Resex. Mas é possível encontrar em algumas comunidades, como no Carmelino, telefone público. Lá, ele funciona via satélite e por energia solar. E dependendo do local que estivermos na comunidade, sinal de celular também pega.


Esse dedo deve estar gostoso

Se todos os homens ficassem felizes assim...


Aderildo, o diretor. Será que ele está pensando na mala com roupas, celular e documentos que perdeu no nosso naufrágio?


Na casa de seu Carmona, referência comunitária em Carmelino.



Observando as expressões dos moradores de Carmelino durante a apresentação do programa de rádio da Embrapa, o Prosa Rural.



Desce daí, menina!!!




*A Resex está localizada no município paraense de Porto de Moz, na região do Baixo Amazonas, no encontro das águas dos rios Amazonas e Xingu. A Reserva foi criada em 2004 e ocupa 74% do território de Porto de Moz, e divide-se em 58 comunidades, espalhadas por 31 localidades.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O queijo da búfala

Coluna - Diário de Bordo

Fotos: Talmir Neto

Marivaldo, o homem do queijo.


Na Resex Verde Para Sempre, em Porto de Moz (PA), criar búfalos faz parte da vida das pessoas. Os avós faziam isso, os pais faze isso e os filhos parecem continuar no mesmo caminho.É da criação desses animais que sai o sustento das famílias, especialmente, da produção de queijo, como faz Marivaldo Nazaré Pires, de 35 anos. Morador da comunidade Santa Luzia, próxima a Cuieiras, ele passava numa rabeta em frente ao local para levar queijo ao irmão quando um dos integrantes da itinerância o chamou para dar uma palavrinha. Resultado: uma explicação completa de seu Marivaldo de como fazer o melhor queijo de búfala do pedaço. Mas isso eu não vou dizer, hehehe.

Aprendendo a receita


*Claro que comemos queijo, gentilmente oferecido por seu Marivaldo. Só posso dizer que estava bom demais. Agora, só quero comer queijo de búfala, hehehe.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Enfim, Cuieiras.

Coluna - Diário de Bordo
19 e 20 de outubro de 2010

Fotos: Árniton Batista, Renata Baía e Talmir Neto

Voltando antes mesmo de chegar em Cuieiras...


Em direção à Cuieiras. Na terceira tentativa......


Na primeira tentativa afundamos. Na segunda, encalhamos. Na terceira finalmente chegamos à comunidade de Cuieiras, na *Reserva Extrativista Verde Para Sempre, localizada no município de Porto de Moz, no Pará. A comunidade é uma das 58 existentes na região, que se espalham por 31 localidades. Cuieiras fica na zona de várzea da Resex. As famílias tiram das águas do rio o que precisam para continuar existindo. A criação de búfalos, a produção de queijo, a pesca artesanal e a produção de farinha de piracuí - feita de um peixe muito apreciado na região, o acari - garantem a sobrevivência das famílias.

Ajeitando o microfone do seu Luís.


Encontramos seu Luís Moura, de 63 anos, na comunidade. Eel cria abelhas indígenas sem ferrão, a chamada meliponicultura. Através de um projeto de geração de renda na Reserva, a Embrapa Amazônia Oriental realizou, entre outras atividades, um curso de capacitação em meliponicultura no local. A meliponicultura é a um potencial produtivo existente em Cuieiras. No curso, os moradores aprenderam a construir um modelo de caixa, adaptado pela Embrapa, onde ficam os ninhos para a reprodução das abelhas e para a produção do mel. A técnica funciona como alternativa ao desmatamento: na criação de abelhas não é preciso remover a cobertura vegetal da terra. O pólen produzido pelas espécies ajuda na regeneração da cobertura natural da floresta. O modelo de caixa padronizado facilita a divisão das colônias e a coleta dos produtos da colmeia. E como essas abelhas não tem ferrão, o produtor de mel não precisa investir em equipamentos e roupas especiais.

Seu Luís mostrando a colmeia da abelha jandaíra


Seu Luís leva nossa equipe de filmagem para conhecer o meliponário da filha, Angélica. Vai mostrando e abrindo as caixas. Explica o processo para pegar na floresta as colmeias, a forma mais correta que aprendeu, como é a criação das abelhas até a retirada do mel. E nos oferece um pouco do mel da espécie jandaíra. Eu e Renata nem pensamos duas vezes, vamos direto com o dedo numa das aberturas da colmeia. Nem preciso dizer que achei delicioso, um mel levinho, levinho e bem fresquinho, hehehe. "É um mel mais limpo", na definição de seu Luís.

Provando na fonte...


Quando terminávamos a entrevista, ele nos premia com uma reflexão sobre sua própria vida, o tanto de mata que já destruiu, queimou, sem saber e se dar conta do mal que fazia à natureza e a si mesmo. Mas hoje ele entende muito bem que o caminho não é esse.

O criador de abelhas indígenas sem ferrão.

*A Reserva foi criada pelo Governo Federal em novembro de 2004 e funciona como uma unidade de conservação, organizada para proteger os meios de vida dos povos que moram na região e para asssegurar o uso sustentável dos recursos naturais. A área ocupa 74% do território do município de Porto de Moz e é utilizada pelas populações tradicionais que vivem do extrativismo, da agricultura de subsistência, da criação de animais e da pesca artesanal.

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o ICMBio,vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, administra todas as unidades de conservação existentes no Brasil. A Coordenação Belém, do ICMBio, é responsável pela gestão socioambiental da Resex Verde para Sempre, e de outras unidades que ficam no
território amazônico.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Os bastidores de uma itinerância

Coluna - Diário de Bordo

A itinerância para fazer um vídeo na Resex Verde Para Sempre que virou naufrágio, experiência de vida e história para contar.

Fotos: Yorranna Oliveira, Renata Baía, Talmir Neto

Afundamos na madrugada de terça-feira, 19, por volta das 5 da manhã. Acordamos com o grito de aviso de um dos tripulantes: ‘vão para o outro lado barco, que tá entrando água no barco’. Eu pulo da rede com o barco Miritituba completamente virado para a direita. A água do rio Uiuí o invadiu numa velocidade de segundos. Acordamos com águas varrendo tudo. O barulho do freezer rangendo o chão ao mesmo tempo que o grito de Elson, nosso salvador, rasgava o silêncio da noite.

Meus pés sentem a água gelada. Me seguro na rede para tentar subir para o outro lado. Escorrego. Temo que o barco vire de uma vez sem que eu consiga chegar ao outro ponto da embarcação, que eu bata a cabeça na virada, me afogue e morra. Mas ao mesmo tempo eu tenho certeza que não vou morrer. Peço ajuda para outra integrante da equipe que já tinha conseguido se atracar na parte segura do Miritituba. Ela pega minha mão e me ajuda a subir. Me sinto segura de novo. Peço a proteção divina, o coração ainda bate acelerado. Ajudamos Maria do Céu a também subir. E outra integrante fala de algum ponto do barco que não sabe nadar. Os meninos vão ajudá-la. Mais tarde sabemos que ela não tinha entendido o aviso e já acordara com a água dentro da rede. Não conseguiu subir. Dois a seguram pelos braços. E um terceiro, Árniton, a empurra com um dos pés.

Miritituba nas águas do rio Uiuí

Jair chama pelo nome dos integrantes da equipe. Pergunta se todos estão bem. Ouvimos o barulho de um motor de barco. É seu Icles vindo de sua casa ajudar. Embarcamos no pequeno barco. Vejo minha toalha pendurada. Peço para um dos rapazes do Mirituba pegarem pra mim. Minutos depois chegam dois repelentes, os carapanãs iam começar a fazer festa. Do Céu, Renata e eu tomamos quase um banho com cada um deles. Abro minha bolsa ensopada que, num dos mergulhos, Árniton recuperou. Notas fiscais, bloquinhos de anotações, celular, máquina digital, agenda de contatos. Tudo molhado. Outra bolsa é achada no meio da água, a minha, onde estava o dinheiro da viagem. Como era de se esperar, também molhada. O notebook também vem na leva. Outras malas e equipamentos vão sendo encontrados e colocados no barco de seu Ícles e na voadeira que vinha a reboque no Miritituba.

Pergunto a seu Icles se há muito jacaré e piranha por aquelas águas. Ele diz que sim e como. Ou seja, poderíamos não morrer afogados, mas comidos por jacarés ou piranhas seria bem provável. Seu Ícles nos leva para a casa dele, a poucos metros dali. Pergunto se ele já tinha visto algum acidente do tipo. Diz que nos 20 anos que mora por ali nunca tinha presenciado.

O popopô do resgate


Seu Icles viu quando nosso barco passava pelo rio que corta a Comunidade Andrade e Silva, localizada na Resex Verde Para Sempre, a cerca de 50 minutos de Cuireiras, a primeira comunidade de nossa jornada pela Resex. É tempo de seca nos rios da Reserva e o Uiuí é estreito, poderíamos ter encalhado em algum ponto do trajeto. De sua casa, seu Icles vê o barco tombando e chama um primo que mora e trabalha no lugar para prestar socorro.

Missão 2: Salvar o que restou


Olha aí o Árniton consertando o carregador de baterias da câmera. Campeão de mergulhos no barco para recuperar bagagens, equipamentos e comida


O sol aparece no horizonte no Retiro Andrade Silva, na Comunidade Monte Sinai. A mulher de seu Icles, Ângela, nos oferece café, conversa conosco e vamos compartilhando vivências, conhecendo aquele novo mundo que não estava previsto na itinerância. Os rapazes trazem mais bagagens e materiais para o trapiche da casa de nossos acolhedores. Saem de voadeira pelo rio atrás do que foi embora com a correnteza.

Indo atrás do prejuízo...Perdemos tripé, microfone, comida, roupas. Mas recuperamos outras tantas.

O sol vai ficando forte e começamos a colocar tudo para secar, na tentativa de recuperar o máximo possível de material. Perdemos o tripé da câmera, que ficou intacta graças ao case impermeável. Foi a primeira coisa que Árniton saiu atrás, depois de constatar que não morreríamos e o barco não afundaria mais do que afundou. Nos reunimos para decidir se iríamos continuar ou se abortaríamos a missão. Decidimos seguir até Cuieiras para gravar as imagens do vídeo sobre a Reserva Extrativista (Resex) Verde Para Sempre, como previsto no roteiro. A última comunidade, Itapeua, foi tirada do nosso itinerário. As condições de navegação por ela eram as mesmas da de Cuieiras, preferimos não arriscar.

O comandante que foi ao banheiro


Todos queriam falar com parentes, amigos, chefes. Mas celular não pega nas comunidades próximas e nem telefone público, como veríamos na comunidade de Carmelino, via satélite há. A única forma de comunicação é o rádio. A da casa de seu Ícles estava sem bateria. Do barco, Louro, o piloto do Miritituba no momento do acidente, tentava entrar em contato com o dono da embarcação que mora em Porto de Moz.

Louro, o piloto do naufrágio, tentando falar com o povo de Porto de Moz.


Aos poucos vamos entendendo o que aconteceu. A seca do rio Uiuí, a maior já vivida pelos ribeirinhos nos últimos anos, foi nossa faca de dois gumes. Tivemos sorte de não encalhar e afundar antes. O barco passou em cima de um tronco, que furou o porão (podre segundo os mergulhadores) do Miritituba. Elson, o piloto da voadeira que nos conduziria pelos rios mais estreitos e rasos, dormia na parte de baixo do barco viu a água entrando no barco e correu para nos avisar.

Foi este rapaz quem avisou que deveríamos sair de nossas redes.


O capitão do barco estava no banheiro no momento do acidente. Louro passou por cima do tronco, o barco balançou fortemente, tinha acordado poucos segundos antes. Estava com vontade fazer xixi, mas fiquei com preguiça de levantar. Senti o balançar da rede que quase me faz cair. O barco volta e segue de novo. O freezer escorrega, Elson grita e o resto todo mundo já sabe. Se o acidente tivesse acontecido no Rio Xingu ou no Amazonas, dificilmente eu estaria compartilhando esssa história. Possivelmente teria virado manchete de jornal.

Depois do almoço vamos para Cuieiras. Árniton faz imagens do rio, dos pássaros, dos peixes, dos búfalos caminhado por terra e água. A criação de búfalos garante o sustento das famílias da Zona de Várzea da Resex, associada a pesca artesanal e a produção de farinha de peixe. A paisagem favorece belas imagens captadas pela câmera Full HD que levamos (high difintion total). O rio Uiuí é farto em acaris que brincam de pira nas águas. A água fica pipocando de tanto peixe que tem. Não é à toa que o povo de lá faz farinha com o acari, a chamada farinha de piracuí. Na região o queijo de búfala é vendido na porta das casas para os passantes. Ele passa por um processo de fritura, além de outros detalhes que conto depois. O resultado garante um queijo de comer de joelhos de tão bom. Aprovadíssimo.

Trepando na cerca em busca do melhor ângulo


Terra de búfalos...




A quinze minutos de Cuieiras, encalhamos. Resolvemos voltar no dia seguinte com a maré enchendo para não correr riscos de novos encalhes. Mais imagens no caminho. Muitos búfalos. Entrevistamos um vaqueiro. Novas imagens. Árniton pira nas imagens. E mais búfalos ao longo do caminho, novas pirações.

Iríamos embora no final da tarde da casa de seu Ícles. Mas novos contratempos nos fazem ficar e só ir embora na tarde do dia seguinte. Um novo barco de Almeirim, o Sarraf Junior, nos pegaria ali perto na viia Aquiaqui, às margens do rio Aquiaqui, onde botos aparecem de minuto a minuto e pulam feito criança para deleite de nosso olhos. O Sarraf Junior nos acompanharia até o fim da itinerância por mais duas comunidades (Carmelino e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, mais conhecida como Arimum) da Resex.

O casal de salvadores, os primos Icles Andrade da Silva e Ângela Andrade da Silva. Quinze anos de casamento, dois filhos, o Gustavo, de 3 anos e Daniel, de 8 meses.


Providencial sofrermos o acidente perto da casa de seu Icles. Tivemos onde comer, descansar, organizar as ideias, dormir. Tivemos acolhida e proteção do temporal que caiu na noite de terça-feira. O céu queria desabar naquela noite. Muita água, relâmpagos e trovões caíram do alto. Dormimos todos amontoados na sala. Uns pelo chão, outros pelo sofá. Pelos donos da casa dormiríamos no quarto quentinho deles, preparado para nos receber. No entanto, ficamos com vergonha de aceitar. Já estávamos abusando demais da gentileza do casal e, de certa forma, atrapalhando a rotina deles.

domingo, 24 de outubro de 2010

O começo

Coluna Diário de Bordo – 18 de outubro de 2010

Nossa itinerância pela Reserva Extrativista Verde Para Sempre começaria na noite daquele mesmo dia. Eu e o cinegrafista Árniton viemos de balsa o trajeto inteiro, mas há os que vem por outros caminhos. Essa outra jornada dura cerca de 10 horas, começou de avião na capital paraense com destino à Altamira. Lá, enfrentaram em torno de 47 km de carro até Vitória do Xingu, onde pegaram uma lancha que os trouxe ao município. Haja fôlego com tantas mudanças de condução.

Ainda em Belém, combinamos o encontro no Hotel Mirante do Porto, onde eu e Árniton ficamos hospedamos. Outra parte da equipe sai para comer com a promessa de voltarem meia hora depois para visitar nosso primeiro entrevistado, um representante do Comitê de Desenvolvimento Sustentável (CDS) do local, já que o coordenador - geral, Jomabá, só estaria na região na quarta-feira. E volta com o tempo estourando para o primeiro entrevistado. Nos dividimos entre um táxi e dois moto táxis. Ao todo sete pessoas de um lado para o outro em Porto de Moz. Ganhamos um agregado: Árniton arrumou um auxiliar de cinegrafista ainda pela manhã, o Aderildo, que ficou conhecido entre nós como diretor, alcunha criada por Árniton.

Paramos no Comitê com a luz da tarde começando a desaparecer. Nada bom para quem precisa da luz para filmar. O cinegrafista faz imagens externas do CDS. A entrevistada tinha saído. E foi um liga e liga de lá para contornar o contratempo. Otaviano surge para nos guiar pela cidade. Perguntamos se ele conhece alguma pessoa que tenha feito um dos cursos de biojoias e embalagens realizados pela Embrapa. Ele diz que sim e nos leva à dona Cleonilce. Simpática senhora que mora em uma casa de madeira e vende artesanato, chopp e gelo como informa a placa, pendurada do lado de fora da residência.

No final da entrevista, ganho um par de brincos em formato de golfinho feito de casa de coco, e uma prendedor de cabelo criado a partir do chifre de boi ou búfalo (não lembro qual dos animais, mas deve ser de búfalo já que esse é um animal muito comum na área). Agradeço a gentileza e me despeço com meus presentes. As equipes se dividem para agilizar e acertar os detalhes da viagem logo mais à noite.

No trapiche da cidade, o barco Miritituba esperava os navegantes. O jantar já estava pronto. Frango guisado com verduras e milho, arroz, suco de goiaba. Tudo deliciosamente preparado por dona Maria do Céu, cozinheira de mão cheia que nos acompanharia até o fim da itinerância. O tempero da fome aliado ao capricho da comida me fez comer até o último grão de arroz. Parabéns pra dona Maria do Céu, nome dedicado à mulher dele, morta durante o parto após sofrer uma hemorragia. Do Céu seria celestial nas próximas horas e dias da expedição pela Resex, e como seria.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Porto de Moz

Coluna Diário de Bordo - referente aos dias 17 e 18 de outubro
Fotos: Yorranna Oliveira

Rio Xingu


A saudade começa a me entristecer. Na sacada do Hotel Mirante do Porto, onde ficamos hospedados, olho para o Rio Xingu. Ele realmente impressiona. Vejo os ribeirinhos desbravando o rio em barquinhos, rabetas, voadeiras, cascos, barcos de grande porte.
Do Hotel é possível ter uma visão de quase todo o município de Porto de Moz.

Enquanto escrevo, observo o movimento no trapiche principal. Um navio da Marinha do Brasil aportou na cidade desde sexta-feira passada, 15 de outubro. Todo ano, de acordo com os moradores, ele atraca no porto local, trazendo serviços gratuitos para a população. Atendimento médico, como os de clínica geral e odontologia, emissão de CPF, entre outras coisas mais.

Vista do Hotel para o trapiche principal da cidade


Chegamos (eu e o cinegrafista Árniton) em Porto de Moz no domingo, por volta das 8h da manhã, depois de 36 horas de viagem na balsa Gabriela. A Gabriela saiu porto Maturu, em Belém do Pará, às 19 horas (era para ter saído às 18h). Nem preciso dizer que o cansaço nos consumia. Mesmo assim, Árniton não perdeu a oportunidade de fazer imagens do momento. Fomos para o Hotel a pé. Um carreteiro levou as bagagens e nossos equipamentos. Pagamos 10 reais pela ‘corrida’. Deixamos nossas bagagens nos quartos, em terra firme ficamos em cômodos separados, já não era sem tempo. Aproveito para tomar um banho, checar nosso itinerário nos próximos dias pela Reserva Extrativista Verde Para Sempre, ajustar o roteiro com as informações colhidas no caminho pelos rios da Amazônia.

Vou ao cyber ler meus emails, dois dias sem acesso à internet, pense num caixa de entrada abarrotada de mensagens. Mando recado para a família, para o povo de Bel City e atualizo meu blog. Não consegui publicar fotos. Consegui o feito de inutilizar o cartão de memória de minha câmera digital, nenhum computador lia o cartão e a câmera acusava erro de formatação. Fiquei frustrada. Afinal, instantes nunca são iguais, como as do casal de senhores Maria de Nazaré e Pedro Luciano, de 66e 73 anos. Eles tiveram 14 filhos, oito morreram de doenças ou nasceram mortos, só conseguiram criar seis. Não me conformo em não poder ilustrar a história deles, enquanto conversavam na beira da balsa Gabriela, com o rio Pará ao fundo.

Na hora do almoço comemos na Churrascaria do Irmão. O local serve um delicioso suco de manga, feito na hora. O puro sabor da fruta, rsrsrs (parece frase de comercial de tevê).

Depois do almoço, Árnitom rodou pela cidade e foi parar na praia da localidade, a Chácara, em julho a praia vira palco do Fest Sol, o festival de verão de Porto Moz. É um dos eventos que agitam os moradores, vem gente até de outras paragens e municípios próximos. No dia seguinte, ele me conta que viu a diversão feita pelos marinheiros na praia, quá. Como se as esposas não conhecessem seus maridos.

Um pedaço do comércio visto do alto


Hoje de manhã comprei um novo cartão de memória. Não perderei nem uma foto dessa vez. Tiro fotos da cidade, lá do alto do Mirante do Porto. Desço para observar a manhã na lugar. Encontro a Raimunda Renilda com uma das filhas. Conheci Renilda na balsa e ela me cobra a visita prometida a sua casa. Ela me convida para ir até ao Feirão do Porto, uma espécie de Feira da Marambaia (de Belém do Pará) em Porto de Moz. Raimunda queria comer acari na Feira, peixe bastante apreciado no Pará. Minha mãe, aliás, adora.

Igreja Matriz São Brás


Raimunda vai contando e apontando os detalhes bons e ruins da cidade. Há quatro anos ela não vinha ao município, vai passar alguns dias e voltar para a Bahia, onde mora com a filha do primeiro casamento e o atual marido baiano. “Nos conhecemos na Praia do Caripi, em Barcarena”, relembra. Renilda fala com todo mundo no trajeto. Amigos, parentes, conhecidos. Ela diz que devo conhecer o bairro da Beata, um dos cinco bairros de Porto de Moz, e um dos mais pobre e violento, segundo Raimunda. “Tipo um Jurunas [em Belém do Pará]”, compara.


Praça São Brás



Fotografo a Igreja Matriz São Brás e a praça em frente, de mesmo nome. São Brás é o santo protetor dos navegantes. Aliás, é semana de festividade do santo em Porto de Moz, iniciada ontem.

Um dos trapiches de Porto de Moz


Vou tirando fotos dos barcos ao longo da orla e guardando na memória as impressões da cidade. A outra parte da equipe deve desembarcar por aqui ainda hoje, vinda do município de Vitória do Xingu, num trajeto feito por ar (de avião de Belém a Altamira), terra (de carro até Vitória) e água (de lancha até Porto) desde Belém do Pará. Faremos imagens e entrevistas por aqui. E no início da noite vamos para a comunidade de Cuieiras, na Resex Verde Para Sempre.

domingo, 17 de outubro de 2010

Diário de Bordo - 16 de outubro de 2010

Amanhece no Rio Pará, o caminho que nos leva da Baía do Guajará, na capital paraense, até Porto de Moz, atravessando o Rio Pararuaú, os furos Aturiaí e Itajapuru, passando pelo Rio Amazonas que vai desaguar no Rio Xingu.
O Rio Pará desemboca no município de Breves. A balsa Gabriela atraca no trapiche da cidade para deixar e pegar passageiros e cargas.

A noite anterior foi péssima. Acordei quatro ou cinco vezes no decorrer da madrugada. A porta do camarote fazia um barulho infernal, graças à força dos ventos e das marés nas águas da Amazônia.

Levantei às 6 da manhã, o município de Curralinho já se formava na paisagem. Pergunto ao comandante Miguel, que sai do camarote ao lado, a previsão de chegada em Breves, quando a suíte da balsa desocupará e nós poderemos (eu e o câmera Arirton) ficar nela. Sua experiência de 22 anos de navegação leva a calcular a chegada por volta de 10 horas da manhã, dependendo da maré.

Arirton faz imagens do sol acordando e se levantando sobre o Rio Pará. Um barco passa exatamente no ângulo que a câmera pega a luz do sol refletida nas águas. A embarcação na água e lá em cima o sol continua brilhando, um clichê de tão lindo, rsrsrs.

Uma lancha da Secretaria de Estado de Fazenda se aproxima de nossa balsa para fiscalizar a mercadoria da embarcação. Enquanto isso, Arirton guarda o equipamento em nossos aposentos, hahaha. Um passageiro nos mostra uma balsa carregada de toras de madeirado lado esquerdo do rio. Arirton se apressa em pegar o equipamento de filmagem. Se a madeira era legal ou não, só Deusa sabe. Mas imagem valia. Só não conseguimos filmar a embarcação de frente. Nos restou o ângulo lateral para filmar. Nós conformamos, teríamos outras oportunidades. E tivemos. Durante o trajeto até Porto de Moz, essa imagem iria se repetir quase a exaustão.

Minha mãe liga para saber em qual trecho do percurso estou. Ela estava em Curralinho (viajou na mesma noite que eu com destino a Limoeiro do Ajurú, terra de meus avós). Digo nossa localização: parados no meio do rio, em frente ao município. Ela disse que do trapiche da cidade conseguia ver uma balsa parada, a nossa. Perguntas e conselhos maternos. Resposta de filha exemplar, hehehe. Nos despedimos antes do celulares ficaram fora de área. Combinamos de nos comunicar onde for possível.

Durante o resto da manhã tiro fotos, entrevisto um casal de senhores que voltavam do Círio de Nazaré para Altamira. Ficariam em Vitória do Xingu e de lá seguiriam de táxi por 47 km de estrada até o município. Detalhe, segundo eles, só pagariam 10 reais pela corrida. Em Belém pago esse mesmo valor pra sair do meu conjunto...
Bato meu joelho esquerdo numa subida pela escada. E em outra consigo a proeza de esfolar minha penar direita.

Faço mais fotos e ainda converso com o comandante do barco, o seu Miguel. Chegamos em Breves mais flashs, muitos da orla da cidade, das casas na beira do rio, dos ribeirinhos navegando em seus cascos pelo rio. Duas meninas nos casquinhos, Renata, de 14, e Shirley, de 10 anos, tia e sobrinha respectivamente, se aproximam da balsa. Pedem um real. Isso é comum nos nossos rios, pegar carona também, só os rostos e a paisagem mudam.

Em Breves, finalmente, conseguimos sair do sufoco. Suíte com um banheiro quase limpo só para nós, uma cama, espaço para rede, armário, ar condicionado, estante para colocarmos nossas coisas, e um frigobar meio fedorento.

Vamos embora da cidade. Já nas novas acomodações, abro o notebook e consigo o feito de apagar todas as imagens do cartão de memória da máquina digital, quando tento enfiar a droga do cartão numa das entradas do note. Árnirton fez amizade com o gerente do Banco do Brasil de Porto de Moz e conseguiu um helicóptero para fazer imagens áreas do local.

Seguimos pelos furos e ilhas da viagem. Ainda tínhamos muito chão de água para percorrer.

Diário de Bordo - 15 de outubro de 2010

São 20h44. Saímos quase sete da noite de Belém do Pará. A balsa Gabriela vai abarrotada de cargas. A maior parte, pelo que vi, vai abastecer mercados das cidades de Breves, Gurupá, Porto de Moz, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu, locais onde a balsa encosta levando e trazendo gente. Vi muitas latinhas de cerveja, hehehe. Se a memória não me engana eram Nova Schin e Skol.

A luz da Gabriela enfraquece de minuto a minuto, o que me impede de escrever direito na agenda-diário que levei de reserva. Nossa faz tanto tempo que não escrevo do modo antigo, caneta e papel, sem notebook, laptop, computador. Só escrevo garranchos durante as reportagens, coisa rápida, falas dos entrevistados, frases nas quais me prendo. Anotações, ideias e palavras que me passam pela cabeça. A embarcação estremece por inteiro. As letras saem tremidas. Parece letra de criança aprendendo a escrever.

Nem nos afastamos direito do Porto Maturu, em Belém, e pegamos vento e muita maresia no meio do Rio Pará. A Gabriela balança como um barquinho. Meu lado neurótica e catastrófica se impõe, penso logo que vamos virar. É herança de minha avó, a dona Cemica. Os entendidos em viagens pelo caminho das águas afirmam que balsas são mais seguras do que barcos. Sigo “confiando” nisso.

Ainda há longas horas de rio pela frente. Cerca de 35 horas ligam Belém a Porto de Moz, onde fica a Reserva Extrativista Verde Para Sempre, destino final de toda essa itinerância. Vou com o cinegrafista Arirton Batista Coelho gravar imagens e entrevistas de um projeto de geração de renda desenvolvido pela Embrapa Amazônia Oriental na região. Levei máquina fotográfica e bloquinhos para registrar cada momento da viagem.

Escrevo para ver se o sono vem, porque o barulho da porta de metal do minúsculo camarote no qual divido espaço com equipamentos, um beliche e Arirton. A zoeira que a porta faz dá nos nervos e interrompe minha tentativa de descanso.

Perguntamos ao comandante da balsa, seu Miguel Costa, de 58 anos, se há um outro camarote, pelo menos com ar condicionado, porque o mini-ventilador do nosso não amenizava o calor. Para nossa sorte, no dia seguinte, em Breves, uma suíte iria desocupar. Desembolsaríamos mais alguns reais, além dos 350 já pagos (valor da passagem de camarote Belém – Porto de Moz).

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Greve dos bancários

Pressionado pelo movimento grevista e a exemplo das demais instituições financeiras, o Banco da Amazônia retomará hoje, 13, às 10h, as negociações com a Comissão de Negociação representativa dos bancários para a discussão da pauta específica e da nova proposta apresentada pela Fenaban ao Comando Nacional dos Bancários na segunda-feira, dia 11. O Banco do Nordeste também reúne hoje às 9h para dar prosseguimento às negociações.

A orientação do Comando Nacional é a de que as assembléias que serão realizadas hoje pelos sindicatos em todo o país hoje aprovem as novas propostas apresentadas pela Fenaban, pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal. A proposta da Fenaban inclui reajuste de 16,33% nos pisos (aumento real de 11,54%), reajuste de 7,5% (aumento real de 3,08%) para quem ganha até R$ 5.250 (o que engloba 85% da categoria) e em todas as verbas salariais, incremento na PLR e inclusão na Convenção Coletiva, pela primeira vez, de mecanismos para combater o assédio moral no trabalho e a falta de segurança nas agências.

Para a Contraf-CUT, essas novas propostas representam um importante avanço da unidade nacional dos bancários e também em relação às principais reivindicações da categoria como o aumento real de salário, valorização dos pisos salariais, melhoria na PLR e implementação de mecanismos para combater o assédio moral no trabalho e a falta de segurança nas agências.

Segundo Roosevelt Santana, diretor da Fetec – CN e da AEBA “A força do movimento grevista no Banco da Amazônia traduz o anseio dos bancários por maiores conquistas e a AEBA nesse processo tem sido um fator decisivo nessa mobilização.”


"Essa grande capacidade de mobilização e essa sabedoria em buscar a unidade nacional são as responsáveis pelo fato de os bancários serem a única categoria profissional no Brasil com a mesma Convenção Coletiva de Trabalho válida em todos os bancos públicos e privados e em todo o território nacional e das importantes conquistas dos últimos anos", avalia Carlos Cordeiro.

Confira a nova proposta da Fenaban apresentada na última segunda-feira

● Pisos - Escriturário: R$ 1.250,00 (após 90 dias), reajuste de 16,33% (aumento real de 11,54%). Caixa: R$ 1.709,05 (incluindo gratificação de caixa e outras verbas), reajuste de 13,82%, com aumento real de 9,15%.

● Reajuste de 7,5% (o que representa aumento real de 3,1%) para quem ganha até R$ 5.250.

● R$ 393,75 ou reajuste de 4,29% (inflação do período) para os salários superiores a R$ 5.250 - o que for mais vantajoso para os bancários. Apenas 5% dos comissionados, com salários mais altos, receberão apenas a reposição da inflação.

● PLR:
- Regra básica: 90% do salário mais R$ 1.100,80, com teto de R$ 7.181.
- Parcela adicional : 2% do lucro líquido distribuídos linearmente, com teto de R$ 2.400,00.
- Isso significa que na regra básica o reajuste é de 7,5% e na parcela adicional de 14,28%. Caso a distribuição do lucro líquido não atinja 5% com o pagamento da regra básica, os valores serão aumentados até chegar a 2,2 salários, com teto de R$ 15.798.
- Antecipação da PLR: 60% da regra básica mais 50% da parcela adicional até 10 dias corridos após a assinatura da Convenção Coletiva.

● Adicional tempo de serviço: R$ 17,83.

● Gratificação de compensador de cheques: R$ 101,56.

● Auxílio-refeição: R$ 18,15.

● Auxílio-cesta alimentação: R$ 311,08.

● 13ª cesta-alimentação: 311,08.

● Auxílio-creche/babá: Reajuste de 7,5%. A adequação à nova legislação sobre o ensino fundamental (6 anos de idade a partir de 2011) cria uma nova regra. Os valores que eram recebidos em seis anos e 11 meses serão recebidos em 5 anos e 11 meses. Já com a correção de 7,5%, o valor passará de R$ 207,95 para R$ 261,30 (aumento de 25,7%). Haverá uma regra de transição para que já tem filhos acima de 6 anos e 11 meses.

● Auxílio-funeral: R$ 599,61.

● Ajuda deslocamento noturno: R$ 62,59.

● Indenização por morte/incapacidade decorrente de assalto: R$ 89.413,79.

● Requalificação profissional: R$ 893,63.

● Prevenção de conflitos no ambiente de trabalho, que inclui definição de mecanismos de combate ao assédio moral, a serem implementados mediante adesão voluntária dos sindicatos e dos bancos por meio de acordo aditivo.

● Compensação dos dias parados no prazo entre a data da assinatura da Convenção Coletiva e 15 de dezembro de 2010, nos mesmos moldes do ano passado.

● Segurança bancária:
- No caso de assalto, atendimento médico ou psicológico logo após o ocorrido.
- O banco registrará BO em caso de assalto, tentativa e sequestro.
- Possibilidade de realocação para outra agência ao bancário vítima de sequestro.
- Apresentação semestral de estatísticas nacionais sobre assaltos e ataques na Comissão Bipartite de Segurança Bancária.

Parques ambientais consumidos pelo fogo

Quase a metade da área de dez unidades de conservação federais foi castigada por queimadas de agosto a setembro deste ano. Um levantamento do G1 revela que dos quase 3 milhões de hectares ocupados pelos dez parques (2.941,824 ha), mais de 1,3 milhão (1.373.542 ha) foi atingido, o equivalente a 46% da área. E todos os representantes das reservas nacionais ouvidos afirmam que as causas dos incêndios são intencionais.

Os dez parques são uma amostra do prejuízo causado pelos incêndios ao bioma brasileiro, sobretudo ao cerrado. A quantificação oficial da área queimada é um processo demorado e, às vezes, subjetivo, de acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente. Segundo o coordenador geral de proteção ambiental do ICMBio, Paulo Carneiro, a estimativa total ainda vai demorar algumas semanas. “Estamos nesse processo, mas não estamos conseguindo acompanhar o ritmo dos incêndios”, afirma.

Algumas unidades das regiões Centro-Oeste e Sudeste, que registraram a maioria das ocorrências da temporada, só conseguiram extinguir o fogo depois que mais de 60% da área havia sido queimada. O caso mais grave foi do Parque Nacional das Emas, em Goiás, que é Patrimônio Mundial da Natureza e contabiliza 93% da área consumida pelo fogo. Outra fonte de preocupação para os ambientalistas foi o Parque Nacional da Serra da Canastra, em Minas Gerais, onde há espécies de animais em risco de extinção e os danos chegaram a 72% da unidade.

O chefe do parque, Darlan Alcântara de Pádua, ressalta que não é possível quantificar as perdas da fauna e flora. “A perturbação do ecossistema é imediata, mas o impacto é mais complexo e aparece lá na frente. Uma boa parte do que se morre no incêndio é transformado em cinzas, um exemplo são os ninhos de pássaros. E muitos bichos que escapam do incêndio morrem depois, por ferimentos, stress ou fome”, lamenta.

Outra unidade severamente afetada foi a Área de Proteção Ambiental Meandros do Rio Araguaia, na divisa de Goiás com Mato Grosso e Tocantins, que estima prejuízos em 71% da região. O chefe do parque, José Vanderlei Cambuim, relata que a ocorrência de vários focos simultâneos deixou animais encurralados. “Os brigadistas encontraram um bando de 40 queixadas mortos. Vimos capivaras mortas e até uma paca, que é um animal bem esperto e ágil”, disse.

Nos demais parques, animais de maior porte conseguiram escapar para regiões que não queimaram, onde havia água ou mata fechada. Répteis e anfíbios, porém, foram bastante afetados.

Cuidado especial – Especialistas estão ansiosos por sinais de vida e adaptação das espécies sob risco de extinção. Os animais mais citados foram as onças, lobo-guará, tamanduás e especialmente o pato-mergulhão, do qual se tem notícia de apenas 250 indivíduos em todo o país. Na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, o pato-mergulhão costuma ser avistado em áreas de canyon. Segundo o chefe do parque, Leonard Schumm, “ele não deve ter sido afetado, porque sai voando, mas o ambiente em que ele mora ficou impactado”.

O cenário se repete na Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins. A analista ambiental Lara Côrtes conta que os únicos oito pássaros da unidade ocorrem em uma área de conflito com a comunidade local, que queima a vegetação para forçar a rebrota do pasto para o gado. “O pato-mergulhão fica num trecho específico do rio onde estamos tentando fazer um acordo com os residentes, para usarem o fogo controlado, pelo menos”, explica Côrtes.

Cultura do fogo – O hábito de usar queimadas para renovar pastos, limpar terrenos e dar fim ao lixo é antigo no Brasil e um desafio considerável para autoridades e ambientalistas. O monitoramento dos focos de incêndio via satélite já permite algumas conclusões. Segundo o Coordenador da Gestão do Fogo da Defesa Civil do Mato Grosso, major Márcio Paulo da Silva, “a noite é o horário mais propício para pessoas atearem fogo. A cultura do uso do fogo no nosso estado é muito arraigada, não só na população rural como na urbana, que usa o fogo na limpeza dos quintais. As pessoas apostam na impunidade e na extensão territorial”, conclui.

Paulo Carneiro, do ICMBio, destaca que, este ano, houve condições atípicas de baixa umidade do ar que propiciaram a propagação dos incêndios, mas aponta a pecuária como um desafio histórico para os parques nacionais. “As queimadas têm uma relação muito grande com a renovação de pastagem. Pecuaristas põem fogo numa área para que venha a brota e perde o controle, levando prejuízo até pra ele mesmo. Nas nossas unidades de conservação do cerrado, essa prática está muito associada ao gado”, sentencia.

O Parque Nacional do Itatiaia, no Rio de Janeiro, conseguiu um feito raro para os administradores das unidades nacionais, prendeu em flagrante dois incendiários no fim de agosto. Gustavo Tomzhinski, responsável pelo núcleo de combate a incêndio do parque, conta que dois agricultores foram vistos pelo helicóptero empenhado no combate de outro foco. Para ele, as prisões e multas de R$ 84 mil para cada infrator “têm um efeito simbólico muito grande paras pessoas estarem conscientes que realmente é crime”, disse.

Fonte: Ambiente Brasil

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Dez anos de Arrastão do Círio


Fonte: Assessoria de Imprensa/Instituto Arraial do Pavulagem
Foto: Karina Paes

Hora do almoço em Belém do Pará. Véspera do Círio de Nazaré. Fogos explodem no céu. As ruas próximas à Estação das Docas estão entupidas de gente. Buzinas enlouquecem os ouvidos. O sol e o calor castigam. Músicos com instrumentos de percussão, pessoas com brinquedos e adereços de miriti, papel e garrafas pet, homens e mulheres em cima de pernas de pau. Dia de Arrastão do Círio, o cortejo que reverencia a Virgem de Nazaré, o universo ribeirinho, os brinquedos de miriti, o trabalho dos artesãos, a cultura popular. Há um colorido vertiginoso na paisagem.

Neste sábado, 9 de outubro, o Arrastão do Círio completa dez anos de homenagens à padroeira dos paraenses e da Amazônia. O Cortejo só inicia quando Nossa Senhora aporta em terra firme, vinda do distrito de Icoaraci, em Belém. É o término da Romaria Fluvial. Nesse momento, fé e festa se encontram enquanto os músicos do Batalhão da Estrela tocam o hino do Círio de Nazaré – “Vós sois o Lírio Mimoso” -, no ritmo da Marujada de Bragança. Eles são acompanhados pela voz de um público que abarrota as ruas ao redor e se espreme na tentativa de ver, tocar, tirar uma foto da imagem, gravar o instante de homenagens.

“É o que nos liga ao Círio de Nazaré. Nós, assim como o Auto do Círio e a Festa da Chiquita, já estamos atrelados a ele. O Arrastão é inspirado nesse cenário plástico e artístico dos brinquedos tradicionais, como o roque-roque, o soca-soca, a girândola, que estão presentes no cortejo. É uma imersão na tradição popular do Círio”, afirma Júnior Soares, músico do grupo Arraial do Pavulagem.

A Santa vai embora depois da homenagem e o Arrastão do Círio segue por outro destino. Ele percorre o Ver-o-Peso em direção à Praça do Carmo, no bairro da Cidade Velha. E o povo vai junto, cantando, dançando, pulando ao som de boi-bumbá, pássaro, mazurca e carimbó. E com direito a banho de cheiro na Feira do Ver-o-Peso.

Este ano, a cobra grande de miriti, símbolo da homenagem e que faz alusão à corda dos promesseiros, do Círio de Nazaré, será substituída por uma cobra feita de garrafas pet. O trabalho, realizado por artesãos da capital paraense, garante maior resistência do brinquedo às apresentações, mostra a possibilidade de criação a partir de outros materiais, além de reafirmar o caráter sustentável cada vez mais presente nas ações do Instituto Arraial do Pavulagem. Mas os demais brinquedos de miriti permanecem no cortejo.

Quem participa da festa vem dos mais diversos cantos do Pará, do Brasil e do mundo. É gente que vem para o Círio e fica sabendo do lado cultural e profano do evento. Gente que vem para a Romaria Fluvial e resolve ver aonde vai parar toda aquela alegria, todo aquele colorido e agitação. Gente que vem amanhecida do Auto Círio, e que ainda pretende participar logo mais à noite da Trasladação, ficar na Festa da Chiquita e no dia seguinte ainda tem pique para acompanhar o Círio. Haja fôlego. E tem gente que vem só para o Arrastão mesmo.

Ao chegar à Praça do Carmo, os músicos do grupo Arraial do Pavulagem continuam a festa, num palco montado para receber atrações musicais de várias partes de Belém e do Estado. Todos para também homenagear Nossa Senhora, tocando os ritmos da região amazônica.

Bastidores
O cortejo sai pelas ruas de Belém, graças ao trabalho do Instituto Arraial do Pavulagem, com o apoio da Prefeitura Municipal. O Instituto é hoje um ponto de cultura, o “Arraial do Saber”, do Ministério da Cultura. Ao longo do ano, ele promove outros cortejos: o Cordão do Peixe – Boi em fevereiro, no Carnaval, e o Arrastão do Pavulagem em junho, para comemorar a Quadra Junina. E o Boi Orube, do Conjunto Satélite, também ajuda a dor o tom e a sonoridade da festa.

O Arrastão do Pavulagem é o mais antigo de todos. Ele começou em 1987, da iniciativa de um grupo de músicos e compositores paraenses com um traço em comum: valorizar e divulgar a música de raiz feita na Amazônia e construir uma relação mais próxima com o público. Com esse intuito, o grupo iniciou uma brincadeira aos domingos na Praça da República, usando a alegoria de um boizinho na tala para atrair o público presente para apresentação musical, no palco do Teatro Experimental Waldemar Henrique. Os cortejos de cultura popular, os “Arrastões do Pavulagem”, começavam aí.

Como a bateria numa escola de samba, os integrantes do Batalhão da Estrela são os responsáveis por dar o tom ao cortejo. O Batalhão é formado por percussionistas, pernaltas, dançarinos, pessoas que carregam materiais, água e os músicos do grupo Arraial do Pavulagem. Gente jovem, gente velha, que gosta de rock, samba, axé, forró, música clássica e de Arraial do Pavulagem. Gente que mora nos mais diversos bairros da região. Gente que nasceu, escolheu ou foi escolhida pela Amazônia para morar, como a inglesa Kezia Lavan, de 33 anos. Ela é violinista, e toca percussão no cortejo. Há um ano morando em Belém, e depois de cinco meses no município de Curuçá, no interior do Estado, o choque cultural para Kezia nem existe mais. “Já acostumei”, diz a professora de inglês, com o sotaque carregado.

O Batalhão ensaia quase o ano inteiro. Participa de oficinas de percussão, dança e artes circenses, promovidas pelo Instituto Arraial do Pavulagem, através do Ponto de Cultura Arraial do Saber, para fazer bonito nas apresentações. O músico Rafael Barros, de 35 anos, comanda essa ‘orquestra’ de rua. É ele quem dita o ritmo e as variações da percuteria (mistura de elementos de percussão com os de bateria) do Batalhão. Há cinco anos no Arraial, ele foi convidado só para dar uma oficina de percussão no Instituto. Depois vieram os convites para ensaiar o Batalhão da Estrela e para participar da banda. “As coisas foram acontecendo e estou aqui até hoje. O Batalhão consegue agregar as pessoas. Ele tem universitário, serviços gerais, médico, advogado. Tem gente que toca heavy metal e toca no Batalhão. Tem gente que vai pra Timbalada, mas gosta do Arraial. O Batalhão tem isso, da pessoa querer estar aqui”, analisa.

Cultura popular
Não precisa ser artista profissional para participar das atividades do Instituto Arraial do Pavulagem, basta querer e se inscrever para as oficinas no site do Instituto. O espaço é aberto a todos. “Um dos grandes objetivos do Arraial é passar o conhecimento da cultura popular para as pessoas. Isso é a verdadeira democracia. Desde Platão, ele já dizia que só há democracia quando o povo participa de fato das discussões. E o Arraial faz isso com as pessoas, por isso que ele é uma das referências em cultura popular na Amazônia. Acredito que muitas pessoas nunca tinham ouvido falar em samba de cacete, por exemplo. O Arraial faz um resgate desses ritmos e passa para o público”, avalia Mário Valmont, de 29 anos, servidor público em horário comercial, e tocador de caixa de marabaixa no Batalhão da Estrela.

Ícaro Barbosa é um desses olhos que brilham. Aos 21 anos, ele estuda Engenharia Florestal e desde criança assiste às atividades do Arraial do Pavulagem. Em 2010, participa pelo segundo ano consecutivo das movimentações do Instituto Arraial do Pavulagem, ali, dentro do Batalhão da Estrela, do alto de sua perna de pau - elemento com um significado muito específico no cortejo.

“A gente [pernaltas] tem a função de controlar o público, pra que ele não esprema o Batalhão, porque como é muita gente e é na rua, andando, dançando, fica difícil as pessoas caminharem. A gente é como se fosse uma barreira, pra que o Batalhão não seja esmagado, além da questão estética também. Eu sempre fico tenso, porque sempre tem criança que puxa a gente, acha bonito e diz: ‘olha mãe, olha o menino na perna de pau!’ E puxa a nossa perna com tudo. Tem mãe que pede pra gente carregar o filho pra tirar foto. Mas não tem como, se não a gente cai. É muito engraçado“, comenta.

Ícaro diz isso com uma empolgação que só vendo. Aliás, em tese, ele nem deveria participar do Arrastão do Círio este ano, muito menos dos ensaios. “Há duas semanas peguei uma bronquiopneumonia, nem deveria tá aqui, mas estou. Não tem como não vir, porque é uma coisa que faz parte da vida da gente, não dá pra você negar, não vir. Aqui a gente se diverte, tu encontras os teus amigos. E assim como toda a forma de arte, quando tu gostas, não tem como tu deixares de vir”.

Serviço:
Arrastão do Círio 2010
Data: 9 de outubro, véspera do Círio de Nazaré
Local: Belém do Pará, na escadinha da Estação das Docas.
Horário: Concentração a partir das 10 horas
Endereço: Av. Boulevard Castilho França, s/n – Bairro da Campina
Site: www.arraialdopavulagem.com.br

sábado, 2 de outubro de 2010

Bom trabalho aos colegas mesários!

Amanhã é dia de trabalho duro, que começa às 7 horas. É dia de eleição,estresse e bom humor. Desejo a todos os mesários do Brasil, um dia de trabalho tranquilo amanhã, tá tá bom, ele nunca é tranquilo, mas desejo que ocorra tudo da melhor forma possível, sem situações que possam perturbar o bom andamento do processo eleitoral.

E, claro, não deixem de revisar a cartilha de treinamento do mesário hoje (e de levá-la amanhã, para consultar no momento de dúvida), para saber qual a melhor forma de agir durante as Eleições 2010, na sua zona e seção eleitorais. Confiram aqui, o vídeo de treinamento do TSE para os mesários. E boa sorte para os novatos: