Yorranna Oliveira

Achei a imagem aí de cima pesquisando no Google. E ela define perfeitamente um pouco do que eu sou e da proposta do blog: tem de tudo um pouco, e um pouco de quase tudo o que gosto. Aqui você vai encontrar sempre um papo sobre música, cinema, comunicação, literatura, jornalismo, meio ambiente, tecnologia e qualquer outra coisa capaz de me despertar algo e a vontade de compartilhar com vocês. Entrem e divirtam-se!

sábado, 30 de junho de 2012

Novidades sobre sa gravçações do disco "Foi no mês que vem", de Vitor Ramil

Fot
Foto: Ana Ruth Miranda Se não acontecer nenhum imprevisto técnico ou artístico serão 32 músicas em vez das 30 estimadas inicialmente. Daria um álbum triplo, numa boa, mas vamos manter a ideia do duplo, primeiro, para que o produto final não fique muito caro para o público, depois, porque gostei disso de juntar tantas músicas numa época em que a tendência é fazer discos com menos músicas, numa busca retroativa de costumes fixados no tempo dos LPs. Acho que a Internet começa a mudar a maneira como nos acostumamos a escutar música. Por que não ter um disco com tantas músicas que nos pareça mais indicado descobri-lo aos poucos, como quando navegamos ao acaso atrás de músicas na web? Já quase não paramos para escutar um disco inteiro hoje em dia. As 32 músicas de Foi no mês que vem convidarão o ouvinte a fruí-las na calma, em mais de uma audição, talvez até mesmo de forma randômica. As canções e milongas estarão, portanto, no suporte físico de dois CDs, mas abertas ao hábito de quem já ouve música só pela Internet. Não estou fazendo disso uma bandeira profissional, apenas refletindo sobre um trabalho específico. Também não farei uma bandeira do fato de estar documentando em vídeo e expondo antecipadamente ao público o processo de criação (nunca me imaginei fazendo isso...), de estar fazendo um crowdfunding ou escrevendo uma mensagem como esta. A experiência, como um todo, está sendo muito rica. Já a considero bem sucedida, independentemente de seu resultado final. Mas não sei se a repetirei um dia. Cada trabalho tem suas particularidades e sua circunstância. Para o que é mesmo que estou escrevendo agora? Ah, trago notícias. GRAVAÇÕES Comecei gravando sozinho, violões e vozes, durante dez dias, no estúdio Circo Beat, em Buenos Aires, coisa que eu queria fazer há muito tempo, porque em outros trabalhos a voz e o violão sempre ficavam para o final, num momento em que, depois de outros instrumentos, já não havia mais espaço suficiente para eles no espectro sonoro. O som do violão, um Martin EC, ficou espetacular, graças a Matias Cella, técnico responsável pelas gravações (no Brasil o conhecem como produtor de Amar la trama, de Jorge Drexler), um craque argentino que meu filho Ian considera “o cara mais legal do mundo”. Nesta primeira etapa, recebi meu primeiro convidado, o também argentino Carlos Moscardini, brilhante violonista que encantou todo mundo em délibáb, meu disco anterior, e que pode facilmente dividir com o Matias o assento no topo do mundo (desde que leve com ele Nora, sua mulher, que faz asados y alfajores inolvidables). Carlos nunca fez um assado para mim, mas tocou em seis músicas: Ramilonga, Noite de São João, Estrela, Estrela, Semeadura, Deixando o Pago e Tango da Independência. Semeadura deve ficar para bonus track na Internet, com seu respectivo videoclipe. O motivo: soou diferente das demais, e logo no começo do trabalho meu principal critério de seleção foi buscar uma unidade entre músicas de épocas distintas. Eu queria reunir um material que parecesse auto-referenciado, que tivesse unidade harmônica, melódica, poética, interpretativa etc, que sugerisse a construção de uma linguagem particular através do tempo. Pois bem, voltando ao convidado, o Carlos arrasou uma vez mais. E, de quebra, em meio às gravações, ainda se apresentou comigo em Paris, Lisboa, Porto, Montevidéu e Buenos Aires. Depois do Carlos recebi, melhor dizendo, fui recebido, já que gravamos no estúdio dele, o Santiago Vazquez, percussionista argentino, colaborador nos meus discos Tambong e Longes e em inúmeros shows, e que, entre outras proezas, há muito tempo reúne milhares de pessoas em Buenos Aires, todas as segundas-feiras, para apresentações de seu grupo La bomba de tiempo. Mas não vou contar isso agora. Acabo de me dar conta de que este disco tem muitos convidados e que, por isso, o melhor é contar a história em capítulos, para não torrar a paciência de quem lê e também porque estou sem tempo para escrever tudo de uma sentada. Só quero, antes de dizer “até a próxima”, dirigir-me àqueles que estão ligados ou querem se ligar no crowdfunding, nossa campanha para financiamento e difusão de Foi no mês que vem pela Internet. CROWDFUNDING Uma senhora do público me procurou após um espetáculo e perguntou como ficava a questão dos impostos para quem apoiava o projeto via crowdfunding. Alguém quis saber se poderia investir no meu projeto nos moldes dos investimentos em bolsa de valores, entrando com uma soma em dinheiro para sair com outra maior. Houve quem pedisse a minha conta bancária para me depositar diretamente uma grana, alegando não ter muita intimidade com os computadores. A todos respondi que a coisa não era bem assim, que não tinha isso de impostos para os apoiadores, nem de investimentos de risco e que o dinheiro não ia direto para mim, mas sim para uma empresa que o controlava até que o projeto estivesse concluído. Se o crowdfunding fosse exitoso, o dinheiro seria então encaminhado para a realização do projeto. Se não, seria devolvido integralmente aos apoiadores. Expliquei a todos, principalmente, que era um lance muito, mas muito mais simples do que eles imaginavam. Estas e outras dúvidas do público resultam do fato de que o crowdfunding é algo muito novo entre nós. Já expus meu ponto de vista sobre o tema no vídeo que está na página . Quem ainda não viu, pode dar uma conferida. De todo modo, vou tentar dizer aqui mais alguma coisa que seja útil para quem deseja saber mais. Normalmente as tiragens iniciais dos meus discos se esgotam em pouco tempo. Podem não gerar lucro, mas costumam pagar a produção. Portanto, seria mais cômodo, ainda que menos excitante, simplesmente gravar o disco e esperar que as pessoas fossem às lojas a partir da data de lançamento e o comprassem. Digo menos excitante porque as implicações culturais e até políticas a que me referi em meu depoimento no vídeo ficariam de fora desse processo. A maior comodidade seria porque há muito de doação da parte de quem realiza uma campanha de crowdfunding como a nossa, doação que é uma espécie de contrapartida subjacente a todas as outras, oferecidas objetivamente. Nosso comprometimento emocional, ideológico, artístico, financeiro e mesmo físico é enorme. Vocês não fazem ideia do que é tocar um projeto tão grande como este e ao mesmo tempo fazer uma campanha de financiamento coletivo acontecer! Em resumo, dá muito trabalho. Desde o começo nos impusemos a missão de mobilizar e aglutinar gente, de conhecer e ser conhecido mais de perto pelo público. E sempre entendemos que todos tinham de sair ganhando com a ideia, ganhando em todos os sentidos. Por isso as contrapartidas que bolamos são tão boas. Não tenho dúvida de que o são. Tivemos de nos policiar para fazer a coisa de modo a não terminarmos pagando para realizar a campanha. Alguns crowdfundings oferecem ao público apenas um “muito obrigado”, especialmente naqueles casos em que a causa em questão não tem quase nada de concreto para dar em troca do apoio do público. Não é o nosso caso. Estamos produzindo um disco que é associado a um songbook, que está sendo documentado em vídeo, que faz parte de um contexto de outras obras com suportes físicos etc. A lógica é que os apoiadores tenham acesso facilitado a tudo isso e, de nossa parte, é irresistível o desejo de fazer com que o resultado do nosso trabalho chegue às mãos deles, no Brasil e no exterior, numa época em que se fala tanto da morte iminente do disco, do livro e de outros produtos culturais. Quando me apresento no exterior e convido o público a fazer parte do nosso crowdfunding, costumo dizer que, à parte o sentido da mobilização em si, trata-se também de uma maneira garantida de fazer com que o meu disco (e o que mais elas quiserem do que é oferecido na lista de contrapartidas) chegue até elas, já que os selos que editam discos estão desaparecendo, bem como as lojas de CDs, ou seja, já que o mercado da música está todo desorganizado e em evidente agonia. Para o contexto brasileiro não é muito diferente. Talvez um dia seja corrente o artista se comunicar diretamente com o público e enviar a ele a sua produção, sempre a um custo menor do que aquele determinado pelos atravessadores. E talvez só a Internet possa proporcionar isso. O crowdfunding, com sua forma simples e inteligente, parece ser só o começo. Já convidei muita gente para dar uma espiada na ideia que está por trás de Foi no mês que vem e desta campanha. Agora, depois de mais de metade do caminho percorrido e de mais de 80% da meta mínima alcançada, faço o convite outra vez, até porque, como disse antes, não tenho dúvidas de que muita gente mais gostaria de estar nisso, mas ainda não entendeu bem como a coisa funciona ou qual o sentido de participar. Para nós, quanto mais gente vier agora, maior será a nossa rede de comunicação, garantindo assim um maior desdobramento artístico no futuro. Maior será também a segurança que teremos para investir na produção deste trabalho de modo a atingir o mais alto padrão de qualidade técnica e artística possível, especialmente se superarmos a meta mínima e chegarmos perto de cobrir o custo total. Estou entusiasmado por fazer um disco com a colaboração de artistas que admiro muito e do público que me acompanha, neste caso, literalmente e em tempo quase real. É a música e a poesia reverberando, ao mesmo tempo, dentro e fora do estúdio. Sei que estou aqui e agora, mas sei também que tudo isso foi no mês que vem.