Yorranna Oliveira

Achei a imagem aí de cima pesquisando no Google. E ela define perfeitamente um pouco do que eu sou e da proposta do blog: tem de tudo um pouco, e um pouco de quase tudo o que gosto. Aqui você vai encontrar sempre um papo sobre música, cinema, comunicação, literatura, jornalismo, meio ambiente, tecnologia e qualquer outra coisa capaz de me despertar algo e a vontade de compartilhar com vocês. Entrem e divirtam-se!

domingo, 28 de agosto de 2011

Vida de repórter

O destino pode ser um garimpo nos confins da Amazônia, uma comunidade ribeirinha na ilha do outro lado do rio. Um casarão centenário que sobrevive ao tempo e à pressa da metrópole; ou o último manicômio paraense, cujos hóspedes, a família e o mundo preferiram esquecer. Não importa o lugar, se há boas histórias é pra lá que o repórter Ismael Machado vai, para ouvi-las e depois nos contar. É o que ele faz no livro “Sujando os sapatos: o caminho diário da reportagem”, lançado este mês no Instituto de Artes do Pará (IAP).


“Sujando os sapatos” traz 19 matérias feitas por Machado ao longo de três anos para o jornal ‘Diário do Pará’, e, selecionadas com a ajuda de amigos para compor a coletânea. São reportagens sobre gente comum. Anônima. Gente que quase sempre ninguém vê. São matérias que mostram uma constante busca do repórter pelo lado mais humano do Jornalismo. Reunidos em livro, os textos representam um momento específico das duas décadas de Ismael na profissão.

“A ideia surgiu há tempos recentes. Comecei a ler livros semelhantes e perceber que, de certa forma, possuía material para algo desse tipo. O fato de começar a lecionar Jornalismo também influenciou nisso. Acho que é o momento ideal também de prestar contas comigo mesmo sobre o que fiz. Essa é uma maneira de pensar. A outra é que o trabalho no Diário foi um dos mais inspiradores que fiz. Um dos que mais me satisfizeram”, diz.

Além de apresentar textos que fogem ao jeito burocrático e sem vida de escrever, o livro convida o leitor por uma viagem pelo que o jornalista Ricardo Kotscho, autor do prefácio da obra, define como “Amazônia profunda”. A diferença é que quem narra cada história é alguém da própria Amazônia. Ismael não sabe bem o significado de ser um repórter da Amazônia, nem como isso influencia a forma como escreve. Mas acredita que seu trabalho se tornou o avesso dos estereótipos concebidos sobre a região.

“Já li de repórteres que não são daqui escrevendo sobre a Amazônia. A terra exótica e sem lei. A floresta. Essas coisas. Vivi isso quando fui correspondente do Globo. Sei mais ou menos o que se espera de reportagens daqui. O problema é que nós mesmos não assumimos esse protagonismo de contar a nossa história”, opina.

Repórter tem de sujar os sapatos
O título do livro é uma referência à frase do jornalista Ricardo Kotscho, profissional que Ismael admira e compartilha ideias sobre o Jornalismo. Para Machado, repórter precisa ir para rua e sujar os sapatos, porque é na rua que a vida acontece.

“O Kotscho é um dos grandes repórteres da história do Brasil. Tem uma visão humanista do mundo que me agrada bastante e uma humildade como repórter que é fundamental nesse ofício. Eu o conheci numa reportagem sobre a busca de ossadas de guerrilheiros no sudeste do Pará. Éramos os dois únicos repórteres que tiveram a curiosidade e a paciência de ir com as equipes de busca. Os outros aguardavam numa tenda montada pelo exército longe dali. E ele elogiou minha postura, o que pra mim foi o maior dos elogios”, recorda.

Mas esse turismólogo de formação, professor universitário, e jornalista por vocação se recusa a ser exemplo. “Cada um tem o exemplo que lhe cabe. Não sou um bom repórter investigativo, não sou um repórter de furos, denúncias, não sou repórter político, não sou repórter influente, não tenho grife. Então, se for pensar por esses termos, acho que não sou um bom exemplo. Isso é por conta de cada um. Minha jornalista preferida se chama Ana Maria Bahiana. É jornalista cultural, referência para gerações inteiras. Mas...qual o grande furo dela?”, questiona.

Jornalista “sem grife”, Ismael sempre teve uma atração maior pelos personagens à margem. Mesmo que, para chegar até eles, o repórter precise percorrer caminhos onde a rua pode deixar de ser de asfalto e se transforme em terra batida, estrada esburacada ou até mesmo um rio. “Gosto de viajar. Por rios, por estrada. Gosto de conhecer comunidades distantes, diferentes. Gosto de me embrenhar no mato”, diz. E o jornalista ainda pretende continuar se embrenhando.

“Acho que gostaria de fazer dois tipos de matérias. Uma que fosse sobre a Transamazônica. Não seria inédita, mas me agradaria muito cruzá-la. E outra seria pegar um barco e ir entrando em furos de rios, conhecendo moradores desses locais. Fiz algo assim com o rio Guamá, que está nesse livro”, adianta.

De todas as histórias que integram “Sujando os sapatos”, a que, talvez, Machado mais goste, reafirma esse jeito de quem se preocupa apenas em contar histórias. “Acho que a matéria que abre o livro, a das irmãs do casarão antigo, me dá uma satisfação maior. Talvez nem seja grande jornalismo, mas é algo que me dá um retorno pessoal imenso. Valeu por tudo o que fiz na vida jornalística”, afirma.

Em “Sujando os sapatos”, Ismael Machado comenta os bastidores de cada matéria, com impressões e detalhes sobre como a pauta surgiu até chegar às mãos dos leitores. É um livro tanto para estudantes de Jornalismo como para qualquer pessoa que goste de boas histórias.

Sobre o autor – Ismael Machado é jornalista e professor de Jornalismo na Faculdade de Estudos Avançados do Pará (Feapa). Em 1997, publicou de forma independente o livro de contos “Vapor Barato – O amor em tempos de Aids”. Em 2004, o jornalista, apaixonado por música, lançou “Decibéis sob mangueiras: Belém no cenário rock Brasil dos anos 80”.

Serviço:
Livro “Sujando os sapatos: o caminho diário da reportagem”, de Ismael Machado.
Valor do livro: 35 reais
Informações: (91) 8716-5807
Onde comprar:
Editora Paka-Tatu: Travessa 14 de Março, esquina com a Rua Oliveira Belo.
Loja Ná Figueredo (Estação das Docas).
Revistaria do Renato (Yamada Plaza).
Revistaria Paraense (Líder Doca).
Revistaria do Fábio( Serzedelo Correa com Brás de Aguiar).
Banca do Alvino (Praça da República).
Fox Vídeo(Dr. Moraes).
Sindicato do Jornalistas - Seção Pará (Sinjor - PA).
Livraria Humanitás -(UFPA).
Fábrika Estúdio.



sexta-feira, 19 de agosto de 2011