Yorranna Oliveira

Achei a imagem aí de cima pesquisando no Google. E ela define perfeitamente um pouco do que eu sou e da proposta do blog: tem de tudo um pouco, e um pouco de quase tudo o que gosto. Aqui você vai encontrar sempre um papo sobre música, cinema, comunicação, literatura, jornalismo, meio ambiente, tecnologia e qualquer outra coisa capaz de me despertar algo e a vontade de compartilhar com vocês. Entrem e divirtam-se!

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Marina no PV

Fonte: Valor Econômico

"Funciono por metáforas", avisou a senadora Marina Silva ontem de tarde durante a sua filiação ao Partido Verde, em uma casa de eventos de São Paulo. Em seguida recitou um trecho de Guimarães Rosa para situar os 30 anos de trajetória política no PT, encerrada há poucos dias: "Será que você seria capaz de se esquecer de mim, e, assim mesmo, depois e depois, sem saber, sem querer, continuar gostando? Como é que a gente sabe?". Enxugou lágrimas, comoveu as 1.200 pessoas da plateia e prosseguiu, saudando os colegas do novo partido com Santo Agostinho: "Tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei. É que estavas dentro de mim e eu estava fora de mim!" A plateia se levantou e reagiu: "Brasil, urgente, Marina Presidente!".

Sua possível candidatura à Presidência da República em 2010 depende, agora, do que ela vem chamando há dias de "revisão programática do PV". O processo já foi disparado. A intenção é que o PV atualize o programa elaborado em 1994. Uma série de seminários pelo Brasil alimentará a proposta. A estratégia deverá também filtrar os quadros que surgiram mais para preencher o requisito da cláusula de barreira (5% dos votos na Câmara) do que por sintonia com a agenda verde. "Não se trata de nenhuma caça às bruxas", avisa o biólogo João Paulo Capobianco, braço direito de Marina Silva à época do Ministério do Meio Ambiente e uma das 21 pessoas que integram a comissão formada para dar conteúdo ao PV, rever seu programa e ao final, promover uma "repactuação". "Quem não estiver afinado terá que sair", explica Capobianco. Isto feito, uma convenção, no começo de 2010, poderá cravar o nome de Marina Silva à disputa presidencial.

"Não tenho mais a ilusão da juventude, do partido perfeito, mas acredito que homens e mulheres de bem podem aperfeiçoar as instituições", disse ela. "Alianças são heterogêneas em todos os partidos, isso não é privilégio do PV", contextualizou, para, em seguida, falar na estratégia de construção de alianças e que deve levar em conta mulheres, jovens, empresários, movimentos sociais, academia, evangélicos, católicos. "Não devemos fazer nenhum apartamento de classes", sugeriu.

Marina Silva contou que no processo de desligamento do PT ouviu que não podia promover seu projeto de desenvolvimento sustentável para o Brasil dentro do partido que ajudou a fundar. "Concluí que não queria mais o embate para convencer daquilo que o mundo inteiro já está convencido" e que "buscaria o encontro com os que já estão convencidos." Continuou: "Não é um novo caminho, é uma nova maneira de caminhar". Na entrevista coletiva depois da filiação, sugeriu: "Precisamos permitir que surjam novas lideranças, com novos pensamentos, novas linguagens".

Ontem, saudada como o novo e mais brilhante nome do Partido Verde, a filiação de Marina Silva dava nova estatura ao PV. "Para mim é um momento de esperança da renovação verde, em sintonia com uma onda mundial de renovação política, com ecologia, e que é maior que os partidos", festejava Thomas Fatheuer, diretor-executivo da Fundação Heinrich Boell no Brasil, ligada ao movimento verde alemão. "Vivemos um momento especial, conectado com o futuro" disse a francesa Catherine Greeze, deputada dos verdes no Parlamento Europeu. Mario Mantovani, diretor da SOS Mata Atlântica, era outro que comemorava: "Nunca tanta gente me pediu ajuda para montar plataformas políticas ambientais", disse. "O efeito-Marina explodiu."

"Marina extrapola o sentimento partidário", avaliava José Rubens Pereira Gomes, o presidente do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), que reune 623 grupos sociais da Amazônia. "Quando ela se candidatou a senadora pelo Acre, a mobilização era nacional, nunca vi isto antes."

Mas os desafios, agora, estão em lente de aumento. O deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) dava pistas. "Tratamos da Amazônia e do buraco da camada de ozônio, mas também devemos tratar de temas menos glamourosos na Europa como as nove milhões de crianças no Brasil sem saneamento básico. O PV tem que dizer algo sobre violência urbana, tem que propor algo neste sentido."

"Fico honrada com o convite para ser candidata e pelo acolhimento popular, mas a minha decisão só acontecerá em 2010", avisou Marina ao deixar a festa onde gente de cabelo verde e gente com cachorros vestidos com slogans se misturava a atores como Cristiane Torloni e Victor Fasano, militantes, políticos, representantes indígenas, estudantes, empresários, professores e ambientalistas.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Momentos congelados


Foto: Hélder


Essa é uma das poucas fotos que conseguiram eternizar um momento, um instante. Queria esses cachos dourados, esse olhar juvenil até o fim. Mas sei que não será sempre assim. Congelo o momento, como tantos outros, na minha memória e neste espaço.

"Quando somente amar não basta"



Por Murilo Basso

Existem certas coisas com os quais você nunca aprende a conviver. O fim de um relacionamento, por exemplo, é uma delas. Nos deixa apreensivos, mas não podemos afirmar que seja uma tristeza, daquelas que irão nos acompanhar pelo resto de nossas vidas. É algo mais próximo da sensação de que algo está faltando. Ou melhor, de que por um determinado período, algo vai começar a faltar.

Quando Adriana (Érika Mader) se aproxima de Antônio (Gregório Duvivier), não era preciso dizer nada; ambos já sabiam que acabou. Até podem não querer acreditar ou aceitar, mas sabem. E “Apenas o Fim” é isso: a última hora de um casalzinho pra lá de clichê, a menina bonitinha que de repente decidiu sumir e o nerd fã de Star Wars que fica sem saber o que fazer (a culpa não é dele: quase ninguém sabe).

Como pano de fundo para a história mescle todos os elementos que julgar interessantes na cultura pop nos últimos dez anos, das Tartarugas Ninjas ao Super Nintendo, e tente dialogar com uma geração que fora diretamente influenciada por toda essa cultura – porque, para grande parte dela, “Transformers é melhor que todos os filmes do Godard”. Juntos!

E a tal última hora segue com Pokémons, Vovó Malfada e Hobbits (aliás, Peter Jackson certamente iria sorrir com a citação), em meio a risos e lágrimas que a simplicidade das situações vividas por Antônio e sua namorada proporcionam e, de algum modo, conseguem provocar pela maneira desavergonhada como são expostas, sem perder a leveza e usando o humor como disfarce para a profunda melancolia da história.

A forma como é retratada uma história pra lá de emotiva pode até parecer doce, ingênua ou até mesmo “adolescente” demais, mas todos que já viveram algum romance na vida sabem do que se trata e se sentem um pouco confortados; de lá pra cá, muita coisa mudou (ou, dependendo do ponto de vista, praticamente nada) e agora você sabe que não está sozinho no mundo.

Fruto de um projeto de alunos do curso de cinema da PUC-Rio com roteiro e direção de Matheus Souza, de apenas 20 anos, e orçamento bastante limitado, “Apenas o Fim” é o típico exemplo de algo que tinha tudo para dar errado (pelo pouco dinheiro, pela inexperiência), mas deu certo – muito certo. A influência direta é Woody Allen banhado em cultura pop, mas o filme também segue a linha inteligente da dobradinha “Antes do Amanhecer / Antes do Pôr-do-sol”, de Richard Linklater.

O jovem diretor faz uma espécie de recorte da realidade, investindo em diálogos rápidos e inteligentes, doses certas de bom humor e atuações seguras e competentes. Principalmente, Matheus Souza usa as limitações a favor da trama. A narrativa esbarra na pieguice em determinados momentos, mas acaba se justificando no discurso extremamente sincero dos personagens. E prova que pode sim existir vida inteligente na comédia romântica nacional.

“Apenas o Fim” é sobre quando somente amar não basta. É sobre quando a vontade de fugir só é maior que o medo de ficar. E, principalmente, sobre o amor e o fato dele andar lado a lado com as idéias mais loucas. É uma busca pelo futuro contido no presente. Nos faz pensar que algumas vezes, é preciso continuar em frente e a grande ironia é que muitas pessoas – eu, você e a maioria delas – não sabe seguir seu caminho. Afinal, já dizia Bob Dylan: “É impossível amar e ser esperto ao mesmo tempo”. Concorda? Bem, concordando ou não, dê uma chance.

http://screamyell.com.br/site/2009/08/26/apenas-o-fim/

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Sem Raul

Materinha no site da amiga Carol Peres sobre Raul Seixas...

Para ler o texto, clique no link abaixo:
http://noticiasfoliacultural.blogspot.com/2009/08/o-site-folia-cultural-e-um-espaco.html

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Audiências de Belo Monte ocorrem em setembro

Carolina Medeiros

A hidrelétrica de Belo Monte (PA, 11.233 MW) terá quatro audiências públicas que estão previstas para a primeira quinzena de setembro. A informação foi dada nesta segunda-feira, 24 de agosto, pelo presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopes, durante o IV Seminário Internacional do Setor de Energia Elétrica. "As audiências públicas acontecerão nas cidades de Belém, Altamira, e cidades vizinhas à usina", contou o executivo. O empreendimento encontra-se em processo de licenciamento.

O prazo para requisição de audiências encerra-se no próximo dia 5 de setembro, segundo o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e o plano do governo é de licitar a usina ainda neste ano. Quanto ao custo total do empreendimento, Muniz lembrou que o empreendimento deverá ficar entre US$ 1.000 e US$ 3.000 por kW. "De US$ 1.000 a US$ 3.000 por kW é a faixa de preço de uma boa hidrelétrica. Se considerarmos US$ 1.000 por kW, já teríamos US$ 11 bilhões", estimou. Considerando o teto, o montante passa para US$ 33 bilhões.

Transmissão - O sistema de transmissão de Belo Monte, de acordo com ele, será constituído pela linha de transmissão Tucuruí - Manaus-Macapá, que já está em implantação. Muniz explicou que a linha já prevê a instalação de uma estação coletora para a usina. "Nós temos um circuito duplo ligando Tucuruí a Manaus. Quando esse circuito duplo passar em Belo Monte, esse circuito, na prática, se transforma em quatro linhas de 500 kV, saindo de Belo Monte", destacou.

Segundo ele, cerca de 10 quilômetros separam Belo Monte da estação coletora e será a única LT a ser construída para a usina. "Por isso, o custo de transmissão será mínimo", disse. Ele contou ainda que não será preciso uma linha de transmissão somente para Belo Monte, porque a idéia é de que parte da energia da usina fique no Pará. "Como existe no Pará inúmeros projetos minero-metalúrgicos, é possível que parte da energia da usina fique no estado, o que faz com que apenas a LT Tucuruí-Manaus resolva", declarou.

Fonte: Canal Energia

domingo, 23 de agosto de 2009

Listinha

Livros que tenho desejado:

Disparos do front da cultura pop
Rock’n’roll: Uma história social
Clube do Filme
1.001 discos para ouvir antes de morrer
As portas da percepção
Almanaque do rock
Bill Graham: Minha vida dentro e fora do rock
Biografias...não tenho biografias de bandas, cantores....
Gente meu niver tá pertinho: 7 de dezembro. Então, já dá pra organizar as finanças e incluir meu presentinho na lista de compras,hehehe!!!!

"Desidratados de sonhos"

Por Dani Franco

Políticos, militantes, ambientalistas, jornalistas, estudantes de comunicação. Todos queriam chegar perto daquela que é apontada como uma das 50 pessoas que podem salvar o planeta. Marina Silva dispensa apresentações, sua presença é sentida ao largo e seu discurso entra como flecha certeira em cada mente atenta.

Convidada pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), para palestrar na 7ª edição do projeto “Jornalismo Ambiental: os desafios da cobertura na Amazônia”, em Belém, na última quinta-feira, dia 20; Marina Silva chegou à cidade já em clima de campanha.

Militantes do Partido Verde a acompanharam desde o aeroporto até o Teatro Maria Sylvia Nunes, na Estação das Docas, onde uma hora antes do evento uma aglomeração já se formava. As camisetas dos partidários informaram: “Marina é Amazônia”. E é o que parece mesmo. Não é difícil ver na senadora um sinônimo para a região, a singeleza e grandeza de uma podem ser facilmente representadas na outra.

Do lado de fora do complexo da Estação das Docas, Marina foi parada pela imprensa e informou que responderia a todos ali mesmo, pois não queria dar entrevistas “picotadas”. Depois, durante a palestra no teatro, ela se justificaria dizendo que por ser produto da notícia, é comum ver suas falas serem descontextualizadas.

- O problema é dizer parte da verdade como se fosse a verdade - avisou.

Foi assim, relembrando a ética, conclamando-a como imperativo deste século, que a senadora discorreu por cerca de 40 minutos para as quase 1000 pessoas que superlotaram a mais disputada de todas as edições do evento.

Fora do Teatro, uma fila digna de show de rock no Maracanã. Lá dentro, a força e humildade da senadora hipnotizavam a platéia. Ela disse que não tinha a pretensão de ensinar, mas foi como uma mestra que ela pacientemente explicou quais os desafios deste século, não só para o jornalismo, mas para o ser humano. Um desafio acima de tudo ético.

“Ética é tudo aquilo que promove a vida na Terra”

Ao citar o frei Leonardo Boff, Marina instigou os jornalistas presentes ao dizer que a cobertura jornalística também deve promover a vida da Terra, e que a responsabilidade de nós, que vivemos na Amazônia, é muito importante para fazer entender que o meio-ambiente deve ser integrado ao desenvolvimento.

Seu discurso foi direcionado pelo pensamento do francês Edgar Morin, que dentro de seu conceito de complexidade, assinala a diferença como forma mantenedora das culturas e da sociedade, já que a troca se estabelece nas diferenças. Para o pensador “a mudança, no começo, é apenas um desvio”, portanto devemos verificar o desvio que queremos, e apontou o modelo de desenvolvimento sustentável como um desses possíveis desvios.

Para Marina Silva, a ética é um dever de todos e em todos os aspectos deve permear a conduta dos homens. Ela afirma que este é o momento de se estabelecer uma aliança inter-geracional, já que até aqui o ser humano só foi capaz de pensar no que pode deixar para si e para os seus próximos, como filhos, netos e no máximo bisnetos. Porém, o adiantado da hora nos mostra que o individualismo não cabe mais neste mundo, que já anda escasso de seus recursos.

Longe de ser apocalíptica, Marina relembrou os números dos sociólogos e demais estudiosos, informando que a destruição da Amazônia já chegou em 18% de sua área, e que a colonização nos deixou como herança apenas 7% de toda a Mata Atlântica. Assim, reverter este quadro é antes de tudo um desafio ético, e a falta deste compromisso ético pode nos levar a perder a janela de oportunidades que está aberta no país.

De acordo com a senadora, se faz necessário associar o conhecimento aos recursos e assim, também promover a sustentabilidade cultural, possibilitando o encontro de saberes.

Marina Silva agradeceu a presença dos que estavam ali não por terem ido para vê-la, mas sim por constatar que neste século as pessoas estão se mobilizando por valores, por outras visões de mundo e que esta talvez seja a nova utopia para aqueles que andam desidratados de sonhos.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

"O PV não está preparado para receber Marina"

Local: São Paulo - SP
Fonte: Amazonia.org.br
Link: http://www.amazonia.org.br

O ministro da Cultura Juca Ferreira, principal nome do Partido Verde (PV) no governo federal, disse ontem em entrevista coletiva que seu partido "não está preparado para receber Marina" ao ser questionado sobre a possibilidade de a senadora ingressar no Partido Verde, informam os jornais Folha de S. Paulo e O Globo.

A afirmação foi feita antes de a senadora Marina Silva confirmar a sua saída do Partido dos Trabalhadores (PT).

O ministro criticou fortemente a cúpula do PV, que segundo ele é movida pelo fisiologismo. "O PV é mais problemático que a Marina, porque pagou um tributo às regras da política do Brasil e perdeu muito da qualidade inicial", argumentou.

Juca defendeu uma aliança entre PV e PT em 2010, e disse que a questão ambiental não é suficiente para sustentar uma candidatura presidencial. Apesar disso, avaliou a possível candidatura de Marina como "legítima e positiva", ressaltando o fato de ela ser uma "senadora qualificada".

Saída...

"Hoje lhe comunico minha decisão de deixar o Partido dos Trabalhadores (PT). É uma decisão que exigiu de mim coragem para sair daquela que foi até agora a minha casa política e pela qual tenho tanto respeito, mas estou certa de que o faço numa inflexão necessária à coerência com o que acredito ser necessário alcançar como novo patamar de conquistas para os brasileiros e para a humanidade", assim descreve a senadora Marina Silva, em carta enviada na manhã da última quarta-feira, 19, ao presidente do PT, Ricardo Berzoini, comunicando sua decisão de sair do partido.

De acordo com o texto, este "é o momento não mais de continuar fazendo o embate para convencer o partido político do qual fiz parte por quase trinta anos, mas sim o do encontro com os diferentes setores da sociedade dispostos a se assumir, inteira e claramente, como agentes da luta por um Brasil justo e sustentável, a fazer prosperar a mudança de valores e paradigmas que sinalizará um novo padrão de desenvolvimento para o País".

Veja abaixo a carta na íntegra:

"Brasília, 19 de agosto de 2009

Caro companheiro Ricardo Berzoini,

Tornou-se pública nas últimas semanas, tendo sido objeto de conversa fraterna entre nós, a reflexão política em que me encontro há algum tempo e que passou a exigir de mim definições, diante do convite do Partido Verde para uma construção programática capaz de apresentar ao Brasil um projeto nacional que expresse os conhecimentos, experiências e propostas voltados para um modelo de desenvolvimento em cujo cerne esteja a sustentabilidade ambiental, social e econômica.

O que antes era tratado em pequeno círculo de familiares, amigos e companheiros de trajetória política, foi muito ampliado pelo diálogo com lideranças e militantes do Partido dos Trabalhadores, a cujos argumentos e questionamentos me expus com lealdade e atenção. Não foi para mim um processo fácil. Ao contrário, foi intenso, profundamente marcado pela emoção e pela vinda à tona de cada momento significativo de uma trajetória de quase trinta anos, na qual ajudei a construir o sonho de um Brasil democrático, com justiça e inclusão social, com indubitáveis avanços materializados na eleição do Presidente Lula, em 2002.

Hoje lhe comunico minha decisão de deixar o Partido dos Trabalhadores. É uma decisão que exigiu de mim coragem para sair daquela que foi até agora a minha casa política e pela qual tenho tanto respeito, mas estou certa de que o faço numa inflexão necessária à coerência com o que acredito ser necessário alcançar como novo patamar de conquistas para os brasileiros e para a humanidade. Tenho certeza de que enfrentarei muitas dificuldades, mas a busca do novo, mesmo quando cercada de cuidados para não desconstituir os avanços a duras penas alcançados, nunca é isenta de riscos.

Tenho a firme convicção de que essa decisão vai ao encontro do pensamento de milhares de pessoas no Brasil e no mundo, que há muitas décadas apontam objetivamente os equívocos da concepção do desenvolvimento centrada no crescimento material a qualquer custo, com ganhos exacerbados para poucos e resultados perversos para a maioria, ao custo, principalmente para os mais pobres, da destruição de recursos naturais e da qualidade de vida.

Tive a honra de ser ministra do Meio Ambiente do governo Lula e participei de importantes conquistas, das quais poderia citar, a título de exemplo, a queda do desmatamento na Amazônia, a estruturação e fortalecimento do sistema de licenciamento ambiental, a criação de 24 milhões de hectares de unidades de conservação federal, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e do Serviço Florestal Brasileiro. Entendo, porém, que faltaram condições políticas para avançar no campo da visão estratégica, ou seja, de fazer a questão ambiental alojar-se no coração do governo e do conjunto das políticas públicas.

É evidente que a resistência a essa mudança de enfoque não é exclusiva de governos. Ela está presente nos partidos políticos em geral e em vários setores da sociedade, que reagem a sair de suas práticas insustentáveis e pressionam as estruturas públicas para mantê-las.

Uma parte das pessoas com quem dialoguei nas últimas semanas perguntou-me por que não continuar fazendo esse embate dentro do PT. E chego à conclusão de que, após 30 anos de luta socioambiental no Brasil - com importantes experiências em curso, que deveriam ganhar escala nacional, provindas de governos locais e estaduais, agências federais, academia, movimentos sociais, empresas, comunidades locais e as organizações não-governamentais - é o momento não mais de continuar fazendo o embate para convencer o partido político do qual fiz parte por quase trinta anos, mas sim o do encontro com os diferentes setores da sociedade dispostos a se assumir, inteira e claramente, como agentes da luta por um Brasil justo e sustentável, a fazer prosperar a mudança de valores e paradigmas que sinalizará um novo padrão de desenvolvimento para o País. Assim como vem sendo feito pelo próprio Partido dos Trabalhadores, desde sua origem, no que diz respeito à defesa da democracia com participação popular, da justiça social e dos direitos humanos.

Finalmente, agradeço a forma acolhedora e respeitosa com que me ouviu, estendendo a mesma gratidão a todos os militantes e dirigentes com quem dialoguei nesse período, particularmente a Aloizio Mercadante e a meus companheiros da bancada do Senado, que sempre me acolheram em todos esses momentos. E, de modo muito especial, quero me referir aos companheiros do Acre, de quem não me despedi, porque acredito firmemente que temos uma parceria indestrutível, acima de filiações partidárias. Não fiz nenhum movimento para que outros me acompanhassem na saída do PT, respeitando o espaço de exercício da cidadania política de cada militante. Não estou negando os imprescindíveis frutos das searas já plantadas, estou apenas me dispondo a continuar as semeaduras em outras searas.

Que Deus continue abençoando e guardando nossos caminhos.

Saudações fraternas,

Marina Silva"