Yorranna Oliveira

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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Com os dias contados

Fonte: WWF - Brasil

Temos apenas cinco anos para iniciar uma revolução industrial de baixo carbono antes que as mudanças climáticas entrem num ciclo de aumento retroalimentado e não possam mais ser contidas. Esse é o resultado do novo estudo da Rede WWF: Soluções Climáticas 2. A boa notícia: isso é possível e, a longo prazo, há grandes benefícios para a humanidade.

Pela primeira vez um relatório sugere cronogramas para as transformações industriais necessárias para limitar as emissões globais de gases de efeito estufa para que o aumento médio da temperatura do planeta se limite a 2 ? C, se comparado a temperatura do período pré-industrial. Esse é o patamar considerado seguro pelos cientistas que estudam o aquecimento global.

O relatório da Rede WWF foi elaborado pela empresa Climate Risk, conhecida pelo seu trabalho na área de mudanças climáticas para seguradoras e construtoras da área de infraestrutura.

O estudo concluiu que para os países que possuem economia de mercado, depois de 2014, o crescimento industrial desordenado tornará impossível o cumprimento das metas de redução necessárias para manter o aquecimento global abaixo de 2 ° C. O relatório também revela que as medidas de mercado por si só não serão suficientes para obter reduções de emissões na escala necessária e que atrasos no início dessa mudança econômica irá requerer níveis cada vez mais maiores e diretos de intervenção na economia.

"A transformação vai exigir um crescimento de indústrias limpas e eficientes acima de 20% ao ano durante um período de décadas", afirma Kim Carstensen, líder da Iniciativa Global da Rede WWF sobre Clima. "As modelagens do relatório Soluções Climáticas 2 mostram como podemos sustentar essas taxas de crescimento, mas também deixa claro será a revolução industrial mais rápida que a humanidade já testemunhou", aponta.

"O resultado deste relatório é, na verdade, um aviso pragmático, sério e urgente aos líderes mundiais de que há uma chance para deter o aquecimento global, mas temos de agarrá-la rapidamente", analisa Carstensen.

O caminho a seguir, de acordo com o relatório, é a ação simultânea de redução das emissões de gases de efeito estufa em todos os setores, com as medidas de mercado apoiadas por várias políticas como estabelecimento de padrões de eficiência energética, atribuição de tarifas diferenciadas para energias renováveis e o fim dos subsídios para a utilização de combustíveis fósseis.

Os modelos e dados históricos mostram que o desenvolvimento seqüencial das indústrias, que resultaria da confiança indevida em um único mecanismo, como o aumento do preço do carbono, tornará impossível o cumprimento das metas de redução de emissões a tempo. Indústrias tentarem se adequar ao sistema depois terão de crescer mais rápido e serão mais duramente afetadas pelas de recursos disponíveis e especialização técnica.

"Esta análise mostra que podemos vencer a luta contra as mudanças climáticas perigosas se transformarmos todos os setores da nossa economia ao mesmo tempo, com foco em setores-chave e criação de ambientes de investimento estáveis a longo prazo que não busquem retorno dos investimentos no curto prazo", afirma Stephan Singer, líder da Iniciativa Global de Energia da Rede WWF.

Os setores que vão liderar essa transformação são geração de energia renovável, eficiência energética, agricultura sustentável de baixo carbono, políticas florestais sustentáveis e captura e armazenamento de carbono. Esta análise mostra que o Brasil deve se preparar hoje para um futuro de baixo carbono, atento a novas oportunidades e mantendo seu crescimento econômico competitivo e limpo.

Com a revolução industrial limpa em curso e apoiada por uma estrutura política forte, todas as fontes de energias renováveis se tornarão competitivas em comparação aos combustíveis fósseis entre 2013 e 2025. Essa é uma estimativa muito conservadora que se baseia em aumentos anuais de preços da ordem de 2% para os combustíveis fósseis e nenhuma elevação no preço do carbono.

"O vento, o mar e o sol vão custar o mesmo hoje, amanhã e no futuro, ao contrário do carvão", aponta Singer. "Esses elementos podem ser a base para um mundo mais limpo, onde o abastecimento de energia é mais seguro e temos mais chance de evitar o superaquecimento do planeta. Dessa forma, não estarão em risco nossas cidades, a produção de alimentos e o meio ambiente."

O Soluções Climáticas 2 calcula que o investimento extra a nível mundial deverá ser de 17 trilhões de dólares até 2050, ou 10 vezes o PIB brasileiro em 2008. Estima-se que o valor injetado volte aos bolsos dos investidores em 2027 e, em alguns casos, até mesmo antes.

Na área de tecnologias renováveis, o investimento acumulado em todo o mundo até 2050 totalizará 7 trilhões de dólares. Porém, espera-se que os investidores recebam de volta de cerca de seis vezes mais que o valor inicial.

"O relatório estabelece um limite que não podemos ultrapassar", diz Castensen. "Ele reforça que estamos num momento crucial de nossa história em que o que fizermos agora determinará o futuro da humanidade."

"A base para essa transformação tem de ser estabelecida em Copenhague em dezembro, com a assinatura de um acordo global de clima justo, eficiente e ambicioso".

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