Yorranna Oliveira

Achei a imagem aí de cima pesquisando no Google. E ela define perfeitamente um pouco do que eu sou e da proposta do blog: tem de tudo um pouco, e um pouco de quase tudo o que gosto. Aqui você vai encontrar sempre um papo sobre música, cinema, comunicação, literatura, jornalismo, meio ambiente, tecnologia e qualquer outra coisa capaz de me despertar algo e a vontade de compartilhar com vocês. Entrem e divirtam-se!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

"Velas na Tapera"

Esse é o título do primeiro romance do escritor, poeta e dramaturgo Carlos Correia Santos. "Velas na Tapera" foi lançado ontem, no Centur,no hall da Galeria Ismael Nery. Nery por sinal, já fez parte de uma dos mais famosos textos de Carlos: Nu Nery. A trama de "Velas" se passa em Fordlândia, uma cidade erguida pela Cia Ford nas entranhas da Floresta Amazônica, no interior do Pará, nos anos 20. A empresa produzia látex usado na fabricação de pneus, que seriam utilizados pela empresa automobilística.

Carlos Correia postou em seu blog, logo quando saiu o resultado do concurso, em setembro deste ano. Acompanhe:

PARTE SEGUNDA

Trecho XXIII

O sol. Aceso. Vela sazonal no céu azul. A acender memórias e sensações. Foi como se o sol mais forte ficasse quando Rita serenou seus passos descalços em frente ao grandioso prédio da antiga serraria. A luz do dia clareou distâncias nos olhos da mãe viúva-órfã. Distâncias no tempo. Antes de prosseguir com o que fora ali fazer, correu um demorado apreciar pela fachada do lugar. O silêncio da ruína. Era possível enxergar silêncios no lento desfazer-se exposto pelo prédio. E seu lento apreciar foi deslizando pelos detalhes todos. A estrutura ampla e alta, dona de contornos geométricos. Inteira fabricada em Michigan e transportada peça por peça para ser montada naquelas paragens... Tudo transformado em mutismo... Tudo... Deixou o esquadrinhar fluir para a ainda imponente caixa d´água que ficava a alguns metros. Trouxe-o de volta para a construção a sua frente...

Respirou fundo.

Por fim, iniciou o resgate que decidira dar a si mesma. Num mover-se quase imaginário, entrou na abandoada serraria. Primeiro aquilo. Naturalmente aquilo: o vazio de um interior estagnado. Caminhou, caminhou. Passou pelos restos de maquinário. Deslizou a ponta dos dedos por equipamentos inertes, a um triz da ferrugem. Esquivou-se languidamente de sobras de vigas e restos de tábuas. Caminhou e caminhou pelo mudo presente de um rico passado...

O passado... Um longo migrar de ar pelas narinas.... O passado...

Era hora de trazer para o presente o passado...

Fechou os olhos lentamente.

E quando os reabriu...

A pleno pique funcionava a serraria do projeto Ford. Era preciso manter a produção de quarenta e cinco mil tábuas por mês. Era preciso. Talvez os homens todos que ali arrastavam horas e mais horas de trabalho sequer soubessem, mas suavam sua labuta na maior serraria da América Latina de então. A madeira gritando no corte preciso graças ao que parecia milagre: energia elétrica no meio da mata. Homens do mundo inteiro. Jornada intensa carregada nos ombros de homens do mundo inteiro. Entre eles, compenetrado, movimentos todos doados ao produzir... O texano Duncan Miller... As retinas de Rita cristalizaram-se... Era Duncan... Outra vez como sempre: inteiro perfeição para seus olhos... (...)

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