Por Dani Franco
Políticos, militantes, ambientalistas, jornalistas, estudantes de comunicação. Todos queriam chegar perto daquela que é apontada como uma das 50 pessoas que podem salvar o planeta. Marina Silva dispensa apresentações, sua presença é sentida ao largo e seu discurso entra como flecha certeira em cada mente atenta.
Convidada pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), para palestrar na 7ª edição do projeto “Jornalismo Ambiental: os desafios da cobertura na Amazônia”, em Belém, na última quinta-feira, dia 20; Marina Silva chegou à cidade já em clima de campanha.
Militantes do Partido Verde a acompanharam desde o aeroporto até o Teatro Maria Sylvia Nunes, na Estação das Docas, onde uma hora antes do evento uma aglomeração já se formava. As camisetas dos partidários informaram: “Marina é Amazônia”. E é o que parece mesmo. Não é difícil ver na senadora um sinônimo para a região, a singeleza e grandeza de uma podem ser facilmente representadas na outra.
Do lado de fora do complexo da Estação das Docas, Marina foi parada pela imprensa e informou que responderia a todos ali mesmo, pois não queria dar entrevistas “picotadas”. Depois, durante a palestra no teatro, ela se justificaria dizendo que por ser produto da notícia, é comum ver suas falas serem descontextualizadas.
- O problema é dizer parte da verdade como se fosse a verdade - avisou.
Foi assim, relembrando a ética, conclamando-a como imperativo deste século, que a senadora discorreu por cerca de 40 minutos para as quase 1000 pessoas que superlotaram a mais disputada de todas as edições do evento.
Fora do Teatro, uma fila digna de show de rock no Maracanã. Lá dentro, a força e humildade da senadora hipnotizavam a platéia. Ela disse que não tinha a pretensão de ensinar, mas foi como uma mestra que ela pacientemente explicou quais os desafios deste século, não só para o jornalismo, mas para o ser humano. Um desafio acima de tudo ético.
“Ética é tudo aquilo que promove a vida na Terra”
Ao citar o frei Leonardo Boff, Marina instigou os jornalistas presentes ao dizer que a cobertura jornalística também deve promover a vida da Terra, e que a responsabilidade de nós, que vivemos na Amazônia, é muito importante para fazer entender que o meio-ambiente deve ser integrado ao desenvolvimento.
Seu discurso foi direcionado pelo pensamento do francês Edgar Morin, que dentro de seu conceito de complexidade, assinala a diferença como forma mantenedora das culturas e da sociedade, já que a troca se estabelece nas diferenças. Para o pensador “a mudança, no começo, é apenas um desvio”, portanto devemos verificar o desvio que queremos, e apontou o modelo de desenvolvimento sustentável como um desses possíveis desvios.
Para Marina Silva, a ética é um dever de todos e em todos os aspectos deve permear a conduta dos homens. Ela afirma que este é o momento de se estabelecer uma aliança inter-geracional, já que até aqui o ser humano só foi capaz de pensar no que pode deixar para si e para os seus próximos, como filhos, netos e no máximo bisnetos. Porém, o adiantado da hora nos mostra que o individualismo não cabe mais neste mundo, que já anda escasso de seus recursos.
Longe de ser apocalíptica, Marina relembrou os números dos sociólogos e demais estudiosos, informando que a destruição da Amazônia já chegou em 18% de sua área, e que a colonização nos deixou como herança apenas 7% de toda a Mata Atlântica. Assim, reverter este quadro é antes de tudo um desafio ético, e a falta deste compromisso ético pode nos levar a perder a janela de oportunidades que está aberta no país.
De acordo com a senadora, se faz necessário associar o conhecimento aos recursos e assim, também promover a sustentabilidade cultural, possibilitando o encontro de saberes.
Marina Silva agradeceu a presença dos que estavam ali não por terem ido para vê-la, mas sim por constatar que neste século as pessoas estão se mobilizando por valores, por outras visões de mundo e que esta talvez seja a nova utopia para aqueles que andam desidratados de sonhos.
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