Yorranna Oliveira

Achei a imagem aí de cima pesquisando no Google. E ela define perfeitamente um pouco do que eu sou e da proposta do blog: tem de tudo um pouco, e um pouco de quase tudo o que gosto. Aqui você vai encontrar sempre um papo sobre música, cinema, comunicação, literatura, jornalismo, meio ambiente, tecnologia e qualquer outra coisa capaz de me despertar algo e a vontade de compartilhar com vocês. Entrem e divirtam-se!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Um olhar sobre a impresa

Luís Gonzaga Belluzzo

Eu estava na ante-sala de uma médica, em Salvador. Sábado, dia 29 de agosto. E
apenas por essa contingência, dei-me de cara com uma chamada de primeira página
- uma manchetinha - da revista Época, já antiga, de março deste ano de 2009: "A
moda de pegar rico" - as prisões da dona da Daslu e dos diretores da Camargo
Corrêa.

Alguém já imaginou uma manchete diferente, e verdadeira como por exemplo, A moda
de prender pobres? Ou A moda de prender negros? Não, mas aí não. A revolta é
porque se prende rico. Rico, mesmo que cometendo crimes, não deveria ser preso.

Lembro isso apenas para acentuar aquilo que poderíamos denominar de espírito de
classe da maioria da imprensa brasileira. Ela não se acomoda - isso é preciso
registrar. Não se acomoda na sua militância a favor de privilégios para os mais
ricos. E não cansa de defender o seu projeto de Brasil sempre a favor dos
privilegiados e a favor da volta das políticas neoliberais. Tenho dito com certa
insistência que a imprensa brasileira tem partido, tem lado, tem programa para o
País.

E, como todos sabem, não é o partido do povo brasileiro. Ela não toma partido a
favor de quaisquer projetos que beneficiem as maiorias, as multidões. Seus olhos
estão permanentemente voltados para os privilegiados. Não trai o seu espírito de
classe.

Isso vem a propósito do esforço sobre-humano que a parcela dominante de nossa
mídia vem fazendo recentemente para criar escândalos políticos. E essa
pretensão, esse esforço não vem ao acaso. Não decorre de fatos jornalísticos que
o justifiquem.

Descobriram Sarney agora. Deu trabalho, uma trabalheira danada. A mídia
brasileira não o conhecia após umas cinco décadas de presença dele na vida
política do país. Só passou a conhecê-lo agora, quando se fazia necessário
conturbar a vida do presidente da República. O ódio da parcela dominante de
nossa mídia por Lula é impressionante. Já que não era possível atacá-lo de
frente, já que a popularidade e credibilidade dele são uma couraça, faça-se uma
manobra de flanco de modo a atingi-lo. Assim, quem sabe, terminemos com a
aliança do PMDB com o PT.

Não, não se queira inocência na mídia brasileira. Ninguém pode aceitar que a
mídia brasileira descobriu Sarney agora. Já o conhecia de sobra, de cor e
salteado. Não houve furo jornalístico, grandes descobertas, nada disso.
Tratava-se de cumprir uma tarefa política. Não se diga, porque impossível de
provar, ter havido alguma articulação entre a oposição e parte da mídia para
essa empreitada. Talvez a mídia tenha simplesmente cumprido o seu tradicional
papel golpista.

Houvesse a pretensão de melhorar o Senado, de coibir a confusão entre o público
e o privado que ali ocorre, então as coisas não deviam se dirigir apenas ao
político maranhense, mas à maior parte da instituição. Só de raspão chegou-se a
outros senadores. Nisso, e me limito a apenas isso, o senador Sarney tem razão:
foi atacado agora porque é aliado de Lula. Com isso, não se apagam os eventuais
erros ou problemas de Sarney. Explica-se, no entanto, a natureza da empreitada
da mídia.

A mídia podia se debruçar com mais cuidado sobre a biografia dos acusadores. Se
fizesse isso, se houvesse interesse nisso, seguramente encontraria coisas do
arco da velha. Mas, nada disso. Não há fatos para a mídia. Há escolhas, há
propósitos claros, tomadas de posição. Que ninguém se iluda quanto a isso.

Do Sarney a Lina Vieira. Impressionante como a mídia não se respeita. E como
pretende pautar uma oposição sem rumo. É inacreditável que possamos nós estarmos
envolvidos num autêntico disse-me-disse quase novelesco, o país voltado para
saber se houve ou não houve uma ida ao Palácio do Planalto. Não estamos diante
de qualquer escândalo. Afinal, até a senhora Lina Vieira disse que, no seu
hipotético encontro com Dilma, não houve qualquer pressão para arquivar qualquer
processo da família Sarney - e esta seria a manchete correta do dia seguinte à
ida dela ao Senado. Mas não foi, naturalmente.

Querem, e apenas isso, tachar a ministra Dilma de mentirosa. Este é objetivo.
Sabem que não a pegam em qualquer deslize. Sabem da integridade da ministra. É
preciso colocar algum defeito nela. Não importa que tenham falsificado
currículos policiais dela, vergonhosamente. Tudo isso é aceitável pela mídia. Os
fins, para ela, justificam os meios.

Será que a mídia vai atrás da notícia de que Alexandre Firmino de Melo Filho é
marido de Lina? Será? Eu nem acredito. E será, ainda, que ele foi mesmo ministro
interino de Integração Nacional de Fernando Henrique Cardoso, entre agosto de
1999 e julho de 2000? Era ele que cochichava aos ouvidos dela quando do
depoimento no Senado? Se tudo isso for verdade, não fica tudo muito claro sobre
o porquê de toda a movimentação política de dona Lina? Sei não, debaixo desse
angu tem carne.

Mas, há, ainda, a CPI da Petrobras que, como se imaginava, está quase morrendo
de inanição. Os tucanos não se conformam, E nem a mídia. Como é que a empresa
tornou-se uma das gigantes do petróleo no mundo, especialmente agora sob o
governo Lula e sob a direção de um baiano, o economista José Sérgio Gabrielli de
Azevedo? Nós, os tucanos, pensam eles, fizemos das tripas coração para
privatizá-la e torná-la mais eficiente, e os petistas mostram eficiência e ainda
por cima descobrem o pré-sal. É demais para os tucanos e para a mídia, que
contracenou alegremente com a farra das privatizações do tucanato.

Acompanho o ditado popular "jabuti não sobe em árvore". A CPI da Petrobras não
surge apenas como elemento voltado para conturbar o processo das eleições.
Inegavelmente isso conta. Mas o principal são os interesses profundos em torno
do pré-sal. Foi isso ser anunciado com mais clareza e especialmente anunciada a
pretensão do governo de construir um novo marco regulatório para gerir essa
gigantesca reserva de petróleo, e veio então a idéia da CPI, entusiasticamente
abraçada pela nossa mídia. Não importa que não houvesse qualquer fato
determinado. Importava era colocá-la em marcha.

Curioso observar que a crise gestada pela mídia com a tríade
Sarney-Lina-Petrobras, surge precisamente no mesmo período daquela que explodiu
em 2005. Eleições e mídia, tudo a ver. Por tudo isso é que digo que a mídia
constitui-se num partido. Nos últimos anos, ela tem se comportado como a
pauteira da oposição, que decididamente anda perdida. A mídia sempre alerta a
oposição, dá palavras-de-ordem, tenta corrigir rumos.

De raspão, passo por Marina Silva. Ela sempre foi duramente atacada pela mídia
enquanto estava no governo Lula. Sempre considerada um entrave ao
desenvolvimento, ao progresso quando defendia e conseguia levar adiante suas
políticas de desenvolvimento sustentável. De repente, os colunistas mais
conservadores, as revistas mais reacionárias, passam a endeusá-la pelo simples
fato de que ela saiu do PT. É a mídia e sua intervenção política. Marina, no
entanto, para deixar claro, não tem nada com isso. Creio em suas intenções de
intervenção política séria, fora do PT. Neste, teve uma excelente escola, que
ela não nega.

Por tudo isso, considero essencial a realização da I Conferência Nacional de
Comunicação. Por tudo isso, tenho defendido com insistência a necessidade de uma
nova Lei de Imprensa. Por tudo isso, em defesa da sociedade, tenho defendido que
volte a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista.
Por tudo isso, tenho dito que a democratização profunda da sociedade brasileira
depende da democratização da mídia, de sua regulamentação, de seu controle
social. Ela não pode continuar como um cavalo desembestado, sem qualquer
compromisso com os fatos, sem qualquer compromisso com os interesses das
maiorias no Brasil.

Luís Gonzaga Belluzzo é economista da UNICAMP

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