Foto: Luciano Guedes
Ruas estreitas calçadas por paralelepípedos, casarões antigos bem conservados ou relegados ao abandono. Recanto boêmio onde se concentram as misturas culturais de Belém. Por seus encantos, o bairro da Cidade Velha desperta fascínio nos corações mais sensíveis. E abriga em seus prédios, históricos, moradores apaixonados ou simplesmente habituados com a vida e o ritmo próprios do lugar. Esse recanto, que na verdade parece mais um universo à parte na metrópole, ganhou as páginas do livro“Cidade Velha, Cidade Viva.” O título reúne em 153 páginas os artigos produzidos pelos alunos da “Oficina Escola de Escritores”. Uma parceria entre a Associação Cidade Velha – Viva, o Grupo de Memória da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Federal do Pará (UFPa), e a Fundação Curro Velho.
Na obra, passado e presente se encontram. Os escritores apresentam o bairro, ao leitor, sob três aspectos: a Cidade Velha na atualidade, na memória e na história. O exemplar começa em pleno século XXI com os relatos da fotógrafa Walda Marques - dona de um dos bares mais charmosos da região, a Taberna de São Jorge ou Bar da Walda. Daí por diante, a narrativa volta no tempo e chega até a Belém de 1616, através de pesquisas em arquivos e livros feitas pelos escritores, e especialmente por meio da memória oral dos moradores mais antigos do local. Memória resgatada com a série de entrevistas realizadas.
Mesmo quem nunca morou no bairro mais antigo da capital, virou personagem do livro. Foi o caso de seu Arthur Ataíde, entrevistado por um dos escritores da escola, Diego Sabádo. Durante mais de 20 anos, o motorista de táxi conduziu o cantor e compositor Ruy Barata de volta a sua casa, na rua Veiga Cabral. As duas décadas de convivência e amizade são contadas no artigo de Diego “Quando o poeta Ruy Barata foi morador da Cidade Velha”. Apenas três páginas registram as recordações do taxista. Chega a ser uma artimanha perversa do autor, pois acaba-se o texto e fica a vontade de continuar nas lembranças de seu Arthur. Em seguida, sair correndo em seu encalço para proseguir a conversa iniciada no livro.
Processo
Lançado no último domingo(11), “Cidade Velha, Cidade Viva” faz parte do esforço conjunto da presidente da Associação do Moradores da Cidade Velha, Dulce Roque, amigos, colaboradores, do professor Oswaldo Coimbra, da UFPa - ministrante da aulas da oficina e editor do livro, e dos 19 alunos da Escola de Escritores.
Dona Dulce, 61, conta o desenvolvimento do trabalho com carinho e a sensação de dever cumprido. Segundo ela, ver a obra acabada, impressa, nas mãos dos leitores concretiza o sonho de ver preservada e retratada cada nuance da Cidade Velha. Na sala de sua casa, localizada em frente a Praça do Carmo(no bairro protagonista da obra, claro), Dulce Roque esmiuça o 'parto' que foi o livro.
“O projeto começou em maio de 2008, depois de uma palestra dada pelo professor Oswaldo no Fórum Landi, no mês anterior. Na época, ele falou sobre o desejo de montar um projeto que pudesse atender pessoas com talento e gosto pela escrita. Pedi a palavra e falei sobre a vontade de fazer algo que mostrasse a nossa Cidade Velha. Passamos, então, a conversar e pensar no projeto. Enfrentamos dificuldades, como falta de dinheiro para financiar o livro. Tivemos a ajuda de amigos e dos associados da Associação. Por isso, ver a obra em mãos, pronta, acabada é como um filho depois de nove meses de gestação e todas as dores do parto. Mas, fico muito satisfeita com o resultado”, afirma Dulce.
Os novos escritores, revelados pelo livro, vieram de uma seleção de 130 inscritos. No mês de junho, 20 vagas foram abertas e a qualidade dos textos acabou selecionado 37, dos quais só 19 ficaram até o fim. As aulas da oficina aconteciam todos os sábados do meses de julho, agosto e setembro, numa das salas da Casa da Linguagem, sob o comando de Oswaldo Coimbra.
Jornalista formado pela "escola das redações”, trabalhou por décadas na grande imprensa paulista. “Queria montar uma oficina que oferecesse condições a pessoas talentosas desenvolverem seu dom e terem espaço para mostrá-lo. Formar escritores de narrativas não-ficcionais, um gênero cada vez mais em voga na literatura. Aos poucos, alunos de outras oficinas entraram no projeto. Os de fotografia, desenho, pintura e xilogravura com as imagens e ilustrações da Cidade Velha. O livro se tornou um estímulo ao aparecimento de novos escritores, capazes de construir textos primorosos como os de Diego Sabádo, para mim o melhor artigo já feito sobre Ruy Barata”.
Serviço: O livro Cidade Velha, Cidade Viva pode ser adquirido no site da Associação da Cidade Velha pelo endereço eletrônico: www.civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com ou na rede Fox Vídeo Locadora.
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