Em hebraico, Simchá significa alegria. No Aurélio, a palavra está lá num júbilo de contentamento, que se apodera do corpo e alma, contaminando todos ao redor. Esse sentimento tão humano é o nome e estado de espírito da artista plástica paraense Alegria Gabbay.
Nome mais apropriado impossível. O pai, filho de judeus que vieram do Marrocos para a Amazônia, soube fazer escolhas. “Ele quis homenagear a minha avó materna”, diz. Alegria é daquelas mulheres em constante festa consigo e com os outros. Ela demonstra na fala expansiva, acompanhada por brincadeiras e sonoras gargalhadas. Gargalhadas de quem sorri para as coisas boas e ruins da vida. Risos de quem encontrou na alegria o melhor jeito para se viver.
“Dizem que faço jus ao nome. Agradeço sempre a Deus por ter a família que tenho. Isso é fundamental. Procuro estar sempre de bem, crescendo com as dificuldades, convivendo e respeitando as diferenças, valores que recebemos de nossos pais e tentamos passar para nossos filhos”, ressalta.
Casada, mãe de José, 28; Maluf, 26 e Bruno, 22 anos, Alegria vive cercada pela família. Os filhos moram todos com ela. “Opção deles”, destaca. Nascida em Belém, num lar de sete irmãos, criados entre as diversões da infância e a preservação das tradições, a artista se inspira nas heranças da cultura judaica para desenvolver seu trabalho. “Tenho um verdadeiro fascínio em pintar esse tema. A riqueza de detalhes e simbolismos favorecem”, afirma.
Formada em Letras pela UFPA, mãe, esposa e diretora de uma empresa de exportação, Alegria conseguiu ao longo dos anos conciliar essas várias mulheres com a artista plástica. Suas telas de temas religiosos, abstratos, entre outros enfoques já foram expostas em museus e galerias da capital paraense. “É possível se você aquilo gosta. Estou com o projeto de uma nova exposição ainda para este semestre”, adiante. Inspirada numa viagem a Israel feita ano passado, a exposição terá como tema “O oriente e suas nuances”. E sempre acompanhando a mãe, o filho Bruno. “Ele faz questão de documentar tudo”, diz
Pintar para Alegria representa prazer. Um momento de lazer nas horas vagas. Por isso ela nunca se interessou muito em mergulhar no assunto. Quando começou a traçar suas primeiras pinceladas, em 1976, o pai sempre dizia. “Você tem talento, você precisa estudar e desenvolver essa habilidade”. Mas a timidez falou mais alto e ela não foi. Nessa época, pintou três quadros de temática abstrata, hoje perdidos na memória. “Nem sei mais onde estão. Devem estar na casa de algum parente. Porque desde que comecei a pintar nunca comercializei, eu pintava e dava pra algum parente. Uns viam, gostavam, pediam, eu pintava. Mas nunca quis ter aquele compromisso”, conta.
O verdadeiro despertar para arte veio com a morte do pai, Maluf Gabbay, em 1985. Com três dias de trabalho, retratou seu Maluf. A homenagem póstuma inaugurava a figura humana na obra da artista. “Fiz sem conhecer o mínimo da técnica, nem sei como consegui. Hoje, com os conhecimentos adquiridos sobre o assunto, com os cursos que fiz, vejo um monte de defeito, mas preferi não retocá-lo, para manter a autenticidade”, explica.
Desde esse dia, não parou mais e com o tempo passou a fazer cursos, desenvolvendo variadas técnicas. “Já fiz técnica mista, nanquin sobre papel, acrilex sobre tela em seda e óleo sobre tela e algumas abstratas. Muitos trabalhos foram feitos, com ajuda e supervisão da querida professora, a artista plástica Cristina Monice. com que me reunia a um grupo pequeno de alunas, e passávamos as tardes mais divertidas e agradáveis, aprendendo com sua calma e habilidade para ensinar”, relembra.
A tinta óleo, no entanto, domina as preferências. “Ela é para vida toda. Já viajei muito, já tive oportunidade de ver técnicas com outros materiais, mas só a tinta óleo garante essa qualidade ao trabalho”. Hoje, Alegria Gabbay não pinta tanto quanto antes, mas ainda dedica as horas calmas da noite para o “hobby”. “Eu adquiri certa alergia a tinha óleo, pelo acumulo dos anos mesmo. E como eu só gosto da tinta óleo, não produzo muito. Quando pinto é no horário da noite, por ser mais tranquilo, em casa, no ateliê”, diz.
No clima de fraternidade e harmonia de seu recanto familiar, Gabbay absorve mais inspiração para as novas criações. Nesse mesmo ambiente, ela alimenta sua folia e crença na vida. “Sempre vai ter uma luz no fim do túnel. Mesmo com as adversidades, podemos crescer e acreditar que dias melhores virão”.
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