Coluna - A melhor profissão do mundo
Depois do Jornalismo e de uma redação de revista ou jornal (com seus prós e contras), os funcionários do Google(sim, o canal de busca que você pelo menos uma vez na vida acessou)trabalham num clima que muita gente clama todos os dias. Conheça como é a rotina de trabalho na maior empresa de busca da Internet, nesta reportagem da revista Época.
Fonte: Revista Época/Fotos: Ricardo Corrêa
Escritório da empresa em São Paulo
Cada funcionário do Google escolhe a melhor hora de chegar ao trabalho. A não ser que tenha algum compromisso agendado, pode organizar o dia como achar melhor. Muitos deles, mesmo assim, tomam café da manhã juntos na empresa, aproveitando a refeição gratuita e caprichada, com pães, frutas, sucos e iogurtes. Depois de satisfeito, cada funcionário começa a trabalhar, em sua mesa ou em qualquer outro lugar da empresa que ache melhor. Ele poderá interromper as atividades ao longo do dia para relaxar com uma partida de videogame ou um lanchinho, sempre gratuito. Quando concluir o que considera importante para o dia, irá embora – na hora que achar melhor. Esse ambiente livre pode até parecer natural e espontâneo, mas não é. Preservá-lo numa empresa produtiva, lucrativa e ambiciosa exige grandes doses de empenho e cuidado. Por esse esforço, o Google foi considerado, em 2010, o melhor lugar para trabalhar no Brasil, segundo a pesquisa anual GPTW (Great Place to Work), publicada com exclusividade por ÉPOCA.
Se você já acessou a internet, conhece o Google. Trata-se da empresa que criou o buscador mais popular do planeta e serviços como o Google Earth e o Google Translate. É dono do Orkut, do YouTube e do Gmail. Além de definir o jeito como usamos a rede hoje, o Google ajuda a difundir uma forma de trabalhar alternativa. Seu jeito descontraído e cheio de benefícios para o empregado conquistou o primeiro lugar na pesquisa GPTW nos Estados Unidos (publicada pela revista Fortune) em 2007 e 2008. No ano passado, concorrendo pela primeira vez na pesquisa brasileira, a empresa ficou num ótimo 15º lugar, entre 530 avaliadas. Agora deu um novo salto. Suas práticas chamam a atenção, mas não são coisa do outro mundo. Elas podem, pelo menos em tese, ser aplicadas por qualquer empresa, seja qual for seu tamanho ou setor de atuação. (Ouviram empresários locais? E donos de empresas de comunicação?)
No jeito Google de trabalhar, há uma parte mais famosa e divertida, facilmente visível na onipresença da tecnologia, nos jogos e na decoração juvenil. Pelo laboratório de programas de computador, em Belo Horizonte, e pelo escritório de administração e vendas, em São Paulo, os 200 funcionários podem transitar com seus computadores portáteis (um presente de admissão), conectar-se à internet sem fio e trabalhar sentados em sofás e pufes. Para saber o que ocorrerá numa sala de reunião ao longo do dia, basta ler o código pendurado ao lado da porta usando o smartphone (presente de Natal da empresa). Quem quiser relaxar pode receber uma sessão de massagem, disputar partidas de videogame, pebolim ou pingue-pongue, assistir a DVDs, ler revistas em quadrinhos ou descansar na rede (em quatro visitas ao Google, ÉPOCA não testemunhou nenhum jogo entusiasmado, mas encontrou vários grupos lanchando e uma soneca real). O calendário é cheio de festas – do bigode, do pijama, de Hollywood. Elas servem para comemorar datas especiais ou apenas para que os colegas se encontrem.
Funcionários em reunião de trabalho
Não é uma cultura ótima para todo mundo. Há quem se sinta melhor em ambientes mais regrados. Há quem associe essa cultura a um ideal de adolescentes do sexo masculino. Mas o Google consegue atrair o tipo de profissional que o atrai: jovial, colaborativo, com vida social intensa. Para ele, além do ambiente descontraído, há benefícios de gente grande.
Entre os destaques estão os planos de saúde e odontológico de alto padrão (com cobertura idêntica para todos os funcionários, incluindo os diretores), o auxílio-educação (de R$ 16 mil por ano, sem nenhuma obrigação posterior por parte do funcionário), a licença-paternidade ampliada (de quatro semanas) e o plano de previdência que permite retirada integral do valor acumulado após quatro anos na empresa (incluindo o aporte da empresa, igual ao do funcionário, até o limite de 12% do salário). Há também auxílio para academia e ioga (confira os detalhes no quadro ao lado). Os benefícios constroem um clima de bom humor. Mas há um propósito muito sério por trás disso tudo. “Procuramos pessoas que queiram se desenvolver e com senso de responsabilidade muito forte”, diz Mônica Santos, diretora de Recursos Humanos do Google para a América Latina. A afirmação pode soar deslocada entre salas de reunião com nomes como Bambolê, Atari e Playmobil, bandeiras de times de futebol e bichinhos coloridos nas mesas. Só que ela descreve muito bem as condições para que toda essa mordomia continue à disposição. A empresa pode, sim, deixar que o funcionário defina seus horários – contanto que ele seja rigoroso no cumprimento das tarefas. A empresa pode, sim, compartilhar informação com ele – contanto que ele zele seriamente pelo sigilo, tanto quanto qualquer alto executivo.
Esse relacionamento revela o que os funcionários mais apreciam na companhia, para além dos benefícios e da descontração: a autonomia individual, a circulação livre da informação e a liberdade de comunicação e debate, independentemente de hierarquia. São pontos centrais de uma cultura definida há 12 anos pelos fundadores da companhia, Sergei Brin e Larry Page, então estudantes da Universidade Stanford. Ela é insistentemente difundida entre os mais de 10 mil funcionários que trabalham em 70 escritórios e dezenas de laboratórios do Google espalhados pelo mundo. ÉPOCA conversou com 18 funcionários em São Paulo, Belo Horizonte e Mountain View, na Califórnia, além de diretores, e todos destacaram essa cultura como valiosíssima. “Aqui, é preciso desaprender e aprender a trabalhar de novo”, diz Alexandre Hohagen, diretor-geral para a América Latina. “Importa menos seu cargo e mais sua capacidade de colaborar, convencer, influenciar, organizar uma rede. A hierarquia tem seu valor, mas ele é menor.”
A forma de lidar com as tarefas e os colegas baseada em altas doses de autonomia e de responsabilidade individual ao mesmo tempo não nasceu com o Google. Ela começou a se desenhar nos departamentos de pesquisa de empresas e do governo americano durante a corrida espacial e armamentista. Naquele momento, já se começava a confiar na viabilidade de reunir indivíduos especialmente criativos e inteligentes, dar a eles uma missão clara, metas técnicas difíceis e deixar que, para cumpri-las, eles se organizassem da maneira mais livre possível. A versão Google dessa filosofia chegou ao Brasil em 2005, quando foi aberta a filial nacional.
Partida de ping-pong ao lado do diretor-geral na América Latina, Alexandre Hohagen. A informalidade é uma exigência para todos os coordenadores.
O poder da sedução
Saúde
A companhia oferece reembolsos de R$ 374 por consulta com médico fora do plano de saúde, R$ 145 para participar de grupos de caminhada, R$ 140 para aulas de pilates no escritório e R$ 100 para academia. É possível também fazer sessões de drenagem linfática por R$ 25 e de massagem por R$ 5 a R$ 10. Quem completa 30, 35, 38 e 40 anos ganha checkup grátis.
Tecnologia
Cada funcionário ganha R$ 112 como ajuda de custo para pagar a mensalidade da internet em casa. Ao ser admitido, o novato ganha um notebook da marca que escolher. No trabalho, incentivam-se todas as formas de comunicação, por texto, voz e vídeo. No Natal de 2009, toda a equipe ganhou smartphones equipados com o sistema operacional Android, do Google.
Indicações
O processo de seleção demora dois meses e é rígido. A empresa incentiva cada funcionário a indicar conhecidos. Se ele for contratado, quem fez a recomendação ganha R$ 5 mil. Mais da metade das contratações é feita com base em sugestões da equipe.
Brinquedos
O novato recebe em casa um kit de boas-vindas, com camiseta, boné e autorização para gastar R$ 100 na decoração da baia. Ele tem ainda R$ 250 para gastar na loja virtual da empresa, na compra de blusões, mochilas, cubos mágicos e camisetas.
Festas
O Google é uma empresa festeira. Um Comitê de Cultura e um comitê de diversão se encarregam de propor atividades diversas. Há noites de cinema, festas tradicionais e temáticas (como a Festa do Pijama). Em Belo Horizonte, as sextas-feiras são dias de happy hour dentro da empresa, como é tradição no Google ao redor do mundo. Em São Paulo, a festa ocorre às quintas.
Bônus
O Google tem bons salários fixos, opções de ações e forte cultura de remuneração variável. Além do bônus normal, baseado em metas, ganham-se prêmios por indicação de colegas do mesmo nível (o Peer Bônus, de R$ 200) e por recomendação proposta pelo chefe imediado (o Spot Bônus, de R$ 550 a R$ 28 mil). Há também premiações para os coordenadores e condecorações simbólicas.
E aí? Ficou com vontade de ser um funcionário do Google? Antes, termine de ler a matéria, você precisa saber alguns detalhes. Leia mais aqui: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI164680-16165-2,00-O+JEITO+GOOGLE.html
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