Yorranna Oliveira

Achei a imagem aí de cima pesquisando no Google. E ela define perfeitamente um pouco do que eu sou e da proposta do blog: tem de tudo um pouco, e um pouco de quase tudo o que gosto. Aqui você vai encontrar sempre um papo sobre música, cinema, comunicação, literatura, jornalismo, meio ambiente, tecnologia e qualquer outra coisa capaz de me despertar algo e a vontade de compartilhar com vocês. Entrem e divirtam-se!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

A história escrita na pele


Foto: Divulagação

O corpo transmite as marcas cravadas pela vida. Ele retem em sua memória fragmentos de cada tragédia e alegria vividas. No corpo feminino esses elementos escancaram-se, por meio de uma sensibilidade à flor da pele. Percepção captada nas 18 imagens da exposição fotográfica “Mulheres”, aberta ao público no Instituto de Ciências da Arte (ICA), na Praça da República.

Inaugurada na última quarta-feira (18), “Mulheres” é o primeiro trabalho solo da fotógrafa paraense Tanha Gomes. Tanha mora há mais de 10 anos em Montreal, no Canadá, mas sempre retorna à terra natal. Numa das passagens por Belém participou das oficinas fotográficas da Associação Fotoativa e se encantou pela arte. Formada em Cinema e Comunicação no colégio de Dawson, Monteral, ela atualmente estuda História da Arte e Fotografia, na Faculdade de Belas Artes na Universidade de Concórdia, Canadá. Conhecimentos teóricos que lhe ajudaram a compor uma “fotografia instauradora” como define o poeta, escritor e professor de Estética, História da Arte e Cultura Amazônica da UfPa, João de Jesus Paes Loureiro.

A fotografia praticada por Tanha exibe a experiência da artista de 26 anos. Nas imagens o observador se depara com as visões de mundo, o conhecimento acumulado, os ideais, e principalmente com papel da mulher ao longo do tempo na poética apresentada pela artista.

“Mulheres” foi dividida em dois momentos. Num deles, integrando 10 fotos, Gomes mostra o lado feminino desnudo, transparente, visível e aberto aos olhos do espectador. Tanha permite a pronta leitura dos símbolos presentes nas fotos. Cada corpo revela traços de vidas nos mapas “tatuados” na pele. O primeiro impacto da imagem título da exposição, retrata um ser violentado pela condição histórica de inferioridade. O mapa que se forma no rosto da modelo transmuta-se em machucados, como se descrevessem ao visitante o resultado do eterno espancamento feminino. Nas oito imagens restantes, as mulheres tornam-se “invisíveis”, fechadas e enclausuradas nas prisões socais. Uma sensação de sufocamento e claustrofobia impregna o lugar. As mulheres dos quadros lutam pela fuga e libertação dessa condição. As cores fortes do vermelho, laranja, rosa choque e azul usados no ensaio fotográfico quase saltam à tela. Como se através das imagens gritassem por socorro.

Sob o foco da lente de Tanha perpassam suas reflexões da existência humana, as diferenças culturais entre Canadá e Brasil. Entre o homem e a mulher, entre os seres em si. “Busquei nessa diferença cultural as manifestações de preconceito que é muito forte no Canadá. A forma como a mulher vem sendo tratada desde os primórdios da humanidade. Não importa o lugar, ele sempre existe. Fui na mulher, porque essa é a minha condição, então eu posso falar. Os mapas também representam os locais que passei, minhas viagens, minha experiência acumulada para falar sobre a minha forma de pensar sobre a condição da mulher ontem e hoje”, explica.

Sempre ligada à cidade, Tanha Gomes não pensou duas vezes quando surgiu a oportunidade de voltar a capital paraense. “Tenho uma relação muito forte com Belém. Ela tem participação intensa no meu trabalho, na minha inspiração, em tudo. Toda vez que posso estar aqui, venho. Dessa vez queria trazer algo meu pra cá”, diz.

“Mulheres” fica em exposição até 6 de janeiro. Logo após Gomes retorna ao Canadá, onde pretende continuar seus clics e exibir o atual o trabalho. Iniciado em 2007, depois de muitos instantes captados Tanha pôs fim nessa etapa e resolveu seguir adiante na montagem do trabalho. “Em meados de setembro e outubro desse ano achei que já estava na hora de partir para outra coisa. Por isso precisava terminar. Escolhi só duas modelos, porque achei suficiente para representar o que eu queria. Inclusive uma delas é uma grande amiga minha. Ela entendeu perfeitamente a idéia, a mensagem a ser passada, e isso é fundamental”, ressalta.

Construída por ligações e amizades, a mostra traduz a relação intimista entre Tanha, Belém e seus laços com a região e os moradores daqui. Relação passada, por exemplo, no texto elaborado por João de Jesus Paes Loureiro para a obra da artista. “Sou amiga e fã do Paes Loureiro há muito tempo. Fiquei feliz em saber que ele escreveria o texto para a exposição. A curadoria foi feita pela Margaret Refkalefsky que trabalha no Instituto de Ciências da Arte e pelo Cézar Machado, arquiteto, ambos atores e diretores de teatro. Já a iluminação foi realizada pela professora Iara Souza, da Escola de Teatro da UFPA”, destaca Tanha Gomes.

Desde o começo da mostra 180 pessoas conferiram o trabalho da fotógrafa. Gente do Brasil e do exterior deixaram suas impressões e elogios à exposição. Frases como “é de uma delicadeza comovente” encontram-se no livro de registros do lugar. A Espanha registrou sua opinião. Um turista espanhol resumia Mulheres com a seguinte palavra: “Fantástica!”.

Serviço: Exposição “Mulheres”, de Tanha Gomes. Aberta de terça a domingo. Entrada franca.

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