Desde menina, a atriz e escritora Maíra Monteiro, 37 anos, já dava indícios do que faria pelo resto da vida. As bonecas da infância serviam de plateia para as histórias encenadas por ela. A pequena interpretava todos os personagens das novelas e filmes da televisão e do cinema. Eram os primeiros passos da paraense para uma carreira de lutas, desafios, conquistas e realizações.
"Eu era bem eclética. Fazia a bruxa, a fada, vilã, mocinha, tudo. Pegava as bonecas e fazia uma espécie de teatro arena. E ali eu ficava falando, dançando, gesticulando. As pessoas pensavam que estava ficando louca. O engraçado é que tudo sempre foi muito instintivo. Ninguém me induzia a montar um 'espetáculo' e interpretar. Costumo dizer que isso nasceu comigo, algo que vem de vidas passadas, só pode!", conta Maíra.
O contato com os palcos começou cedo. Aos cinco anos de idade, ela atuou pela primeira vez na igreja frequentada pela família. "A peça se chamava 'Estrelinha de Natal', um monólogo composto por um texto enorme, que decorei todinho. Ai pronto, as pessoas ficaram encantadas com minha performance e começaram a dizer que eu seria artista", relembra a atriz.
A previsão se concretizou e ao longo de 16 anos de carreira Maíra acumula mais de 40 comerciais publicitários, 15 espetáculos teatrais, uma participação na novela As Filhas da Mãe, da Rede Globo, dois longa-metragens e três curtas. E há cinco anos, já atua profissionalmente. Desde 2006, ela faz parte da Companhia do Sarau, um grupo de teatro empresa, onde os atores encenam os textos da literatura brasileira nos mais diferentes espaços. Para este ano, estará novamente em cartaz com a montagem "Encantamentos", num misto de cinema, teatro, música e literatura. Baseada na obra de Waldemar Henrique, a peça volta a cena em maio, tratando a temática da preservação do meio ambiente, através das lendas amazônicas.
As penas do ofício
Apesar do amor pela profissão escolhida, Maíra Monteiro destaca as dificuldades de se fazer arte em Belém. E confessa o incômodo com o tratamento destinado à atividade. "Não temos um leque de possibilidades em Belém. Não se ganha dinheiro com teatro no Brasil, principalmente no Pará, onde o artista não tem incentivo, e quando tem não consegue executar seu projeto artístico por falta de patrocínio do empresariado, que aqui é retrogrado e tem receio de apoiar as manifestações da arte. Eu sempre digo que estamos a anos luz atrasados na questão da arte. Ser artista em Belém é matar um leão por dia", opina.
Mesmo diante das amarras, Maíra persiste no caminho dos palcos. Tanto que sempre investiu em cursos e oficinas para enriquecer e aprimorar seu trabalho. "Fiz curso de canto, expressão corporal e outros aqui e fora da cidade. No Rio de Janeiro participei de um curso de nove meses com Amir Hadad. Em São Paulo fiquei quatro meses sob os ensinamentos do Cacá Carvalho. Aprendi muuuito com essas experiências", acrescenta.
Ao passear pelas diversas áreas de atuação, Monteiro se sente uma atriz privilegiada. Cinema, televisão, teatro, em todas Maíra trabalhou. Mas nada comparado ao prazer dos palcos, seu o lugar predileto. "Poderia falar o dia inteiro do meu fascínio pelo teatro, a magia que ele proporciona. No teatro você recebe o calor do público de forma imediata, olho no olho e sabe se ele gosta ou não do que você faz. Não aquela coisa fria e sem troca imediata da câmera", compara.
Intensa, a atriz se entregue completamente à profissão. Na arte da interpretação mergulhar de cabeça no universo dos personagens é lei. Para isso, ela se utiliza do Método Stanislavsky (criação de personagem com passado, presente e futuro). "Acho a forma mais plena de interpretação, porque você precisa saber a hora de recebê-lo e acreditar na existência dele. Costumo observar muito, o bom ator para minha tem que observar para pegar um olhar, o sotaque da fala, o andar. Na observação você constrói o personagem. Por isso que gosta do drama, por exigir uma doação maior e o personagem ganha mais veracidade com isso", explica Maíra Monteiro.
Experiências
Em 2007, durante as gravações em Castanhal, no Pará do longa "Andar às Vozes", de Eliane Caffé, a atriz viveu um dos grandes momentos da carreira. Para dar vida à pescadora Divina, Maíra precisou fazer 20 sessões de bronzeamento artificial, até ai sem problema. Afinal, os sacrifícios fazem parte do roteiro. Das cerca de seis cenas, somente em uma Monteiro aparece vestida. Amante do personagem de Chico Dias, Divina estará na telona em tórridas cenas de sexo.
"Nossa foi muito difícil fazer, contei muito com ajuda de Chico para conseguir. Para ele foi difícil, para o ator fazer cenas assim sempre são desconfortáveis, porque você precisa mostrar que é algo real sem de fato ser. Quando a diretora disse que o tapa-sexo estava aparecendo e teríamos que tirar foi um sufoco. Mas conseguimos, até hoje nos falamos, viramos grandes amigos. Foi uma grande experiência esse desafio para mim", diz Maíra.
Literatura
Apaixonada por livros, Maíra Monteiro adora ler e escrever. Com dois livros inéditos e a espera de publicação, ela já planeja começar a escrever em 2009 seu novo título sobre A saga dos portugueses em busca do Eldorado. O ritmo de pesquisas já avançou bastante e Monteiro ainda luta pela publicação de O desconhecido e A possuída, que lhe valeram meses de pesquisa e muita dedicação para chegar ao resultado final.
"A possuída narra a história de uma mulher acusada de bruxaria, injustamente. Comecei a pesquisa em 2001 e só em 2003 acabei o livro. Fui atrás de livros raríssimos sobre o Manual da Inquisição e outros, só possíveis em sebo, mas com muito suor consegui. Quero muito poder publicar meus livros, não vou desistir", afirma.
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