Yorranna Oliveira

Achei a imagem aí de cima pesquisando no Google. E ela define perfeitamente um pouco do que eu sou e da proposta do blog: tem de tudo um pouco, e um pouco de quase tudo o que gosto. Aqui você vai encontrar sempre um papo sobre música, cinema, comunicação, literatura, jornalismo, meio ambiente, tecnologia e qualquer outra coisa capaz de me despertar algo e a vontade de compartilhar com vocês. Entrem e divirtam-se!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Um refúgio na história de Belém

Quando a arquiteta e artista plástica, Dina Oliveira, folheava o jornal à procura de um local para montar seu atelier, o endereço ao lado do Palacete Pinho, na Cidade Velha lhe chamou atenção. Curiosa, ela resolveu visitar o número 560 da rua Dr. Assis, entre Tamandaré e Alenquer. Apesar da decadência estampada, Dina não teve dúvidas: aquele lugar seria mais do que um simples espaço de trabalho, mas também sua eterna morada.

O olhar sensível captou a necessidade de preservar a memória do patrimônio cultural depreciado. Além de perceber as belezas escondidas por trás dos escombros. “Eu me apaixonei quando vi, e me imperava uma vontade enorme de fazer alguma coisa para impedir que esse pedaço da história desaparecesse. Foi um ato político de contribuição ao significado do prédio para Belém e seus moradores”, afirma Dina.

Sem portas, janelas, piso. No mais completo abandono, a casa passou por um verdadeiro ressurgimento. Dina Oliveira restaurou cada detalhe da obra. Um trabalho delicado que levou quase cinco anos para ficar pronto. “Preservei tudo o que encontrei. Restarei a partir de resíduos da própria arquitetura local, foi uma espécie de colagem. Eu saí catando materiais como azulejos, portas de casa que eram derrubadas, até mesmo por uma questão econômica. Não comprei muita coisa para finalizá-la, praticamente tudo veio de restos de materiais encontrados, trocados ao longo do caminho”, explica.

Com cerca de 10 compartimentos, a residência faz o visitante viajar no tempo. Grandes janelas – típicas das construções da época -, azulejos portugueses, rodapés e salas amplas se combinam à decoração de objetos singelos como um balcão e uma vitrine da loja Paris N’América transformados em mesa e estante. O refúgio de Dina respira a personalidade da dona. Quase todos os móveis vêm de algum lugar onde foram relegados ao abandono por falta de utilidade.

“Achei esse mesinha na Praça da República, estava lá jogada. Peguei limpei, remendei. Não gosto de desperdício, adoro reciclar coisas e transforma-las em objetos úteis e bonitos. E nem posso falar numa decoração aqui. A casa é tão significativa que não precisa de muita coisa. Ela aparece por si só”, afirma.

Os janelões até o teto convidam o visitante ao passado, mas sem deixá-lo esquecer do presente. Na elegante biblioteca, a parede em tijolo piano sempre há um elemento moderno para lembrar o século XXI. Pode ser uma caneta, um telefone, qualquer coisa. Assim como a existência de uma garagem ou as janelas gradeadas, que remetem à insegurança e aprisionamento dos tempos modernos.

“Gosto muito de morar aqui, o silêncio maravilhoso para me concentrar no meu trabalho, o canto dos pássaros de manhã cedo, o contato com o universo ribeirinho logo aqui. Na rua de trás posso ver o rio, os vendedores de frutas, as embarcações, é muito prazeroso. Por outro lado a gente se sente isolado do resto da cidade, parece que estou em outro mundo”, ressalta Dina.

Mas nada tira o prazer da artista plástica ao acordar pela manhã e se deparar com a vida presente no jardim interior de sua casa. Depois do atelier, os locais com perspectivas para o jardim são os preferidos. “Há quase 15 anos moro aqui e ver todos os dias o verde e as flores do meu jardim antes de pintar é uma sensação ótima, um fonte de inspiração para minha arte abstrata”, destaca.

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