Coluna Diário de Bordo - referente aos dias 17 e 18 de outubro
Fotos: Yorranna Oliveira
Rio Xingu
A saudade começa a me entristecer. Na sacada do Hotel Mirante do Porto, onde ficamos hospedados, olho para o Rio Xingu. Ele realmente impressiona. Vejo os ribeirinhos desbravando o rio em barquinhos, rabetas, voadeiras, cascos, barcos de grande porte.
Do Hotel é possível ter uma visão de quase todo o município de Porto de Moz.
Enquanto escrevo, observo o movimento no trapiche principal. Um navio da Marinha do Brasil aportou na cidade desde sexta-feira passada, 15 de outubro. Todo ano, de acordo com os moradores, ele atraca no porto local, trazendo serviços gratuitos para a população. Atendimento médico, como os de clínica geral e odontologia, emissão de CPF, entre outras coisas mais.
Vista do Hotel para o trapiche principal da cidade
Chegamos (eu e o cinegrafista Árniton) em Porto de Moz no domingo, por volta das 8h da manhã, depois de 36 horas de viagem na balsa Gabriela. A Gabriela saiu porto Maturu, em Belém do Pará, às 19 horas (era para ter saído às 18h). Nem preciso dizer que o cansaço nos consumia. Mesmo assim, Árniton não perdeu a oportunidade de fazer imagens do momento. Fomos para o Hotel a pé. Um carreteiro levou as bagagens e nossos equipamentos. Pagamos 10 reais pela ‘corrida’. Deixamos nossas bagagens nos quartos, em terra firme ficamos em cômodos separados, já não era sem tempo. Aproveito para tomar um banho, checar nosso itinerário nos próximos dias pela Reserva Extrativista Verde Para Sempre, ajustar o roteiro com as informações colhidas no caminho pelos rios da Amazônia.
Vou ao cyber ler meus emails, dois dias sem acesso à internet, pense num caixa de entrada abarrotada de mensagens. Mando recado para a família, para o povo de Bel City e atualizo meu blog. Não consegui publicar fotos. Consegui o feito de inutilizar o cartão de memória de minha câmera digital, nenhum computador lia o cartão e a câmera acusava erro de formatação. Fiquei frustrada. Afinal, instantes nunca são iguais, como as do casal de senhores Maria de Nazaré e Pedro Luciano, de 66e 73 anos. Eles tiveram 14 filhos, oito morreram de doenças ou nasceram mortos, só conseguiram criar seis. Não me conformo em não poder ilustrar a história deles, enquanto conversavam na beira da balsa Gabriela, com o rio Pará ao fundo.
Na hora do almoço comemos na Churrascaria do Irmão. O local serve um delicioso suco de manga, feito na hora. O puro sabor da fruta, rsrsrs (parece frase de comercial de tevê).
Depois do almoço, Árnitom rodou pela cidade e foi parar na praia da localidade, a Chácara, em julho a praia vira palco do Fest Sol, o festival de verão de Porto Moz. É um dos eventos que agitam os moradores, vem gente até de outras paragens e municípios próximos. No dia seguinte, ele me conta que viu a diversão feita pelos marinheiros na praia, quá. Como se as esposas não conhecessem seus maridos.
Um pedaço do comércio visto do alto
Hoje de manhã comprei um novo cartão de memória. Não perderei nem uma foto dessa vez. Tiro fotos da cidade, lá do alto do Mirante do Porto. Desço para observar a manhã na lugar. Encontro a Raimunda Renilda com uma das filhas. Conheci Renilda na balsa e ela me cobra a visita prometida a sua casa. Ela me convida para ir até ao Feirão do Porto, uma espécie de Feira da Marambaia (de Belém do Pará) em Porto de Moz. Raimunda queria comer acari na Feira, peixe bastante apreciado no Pará. Minha mãe, aliás, adora.
Igreja Matriz São Brás
Raimunda vai contando e apontando os detalhes bons e ruins da cidade. Há quatro anos ela não vinha ao município, vai passar alguns dias e voltar para a Bahia, onde mora com a filha do primeiro casamento e o atual marido baiano. “Nos conhecemos na Praia do Caripi, em Barcarena”, relembra. Renilda fala com todo mundo no trajeto. Amigos, parentes, conhecidos. Ela diz que devo conhecer o bairro da Beata, um dos cinco bairros de Porto de Moz, e um dos mais pobre e violento, segundo Raimunda. “Tipo um Jurunas [em Belém do Pará]”, compara.
Praça São Brás
Fotografo a Igreja Matriz São Brás e a praça em frente, de mesmo nome. São Brás é o santo protetor dos navegantes. Aliás, é semana de festividade do santo em Porto de Moz, iniciada ontem.
Um dos trapiches de Porto de Moz
Vou tirando fotos dos barcos ao longo da orla e guardando na memória as impressões da cidade. A outra parte da equipe deve desembarcar por aqui ainda hoje, vinda do município de Vitória do Xingu, num trajeto feito por ar (de avião de Belém a Altamira), terra (de carro até Vitória) e água (de lancha até Porto) desde Belém do Pará. Faremos imagens e entrevistas por aqui. E no início da noite vamos para a comunidade de Cuieiras, na Resex Verde Para Sempre.
5 comentários:
Cara, confesso que deu inveja. Queria está por aí. Bjus, abraços e boa sorte.
yorranna,
seja bem vinda a porto de moz, espero que a sua materia seja de grande importancia para mostrar as dificuldades dos ribeirinhos que moram na reserva verde para sempre os programas federais prometidos para o nosso povo nunca chegou e passamos muitas dificuldades e necessidades, tem muita gente na resex passando até fome por falta de politicas publicas...queremos saude e educação e um melhor assistencilismo pelo governo que nos esqueceu!
clebernilson abreu
Desejo que sejas mais uma guerreira na luta em defesa do rio XINGU, é o rio mais lindo que já vi em toda minha vida, e olha que conheço vários, da amazonia, todos.
Vamos dizer não a BELO MONSTRO em favor do rio, dos indigenas, dos ribeirinhos, das plantas, dos animais, da vida.........
Tenhos fotos belíssimas, do período qem que vivi em Porto de Moz, gostaria de compartilha-las com alquem...
Yorrana, estou indo para o Xingu sábado, a trabalho, não estou conseguindo falar com o Mirante do Porto, ligo e ninguém atende vc em contatos deles via email, etc
chegaremos lá a partir de 23 de maio, em 3 pessoas.
pode me enviar dica: alexaferreira@yahoo.com.br
gracias
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